Juiz dos EUA volta a rejeitar pedido da Argentina
Cristina considera que ação em Nova York tenta barrar avanços sociais e econômicos da Argentina
Griesa recusa troca de mediador em negociação com fundos abutre e acusa país sul-americano de falar meias-verdades. Cristina pede que argentinos se mantenham unidos e volta a rejeitar moratória
O juiz de Nova York Thomas Griesa voltou a negar na última sexta-feira (1º) um pedido da Argentina nas negociações com os fundos abutre vencedores de ação movida contra o país sul-americano. Desta vez, Griesa se recusou a nomear um novo mediador, solicitado pelo governo de Cristina Fernández de Kirchner por alegação de “perda de confiança”.
Durante audiência de retomada do diálogo entre as partes, o advogado do Estado argentino, Jonathan Blackman, pediu ao magistrado outra maneira de continuar o diálogo com os fundos, por considerar que o último comunicado de Pollack, emitido na quarta-feira, foi “doloroso e prejudicial” à Argentina.
“A República Argentina está profundamente preocupada”, disse Blackman, ao considerar que o comunicado no qual Pollack declarou a “iminente moratória” da Argentina e a necessidade de cumprir a lei americana “foi parcial e não representou o que aconteceu na reunião”.
Griesa negou o pedido por considerar que Pollack havia “conseguido avanços na negociação e que só se pode chegar a um acordo com o caminho já começado”. “Os que têm que ser dignos de confiança são os fatos. A ordem que nomeou a Daniel Pollack como mediador continua tendo efeito. A ordem que chamou às partes a se reunirem com ele também”, disse.
Esta é a segunda vez em menos de quinze dias que Griesa recusa um pedido da Argentina. Antes, o governo havia solicitado uma liminar para estender o prazo de negociação com os fundos abutre até o fim do ano, considerando que o prazo inicial, expirado na última quarta-feira, era muito curto.
Com a negativa, a Argentina entrou, na visão de setores do mercado, em moratória técnica por não conseguir bancar o pagamento da dívida de US$ 1,33 bilhão resultante da sentença. O governo de Cristina, porém, avalia que não existe possibilidade de falar em calote porque foi depositado em juízo valor correspondente à sentença.
Os fundos são chamados de abutres porque compraram papéis da dívida argentina a preços baixos depois da moratória de 2001 e entraram na Justiça de Nova York para cobrar o valor integral. Esta semana a Casa Rosada ofereceu a eles a mesma condição garantida aos investidores que aceitaram renegociação entre 2005 e 2010, com margem de lucro calculada em 300%.
O receio da Argentina é que o pagamento de condição mais vantajosa aos abutres garantiria aos 92,4% que fizeram a renegociação anterior a ativação de uma cláusula que lhes assegura equiparação, desestruturando todo o processo de renegociação da dívida e de recuperação da economia após a quebra da virada de século.
Hoje, além de negar o pedido do país, Griesa fez críticas à postura do país, considerando que emitiu “declarações altamente enganosas” e falou “meias-verdades” porque “quando diz que pagou, só se referiu a um tipo de credor, não aos direitos dos querelantes”.
Em uma audiência de pouco mais de uma hora, Griesa afirmou que não pretende entrar em um “debate linguístico” sobre se parte da dívida argentina está em moratória seletiva ou não, mas preferiu se concentrar nas “obrigações plurais” que o país tem tanto com os credores que aceitaram as trocas de dívida como com os fundos especulativos. “O que aconteceu esta semana é que o pagamento da Argentina não foi efetivado e a cláusula ´pari passu´ não foi violada”, justificou Griesa.
Antes da audiência em Nova York, o chefe de Gabinete do governo argentino, Jorge Capitanich, já havia manifestado visão negativa quanto à nova audiência de conciliação porque o juiz “sempre teve uma visão parcial” acerca do litígio.
Ontem, durante ato em Buenos Aires, Cristina externou a leitura de que se trata de uma ação voltada a limitar o desenvolvimento argentino justamente num momento em que o país vive uma era de prosperidade. “Temos de ser muito fortes os argentinos, muito unidos, porque vão tentar tratar de dividir-nos”, afirmou. “Quando falo de unidade, não falo de unidade de partido. Falo de unidade nacional, dos argentinos, temos milhares de coisas para discutir e debater, mas, para defender o futuro contra os que querem fazer-nos assinar qualquer coisa, contem comigo.”
Da Rede Brasil Atual