Ipea: ida ao trabalho supera 1 hora para 20% dos trabalhadores
Um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgado nesta quinta-feira aponta que atualmente 20% dos trabalhadores brasileiros gastam em média, nas nove principais cidades do País, mais de uma hora para cumprirem o trajeto entre onde moram e o local de trabalho. Esse cenário, que computava 15% no ano de 1992, envolve as regiões metropolitanas ligadas às cidades de Belém, Fortaleza, Recife, Salvador, São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Curitiba e Porto Alegre.
Excetuando-se os picos superiores acima de 60 minutos no trajeto casa-trabalho, os trabalhadores dessas mesmas regiões gastam, em média, 40 minutos de deslocamento na parte da manhã.
“Para se resolver o problema de aumento nos tempos de viagem dos deslocamentos por transporte coletivo deve haver investimentos maciços em infraestrutura, principalmente nos corredores de ônibus, que se constitui no principal modal metropolitano, segregando o espaço de operação dos veículos em vias exclusivas. Aumento de tempos de viagem do transporte público implica aumento de custos, que, aliado a outros fatores, provocam o aumento das tarifas”, diz o documento divulgado pelo Ipea.
No estudo Dinâmica populacional e sistema de mobilidade nas metrópoles brasileiras feito pela entidade, o diretor-adjunto da Diretoria de Estudos Regionais e Urbanos (Dirur), Miguel Matteo, ressaltou que, com o passar dos anos, a população residente no colar metropolitano tem ampliado sua dependência em relação aos sistemas intermunicipais de transportes. Diante dos altos preços dos imóveis e da concentração da oferta de empregos nas capitais, a taxa de crescimento das regiões metropolitanas têm sido, via de regra, mais alta que a das capitais, e o transporte entre esses municípios, muitas vezes público, passa a ser fundamental para a jornada de trabalho.
“Isso dá uma característica de dormitório a muitos desses municípios, especialmente os municípios com maior concentração de população de baixa renda, gerando um enorme fluxo pendular entre os municípios da periferia metropolitana e as cidades-sede, sobretudo pelo transporte coletivo”, diz o estudo.
“O transporte tem caráter social muito grande porque a população de mais baixa renda mora na periferia. A maioria das viagens é realizada pelo transporte coletivo”, afirmou Miguel Matteo.
Para o pesquisador, que registrou aumento real – descontado a inflação – de 32% nas tarifas de transporte público entre 1999 e 2010 (excluído o metrô), a União precisa ampliar seus investimentos em projetos de mobilidade urbana, e não só considerando a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016. Atualmente, a segunda fase do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) prevê investimentos de cerca de R$ 10 bilhões para este tipo de obra, mas para que a malha do sistema metroviário brasileiro pudesse se desenvolver em padrões melhores, novos investimentos – e não apenas empréstimos a Estados ou municípios – precisariam ser consolidados.
Conforme o técnico de Planejamento e Pesquisa do Ipea, Carlos Henrique Ribeiro de Carvalho, a Cidade do México, por exemplo, tem malha de metrô quatro vezes maior que a de São Paulo. No caso dos países da Europa, diz Carvalho, o Brasil precisaria de investimento imediato de R$ 80 bilhões para que tivesse a atual rede metroviária dos países europeus.
“Uma recomendação é que a União volte a fazer investimento, e não só empréstimos, no sistema metropolitano de transporte brasileiro”, disse o técnico.
“No Brasil, estamos com dois deadlines, a Copa do Mundo e as Olimpíadas do Rio em 2016. Poderia se pensar pelo menos para a Copa investimentos superiores ao que se tem planejamento. Poderia se pensar em elevar um pouco isso, sem ser empréstimo”, afirmou Carlos Henrique Ribeiro de Carvalho.
Do Terra