Juros – As armadilhas dos cartões
Pesquisa da Proteste e da Fundação Getúlio Vargas mostra os custos absurdamente altos, sem paralelo no mundo, exigidos de quem usa o crédito rotativo
O Brasil é o campeão mundial dos juros no cartão de crédito. Uma dívida no rotativo — quando o consumidor paga apenas o valor mínimo da fatura e financia o restante do débito — pode ultrapassar 700% ao ano.
As taxas exorbitantes foram apuradas em pesquisa feita pela Associação de Consumidores Proteste, em parceria com a Fundação Getulio Vargas (FGV).
O levantamento mostra que a média anual dos juros no cartão é de 280,82% no país. O estudo apontou ainda que as taxas mais altas, entre 487,49% e 705,61% ao ano, são praticadas por produtos financeiros do Santander.
Os encargos dos financiamentos por meio de cartões de crédito chegam a ser até 70 vezes mais altos do que os juros básicos da economia, ajustados na última quarta (15), pelo Banco Central, para 10,5% ao ano.
O abuso aos consumidores não para por aí. Os reajustes das anuidades podem chegar a 937%. Não à toa, a utilização dessa modalidade financeira é uma das principais causas do crescente endividamento dos brasileiros.
Cálculos de Renata Preto, pesquisadora estatística da Proteste, mostram a quanto chega o descalabro. Com a taxa acima de 700%, se o consumidor tiver uma fatura de R$ 500 e pagar somente o mínimo (20%), rolando a dívida por 12 meses, acabará pagando mais de R$ 3 mil em apenas um ano.
Os dados são ainda mais alarmantes quando a taxa praticada no Brasil é comparada com a de outros países: é 525% maior que a do Peru, o segundo colocado, que cobra 44,8% ao ano.
A pesquisadora destacou que, além dos juros do rotativo e da anuidade, podem incidir sobre a fatura outros tipos de encargo, cobrados sobre os saques e o parcelamento das compras.
O meio mais simples é pagar o valor total da fatura na data do vencimento. E, ao não utilizar o saque, o consumidor se livra da tarifa incidente nessa operação.
Os índices exorbitantes constatados pela pesquisa são mais altos do que os divulgados no site do Banco Central.
Conforme o professor de Finanças da FGV, Fábio Gallo Garcia, a taxa média do BC é distorcida porque são inseridos na conta cartões muito específicos, com juros bem menores do que os realmente cobrados no mercado.
“A autoridade monetária deveria proibir o pagamento mínimo. As pessoas não sabem realmente que estão entrando no rotativo a taxas absurdas e não interessa aos bancos deixar isso claro”, analisou.
Explicações
Líder com seis das 10 taxas mais altas praticadas no mercado, o Santander disse que oferece aos clientes um portfólio de cartões de crédito com características diferenciadas e custo compatível com os benefícios.
“A instituição disponibiliza alternativas ao uso do rotativo. Uma delas é o total parcelado, que permite financiar o saldo com juros a partir de 1,79% ao mês para os cartões Platinum. O Santander também faz o parcelamento da fatura e permite dividir as compras em até 36 vezes fixas, com juros de 0,90% ao mês”, afirmou o banco, por meio da assessoria de imprensa.
O Bradesco, também citado na pesquisa, disse que tem a política de “oferecer taxas competitivas em relação ao mercado e disponibilizar diferentes produtos de modo a acomodar a demanda de todos os perfis de cliente, inclusive com a alternativa de parcelamento a taxas de um dígito”.
O HSBC informou “que atribui suas taxas em função do relacionamento que o cliente possui com o banco”.
A Itaucard também afirmou que as taxas são estabelecidas de acordo com a movimentação do cliente. “Ressaltamos que as tarifas e os encargos dos cartões são destacados nos extratos, que também têm alerta de que o pagamento mínimo deve ser evitado. Na própria fatura, o cliente encontra opções mais baratas de refinanciamento de saldo”, afirmou a instituição.
Com informações do Correio Braziliense