Ipea critica ajuste fiscal do governo e teme estagnação econômica
O corte do orçamento da União em R$ 50 bilhões anunciado este ano foi considerado uma política equivocada do governo federal pelo coordenador do grupo de análises e previsões do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Roberto Messenberg.
Ele não acredita que o problema fiscal seja o principal entrave ao crescimento da economia brasileira. A agenda do governo, na opinião de Messenberg, deveria ser a tentativa de elevar a taxa de investimento.
“O governo poderia até embutir a questão fiscal nisso. Mas o objetivo tinha que ser fazer com que a taxa de investimentos na economia brasileira cresça, e procurar aumentar a poupança pública para fazer esses investimentos, mas isso é muito diferente de sair correndo atrás de recursos só para fazer superávit”, disse.
O ajuste foi considerado uma “barbeiragem”. “Não se trata nem de uma navalha, mas de um massacre de serra elétrica”, comparou o coordenador. Ele acredita que o corte do orçamento do governo poderá, inclusive, ter um efeito contrário ao que se espera.
No modelo que tem sido desenhado, para reduzir os juros e desvalorizar a taxa de câmbio, os investidores internacionais podem ganhar confiança, inundar o mercado brasileiro, o que faria com que o câmbio se valorizasse ainda mais e traria problemas no balanço de pagamentos, acredita o economista.
O temor em relação ao ajuste fiscal é o corte da fonte do crescimento do país, que é o investimento, e levar a uma estagnação econômica. O que o coordenador do Ipea defende é uma atuação mais efetiva do governo no investimento em áreas em que o capital privado não costuma entrar, como infraestrutura urbana, transporte e aeroportos.
“O problema do Brasil de hoje não é a dívida pública, é a infraestrutura insuficiente. A solução não é baixar a demanda por conta disso, mas sim resolver os problemas de infraestrutura. E não é isso que estou vendo como centro da agenda do governo”, disse o coordenador.
Ele considera a mudança de orientação do governo como “perigosa”, porque se privilegia os interesses do setor financeiro. “Você começa a privilegiar uma agenda que é do final do século passado, onde se diz que o governo faz o dever de casa e o mercado vai alocar os recursos necessários e o investimento floresce. Não teremos isso nesse caminho”, acredita.
O Ipea é um instituto ligado ao núcleo de assuntos estratégicos da Presidência da República e seu objetivo é ajudar a aperfeiçoar as políticas públicas, de acordo com o site da instituição.
Do Valor Econômico