Kadafi promete mais violência e agarra-se ao poder

Depois de ordenar às Forças Armadas que massacrem seu próprio povo, o ditador líbio faz pronunciamento e diz que resistirá “até a última gota de sangue” aos protestos que reunem milhares nas ruas de Tripoli e Bengazi.

O ditador líbio Muammar Kadafi prometeu usar mais violência contra os manifestantes que exigem sua saída em diversas cidades do país desde o dia 17. Desde o início dos protestos, a repressão tem sido dura, com o número de mortos calculado em mais de 500 entre a capital Tripoli e Bengazi, a segunda maior cidade da Líbia. Mesmo assim o coronel declarou em pronunciamento nesta terça-feira 22 que ainda não usou de fato a força, mas que vai começar em breve.

A promessa de mais violência é “assustadora”, como avaliou a chanceler alemã Angela Merkel instantes após o discurso de Kadafi. O ditador considera “não ter usado a força”, mesmo depois de ordenar ao exército que atirasse contra a população rebelada e à Força Aérea que realizasse ataques aéreos sobre Tripoli e Bengazi. Além disso, testemunhas relatam que mercenários vagam pelas ruas das cidades matando manifestantes.

Diante do massacre que já ordenou, é difícil prever o que Kadafi quis dizer com “começar a usar a força”. O filho do coronel, no entanto, descreveu como “rios de sangue” o que está por vir na Líbia. Em entrevista à TV estatal líbia logo no início dos protestos, Saif al-Islam Kadafi declarou que o pai não deixaria o poder – que ocupa há 42 anos, desde que comandou um golpe militar no país recém-independente.

Kadafi, o pai, repetiu as palavras do filho no pronunciamento de hoje. Ele prometeu lutar “até a última gota de sangue”. Pela violência que já ordenou contra seu povo, não é apenas do próprio sangue que Kadafi fala. Os manifestantes foram chamados de “drogados”, “bin-ladistas” e “bêbados”. Dizendo que “Muammar Kadafi é história, resistência, liberdade, glória e revolução”, o ditador perguntou: “Se os jovens não seguirem Kadafi, quem seguirão?”.

Enquanto o coronel despeja sandices ao microfone e massacra a população, representantes diplomáticos líbios continuam abandonando o regime. Hoje, o embaixador nos Estados Unidos,  Ali Ageli, renunciou ao posto. “Renuncio a servir ao atual regime ditatorial, mas nunca renunciarei a servir meu povo”, disse à rede de TV americana ABC.”Digo a ele [Kadafi]: vá embora e deixe nosso povo em paz”, concluiu o agora ex-embaixador.

Petrobras
O presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, disse hoje que, por enquanto, não foram registrados problemas envolvendo funcionários da empresa na Líbia, país do Norte da África afetado por protestos. Segundo Gabrielli, apenas cerca de dez brasileiros trabalham no país e, até o momento, não está prevista a retirada deles do território líbio.

De acordo com o presidente da estatal, a empresa desenvolve apenas uma pequena atividade exploratória (busca de petróleo) em terra, na região da capital líbia, Trípoli.

Em coletiva à imprensa, Gabrielli também disse que os protestos que atingem países árabes geram algumas incertezas sobre como a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) vai reagir diante dessa situação.

Da Carta Capital