Indústrias da região perdem 10 mil postos em agosto
As indústrias da região demitiram, em agosto, 10 mil trabalhadores. Em julho, o total de ocupados no setor era de 344 mil pessoas, enquanto que no mês passado, o contingente baixou para 334 mil. Na comparação com agosto de 2010, a redução é de 34 mil profissionais.
Os dados integram a Pesquisa de Emprego e Desemprego do Seade/Dieese, divulgada ontem no Consórcio Intermunicipal do Grande ABC. O levantamento é feito por meio de entrevista domicilar e considera tanto os profissionais com registro em carteira como os informais e autônomos.
O que pode explicar o controverso cenário, que deveria registrar aumento das contratações para atender à demanda de fim de ano do comércio, é a instabilidade das economias internacionais, com países da Europa e os Estados Unidos beirando a recessão e, portanto, comprando quantidade menor de produtos brasileiros, somado ao fato de o mercado interno ter juros altos, inflação indomável e dólar desvalorizado – o que contribui à enxurrada de itens importados, principalmente os asiáticos, de origem chinesa.
Tudo isso deixa as indústrias brasileiras em clima de insegurança. Sem grandes investimentos e com altos estoques nas companhias – já que as medidas de contenção de crédito surtiram efeito e o consumo diminuiu – as indústrias, intensificam as demissões. E essa realidade é ainda mais presente na rotina das empresas que integram a cadeia automotiva.
De acordo com o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André, Cícero Firmino da Silva, o Martinha, em agosto a média de dispensas é um pouco maior que nos outros meses por anteceder em 60 dias a data-base do setor de autopeças, em novembro. “A lei não permite que se mande embora um funcionário nesse período, quando está para sair o dissídio.” Houve 440 demissões em Mauá e Santo André, mas o número deve chegar a 600 porque só faz homologação quem tem mais de um ano de empresa, estima ele.
“As autopeças são muito prejudicadas com essa situação, pois as montadoras, se ficam com estoque alto ou conseguem comprar mais barato por conta dos chineses, simplesmente dizem que não querem as peças. E o pequeno empresário também forma um estoque, mas como ele não tem como manter o efetivo (as fabricantes concedem férias coletivas para pausar a produção), acaba demitindo. Sem contar que as empresas relatam que em caso de recall, as montadoras não pagam pelas peças novas”, explica. “Muitas vezes elas pedem um preço menor e, se a autopeça não consegue fazer, ameaçam importar.”
O problema é que quando o governo federal sobretaxa alguns produtos, visando dificultar sua entrada no País e incentivar a indústria local, dá-se um jeito de trazê-los por meio da prática de triangulação, em que se muda a origem do item ou deixa para montá-lo em outro País, geralmente do Mercosul. Assim, ele entra no Brasil sem sofrer a alta tributação.
A Ferkoda, fabricante de peças para ar-condicionado de veículos e de queimadores para fogões de Mauá, já perdeu 5% de sua carteira para os chineses. “A sorte é que 75% da nossa receita provêm do setor de eletrodomésticos e apenas 25% do automotivo. Assim, dá para equilibrar”, diz o proprietário Norberto Perrela.
Empresas não descartam mais dispensas
Se o cenário não for revertido, existe a possibilidade de ocorrer mais demissões nas indústrias do Grande ABC. “Estamos quase em outubro e o mercado continua retraído. Tanto que nossa projeção de faturamento foi reduzida em 10%”, afirma Celso Cestari, diretor da MRS, fabricante de componentes para caminhões e ônibus (como suspensão, câmbio e freio) de Mauá.
“É fato que hoje a situação parou de piorar, já que o governo reduziu a Selic e o dólar subiu, o que contribui para diminuir a entrada de importados e eleva o preço do nosso produto lá fora”, diz. “Porém, ainda não há uma estabilidade. E, se as coisas não melhorarem, terei de otimizar ainda mais a produção reduzindo mais 5% dos meus funcionários.” Desde abril, já foram demitidos 20 trabalhadores da empresa.
Na avaliação do diretor do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo em Santo André, Shotoku Yamamoto, as expectativas são positivas. “Acredito que a elevação do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) para veículos importados deva estimular a geração de empregos na cadeia automotiva”, afirma, referindo-se ao programa Brasil Maior, que promete não elevar a alíquota para montadoras que comprarem pelo menos 65% de conteúdo nacional, investirem em tecnologia inovadora e contratarem profissionais. O plano estabelece prazo até novembro para que as montadoras comprovem as exigências.
Puxada por serviços, taxa de desemprego é a menor para o mês
Apesar da complicada situação em que se encontra a indústria da região, a taxa de desemprego encerrou agosto em 11%. Isso significa estabilidade frente a julho, quando chegou a 10,8%, e recuo ante agosto de 2010, quando era de 11,3%. O percentual é o menor para os meses de agosto desde o início da série história da pesquisa, em 1998.
Segundo o gerente de pesquisas do Seade, Alexandre Loloian, a redução da taxa se deve ao fato de haver menos pessoas em busca de ocupação e não pelo aumento das contratações. “Em agosto, apenas o setor de serviços se contrapôs à redução de postos.” O segmento gerou 13 mil vagas frente a julho e 17 mil ante agosto de 2010. “Foi impulsionado pela alta da demanda por serviços pessoais, como cabeleireiros e alimentação. Os prestados às empresas, como assessorias, começaram a recuar.”
Do Diário do Grande ABC