Indústria teme ‘efeito colateral’ das tarifas dos EUA

Guerra comercial de Trump tende a provocar impactos indiretos em vários setores no Brasil

A indústria brasileira ainda busca maior clareza para conseguir calcular o real impacto da guerra comercial iniciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. A única certeza, pelo menos até ontem, é a tarifa de 10% sobre todos os produtos exportados pelo Brasil para os americanos que entrou em vigor no sábado (5). O vai e vem de anúncios e recuos do republicano e o acirramento da disputa com a China acabam criando um ambiente de muita incerteza.

Na tarde da quinta-feira (10), o presidente subiu novamente a tarifa de importação para os produtos chineses, agora de 145%. O maior temor, neste momento, não é tanto quanto aos 10%, mas sim sobre os efeitos colaterais das medidas de Trump sobre o comércio internacional, como uma possível recessão global; o câmbio incerto; o sobe e desce das commodities; a sobreoferta de produtos chineses deslocados para outros mercados; e como ficará o México, importante parceiro para vários setores.

Representante das montadoras instaladas no Brasil, a Anfavea alerta sobre como o México vai reagir para manter sua indústria automotiva operando. “Uma vez que haverá uma queda nas exportações do México para os EUA, o México vai mandar produtos para onde? Para os países com os quais ele tem acordos de bitributação ou tarifa zero, como é o caso do Brasil”, disse o presidente da entidade, Márcio de Lima Leite, durante apresentação dos dados do primeiro trimestre de 2025 na terça-feira (8). O México exporta 76% da produção para os Estados Unidos.

A busca das montadoras instaladas no México por novos mercados pode frear a exportação de veículos brasileiros, que cresceu 40,6% no primeiro trimestre. Além disso, nesse cenário, os investimentos realizados pelo setor no Brasil e na Argentina podem ser reprogramados para acomodar a capacidade ociosa que vai se formar no México.

Do Valor Econômico