João Felício no FSM: “Fortalecer o papel do Estado e radicalizar a democracia para romper com a ditadura do capital especulativo”

“Fortalecer o papel do Estado e radicalizar a democracia para romper com a ditadura do capital especulativo. Nada de cortes nos investimentos públicos para satisfazer o sistema financeiro”. Na avaliação de João Felício, secretário de Relações Internacionais da Central Única dos Trabalhadores, este é o principal desafio dos movimentos sociais do planeta, que devem sair do Fórum Social Mundial de Dakar, no Senegal, “com uma agenda comum de luta e mobilização”. “Mais do que reflexão, a hora é de ação. Não temos tempo a perder!”, enfatizou, sob aplausos.

Nas duas intervenções que fez nesta quarta-feira (9) na Universidade Cheickh Anta Diop, numa palestra sobre Direito dos Trabalhadores e Trabalho Decente, em evento promovido pela CGIL-Itália, e no Fórum Sindical Mundial, convocado pela Confederação Sindical Internacional (CSI), o líder cutista bateu na mesma tecla: a necessidade de responder, com urgência e firmeza, aos ataques do capital contra o emprego, o salário e os direitos; a necessidade de defender as nações das políticas de “ajuste fiscal”, de corte nos recursos públicos, de redução dos investimentos sociais para fazer caixa ao pagamento de juros. 

“Mais do que uma crise do sistema financeiro, esta é uma crise da globalização neoliberal, do capitalismo. Mas em vez de darem respostas ao lado dos seus povos, construindo um caminho soberano, de desenvolvimento e distribuição de renda, muitos governos se alinham com o sistema financeiro. Se submetem porque acham que não tem força política para enfrentá-lo ou porque são tutelados por ele. Nós não aceitamos a submissão a quem quer que seja, por isso vamos à luta contra o imperialismo, contra o neocolonialismo, em defesa do desenvolvimento, da vida e da justiça”, sublinhou.

João Felício lembrou que ao longo dos últimos dez anos de Fórum Social Mundial, o movimento popular que se aglutina em torno deste processo de construção coletiva viu a resistência à globalização neoliberal se converter em alternativa de poder – e se transformar em governo – em vários países da América Latina. E isso, frisou, foi chave para que existam contrapontos objetivos às teses que idolatravam a submissão ao mercado e o abandono das políticas sociais.

No evento da CGIL-Itália, aplausos pela contundência da denúncia do sistema financeiro e pela defesa de uma nova ordem mundial“Mas que mudanças queremos?”, perguntou o dirigente cutista. E respondeu: “A mudança das organizações internacionais, estruturas que são manejadas ou controladas pelo sistema financeiro, como a Organização Mundial do Comércio (OMC), o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial, e que devem passar a responder ao interesse dos nossos países e povos”.

Citando o exemplo do Brasil, João Felício lembrou que os avanços do último período, com políticas inclusivas e afirmativas, foram conquistados a partir do enfrentamento a uma oligarquia que jamais abriu espaço de participação à sociedade. Reiterou que a política de valorização do salário mínimo, acordada após a realização de várias marchas da classe trabalhadora a Brasília, foi decisiva na transferência de renda, responsável por trazer milhões de famílias ao mercado de consumo.

Outra informação relevante, destacou, é que ao contrário do que diziam os neoliberais, os bancos públicos têm um importante papel a cumprir em nossas sociedades. No caso do Brasil, explicou, “durante o governo Lula, os bancos públicos foram colocados a serviço do combate à crise, com o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal e o Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES)”. Abertura de linhas de crédito, melhores condições de financiamento e estímulo aos pequenos produtores, exemplificou, reativaram a economia e garantiram taxas de crescimento expressivas, enquanto os países capitalistas centrais cambaleavam.

“Que estado se quer? Submisso ao mercado ou que ofereça políticas sociais. A CUT e os movimentos sociais brasileiros lutam por um projeto nacional de desenvolvimento inclusivo, com distribuição de renda e valorização do trabalho”, acrescentou. Entre as propostas elencadas como cruciais para o avanço, e que estão sendo debatidas com a Coordenação dos Movimentos Sociais (CMS), apontou João Felício, está a defesa da agricultura familiar, frente aos interesses do agronegócio, que é exportador e despreza a soberania alimentar. “Por isso defendemos radicalizar a reforma agrária e a democratização do campo. A agricultura familiar deve ser estimulada, pois é um grande celeiro de produção de alimentos”. Da mesma forma, sustentou, é preciso estar mobilizado para defender a indústria local, o salário e o emprego dos seus trabalhadores, a fim de evitar “o aniquilamento da produção nacional”, como fizeram os neoliberais e privatistas em seus desgovernos.

De acordo com João Felício, o desafio de construir uma agenda de disputa, de mobilização no mundo todo, está colocado. E deve ser priorizado, sem o que “ficaremos à mercê do sistema financeiro, nas mãos de neoliberais que só pensam em cortar gastos, retirar direitos e fazer reformas contra a população, como a da Previdência e a Trabalhista”. Contra este descaminho, assevera, “o Fórum precisa consensuar uma agenda de ação para seguir em frente”. Feito isto, acredita o líder cutista, estão dadas as condições para a “fase de marcar gol”, partindo para “democratizar o estado, a saúde e a educação, essenciais para a construção de uma nova sociedade”.

Da CUT Nacional (Leonardo Severo)