Indústria se aproveita da crise para promover ajustes salariais
A opinião é do economista do Dieese Jardim Leal, que acusa os empresários de continuarem a demitir mesmo com recuperação da demanda
Demissões na indústria automobilística e de bens de capital em São Paulo e Minas Gerais contribuíram para a redução do nível de emprego em maio, que caiu 0,5% em relação a abril (oitava queda consecutiva) e 6% na comparação com mesmo mês do ano passado.
Em 2009, o emprego na indústria acumula queda de 4,7% e, em 12 meses, redução de 1,1%. Para o economista Jardel Leal, do Dieese, a indústria está se aproveitando da crise para promover um ajuste nos custos salariais e para rever margens de lucro.
“A crise oferece oportunidade para essa rearrumação, que deve alterar a relação capital-trabalho, em função da demanda e da adoção de novas tecnologias. A indústria está aproveitando a crise para fazer recomposição. Para manter as margens de lucro, usam a questão da ameaça do desemprego”, critica, lembrando que normalmente os empresários brasileiros se apropriam dos ganhos de produtividade, o que também pode estar provocando efeitos agora.
Segundo Leal, a indústria, sobretudo a exportadora, “puxou o freio de mão” e deve ficar assim até que as coisas se arrumem.
“Uma parcela da atividade industrial é fornecedora de insumos a exportadores e, com a crise, acaba usando as melhores condições de uso da força de trabalho. Agora mesmo dizem que a redução da jornada de trabalho vai aumentar custos”.
Para o economista do Dieese, existe sempre um estoque e uma capacidade ociosa planejados. “Quando o estoque baixa a tendência é que haja uma reposição. Em algum momento vão repor estoques, mas a capacidade ociosa permanecerá se não houver demanda. Tudo vai depender, também, da capacidade de reconversão da produção do mercado externo para o interno”, resumiu.
Da Agência Diap