Indústria retoma planos para crescer

Previsão da Fiespe é que emprego aumente 6,2% (superior à queda de 4,7% em 2009), e a formação bruta de capital fixo cresça 19,6% em 2010, compensando a baixa de 14,6% registrada este ano.

A indústria brasileira tem um duplo papel na construção de um ciclo virtuoso de crescimento que o país deve experimentar a partir de 2010. Poderá contribuir para a dinamização da demanda doméstica, através da expansão do consumo e do investimento, e tem o desafio de investir para ampliar a sua própria capacidade de produção e inovação, modernizar suas plantas, agregar valor e consolidar empresas e grupos econômicos.

Depois de uma fase de retração por conta da crise financeira internacional, as expectativas de uma nova trajetória de crescimento econômico não são puramente exercícios teóricos. Segundo o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o valor dos investimentos de projetos firmes na economia brasileira previstos para o período 2009-2012 deve atingir US$ 730,7 bilhões, um aumento de 7,5% sobre o volume de investimento realizado na indústria no período de 2005 a 2008.

Além de dinamizar a demanda doméstica, esses investimentos, de acordo com os estudos do Projeto PIB, devem ter forte impacto sobre a indústria brasileira. Só para a área de infraestrutura de energia e transporte estão previstos investimentos da ordem de US$ 570 bilhões, o que representará crescente demanda por bens industriais, sobretudo produtos de metalurgia de ferrosos e não ferrosos, bens de capital e de cimento e materiais de construção.

Os sinais de que esse cenário deve realmente se efetivar são cada vez mais fortes. Por exemplo, a utilização da capacidade instalada da indústria de transformação brasileira, em outubro, de acordo com levantamento da Confederação Nacional da Indústria (CNI), divulgada no início de dezembro, alcançou 80,5% (livre de influências sazonais e de calendário), o maior patamar do ano. Segundo a CNI, isso mostra que o setor industrial mantém a trajetória de recuperação sustentável e o crescimento do nível de uso da capacidade reflete a retomada do aumento das horas trabalhadas, sem representar perspectiva de pressões inflacionárias.

 “O investimento volta à pauta dos empresários”, diz Marcelo de Ávila, economista da CNI. “Esse é um cenário positivo para a indústria e indica que o quadro vai prosseguir em 2010”, adianta ele.

A indústria eletroeletrônica, responsável por um faturamento de R$ 112,2 bilhões em 2009, também aposta no investimento como forma de ampliar sua produção e melhoria da capacidade instalada, em 2010.

 Segundo dados da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), os investimentos para o próximo ano deverão chegar a 4% do faturamento (estimado em R$ 124,9 bilhões), o que significa um aumento de 20% em relação a 2009. “São recursos que serão aplicados dentro da própria indústria eletroeletrônica para aumentar sua capacidade de modo a atender o crescimento da demanda interna. Os investimentos em infraestrutura e telecomunicações deverão crescer muito, devido à realização da Copa do Mundo de 2014 e das Olimpíadas de 2016”, explica Humberto Barbato, presidente da Abinee.

Outro setor promissor para a indústria eletroeletrônica, segundo o executivo, é o de petróleo e gás, que representa cerca de 30% do faturamento das empresas associadas da Abinee. “Queremos participar de, pelo menos, 10% dos projetos da Petrobras até 2013, ou seja, de algo em torno de US$ 170 bilhões”, diz Barbato. Nada de surpreendente nesse interesse, indica ele. “A indústria eletroeletrônica tem que andar na frente do crescimento do PIB. Não podemos fazer investimentos atrás do restante da indústria. Queremos apoiar as empresas que desejam aumentar sua capacidade instalada. Temos que estar à frente dos demais setores da economia para atender essa demanda”, afirma.

A Fiesp confia na recuperação do desempenho industrial a partir do próximo ano, observa Coelho. A previsão da entidade é que a produção industrial avance 12% em 2009, o emprego aumente 6,2% (superior à queda de 4,7% em 2009), e a formação bruta de capital fixo cresça 19,6% em 2010, compensando a baixa de 14,6% registrada este ano.

Mas essa trajetória de crescimento não está livre de obstáculos. Somando-se à questão cambial, há o custo de capital. “Além de termos uma taxa de juros muito alta, o spread bancário brasileiro é muito acima do que é praticado em outros países competidores. Chega a ser 5% acima da média de 40% registrada na economia mundial. Para investir, uma empresa precisa tomar dinheiro no mercado de capitais e aplicar em máquinas, equipamentos ou em infraestrutura. Esse custo não oferece qualquer atratividade”, diz Coelho. Por fim, indica o diretor da Fiesp, tem um terceiro complicador, que é a tributação brasileira. “É uma carga tributária muito elevada”, afirma.

Do Valor Econômico