Jânio Quadros, o início da tragédia

A renúncia de Jânio Quadros a Presidência da República, em 25 de agosto de 1961, acelerou as engrenagens do mecanismo que, menos de três anos depois, promoveria o golpe de Estado que derrubou o seu sucessor, o presidente João Goulart.
Ex-professor secundário, Jânio teve uma carreira meteórica na política paulista, elegendo-se sucessivamente vereador, prefeito e governador de São Paulo. Chegou em Brasília com um discurso de falso moralista que, na verdade, ocultava um governo conservador.
Suas primeiras orientações econômicas tiveram caráter recessivo. Promoveu o corte de investimentos públicos, a restrição do elitescrédito, a desvalorização da moeda e o incentivo às exportações. As medidas tinham endereço certo, pois agradavam os setores empresariais que apoiaram sua candidatura. Por outro lado, prejudicariam a classe trabalhadora, pois provocavam o aumento do desemprego, carestia, arrocho salarial etc.
No plano administrativo, Jânio procurou centralizar ainda mais o poder através da adoção de uma mecânica de decisões que diminuia o poder do Congresso Nacional e ampliava a esfera de competência da Presidência da República.

A renúncia
Setores políticos da situação e oposição perceberam a intenção de um golpe de Estado nas movimentações do presidente. Tudo foi aparentemente interrompido no dia 25 de agosto, quando Jânio mandou uma mensagem ao Congresso Nacional anunciando sua renúncia ao mandato.
Durante muitos anos especulou-se sobre os reais motivos que levaram o presidente a abandonar o cargo. Em 1996, Jânio John Quadros, seu neto e secretário-particular, publicou um livro que trazia a confissão do ex-presidente sobre os motivos da renúncia, feita no quarto de hospital onde passou seus últimos dias.
A renúncia foi uma estratégia política que não deu resultado. Jânio esperava que o povo, seguido pelos militares, não aceitasse a sua renúncia e o reconduzisse ao cargo, o que não aconteceu.
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