Inflação é especulação: Sindicato quer câmara setorial dos alimentos

Idéia é criar uma Câmara do Setor de Alimentos para aumentar a produção e segurar a alta nos preços.

A alta mundial no preço
dos alimentos vai entrar
na agenda sindical. O nosso
Sindicato quer abordar esse
tema com a idéia de constituir
uma Câmara Setorial do
Setor de Alimentos. O objetivo
é conter preços a partir
do aumento da produção
por meio de negociações, a
exemplo da Câmara Setorial
do Setor Automotivo (veja
abaixo).

A preocupação do Sindicato
é que a alta em alguns
produtos da cesta-básica
possa contaminar o conjunto
da economia, que nada
tem a ver com o processo.
É a chamada memória
inflacionária, quando os
patrões aumentam preventivamente
os preços dos
produtos, mesmo que eles
não sejam afetados. Nessas
horas, os reajustes salariais
são vistos como vilões, já
que a legítima pressão dos
trabalhadores por correção
dos seus ganhos cria a falsa
idéia do retorno da indexação
da economia.

Câmara – O presidente eleito do
Sindicato, Sérgio Nobre,
defende uma negociação
da qual participem todos os
agentes envolvidos com a
produção, comercialização
e consumo de alimentos.
Para ele, o resultado da
proposta será a criação de
metas de produção para
o abastecimento interno,
tendo como consequência
o fim da pressão sobre
preços.

“A saída para conter
preços não pode ser a alta
de juro. Essa visão é conservadora
porque afeta a
economia como um todo
e pode ser um obstáculo à
continuidade do crescimento
econômico”, compara
ele.

Segundo Sérgio, a sugestão
de criação da Câmara
combina com o Plano Agrícola
e Pecuário que o governo
vai lançar na semana que
vem como vértice da luta
contra a inflação. O pacote
vai destinar a agricultores
empresariais R$ 65 bilhões
para financiar a próxima safra.
O governo vai investir
ainda outros R$ 13 bilhões
na agricultura familiar.

A hora – Mas, na visão do Sindicato,
o Plano oferece uma
oportunidade bem melhor.
“É a chance de a sociedade
discutir um acordo mais
amplo para um setor de importantes
dimensões na vida
humana. “Não podemos
ficar apenas no financiamento,
é necessário abordarmos
o incremento da agricultura
familiar, a reforma agrária,
empregos no setor rural e
agroindustrial, a produtividade,
preços, estoques e ocupação
sustentável do campo”,
comenta o dirigente.

Com números do Ministério
da Agricultura, Sérgio
lembra que o Brasil não
ocupa 15% de sua área agricultável
e, portanto, o País
tem condição de se tornar
um dos maiores celeiros de
alimentos do mundo.

Esse potencial é medido
pelos 400 milhões de
hectares que o Brasil tem
para a produção agrícola,
enquanto Estados Unidos
tem 260 milhões de hectares.
A diferença é que usamos
apenas 59 milhões e os
norte americanos exploram
175 milhões de hectares.

“Queremos radicalizar
o conceito de segurança
alimentar. Alimento é um
direito de todos e não pode
ser objeto de especulação e
das vontades do mercado”,
finalizou Sérgio.

Resultados foram positivos no setor automotivo

Produção em queda,
demissão e salários arrochados.
Foi nesse cenário
que o Sindicato puxou a
criação na Câmara Setorial
do Setor Automotivo nos
anos de 1992 e 1993.

Naquela ocasião, trabalhadores,
empresas e governos
sentaram em torno
de uma mesa para discutir
uma saída para a crise. Os
governos federal e estaduais
reduziram impostos e as fábricas
as margens de lucros.
O resultado foi a retomada
da produção que, naquela
época, passou a marca de
dois milhões de veículos pela
primeira vez na história.
Com a alta na produção, a
arrecadação de impostos
aumentou, mesmo com
alíquotas reduzidas.

Enquanto duraram os
acordos, os metalúrgicos
tiveram garantia de emprego
e 19% de aumento real.
Foi durante essa Câmara
que surgiram os carros 1.0,
chamados de popular na
época, até hoje os líderes
de vendas.