Kamchatka

Na edição do dia 10 de maio no jornal Folha de S. Paulo havia uma matéria sobre um jovem argentino de 27 anos, Horácio Pietragalla, que havia descoberto, recentemente, ser filho de desaparecidos políticos.

O rapaz foi seqüestrado ainda bebê durante a ditadura militar (1976 -1983). Foi criado por uma ex-empregada do militar que o tomou, o tenente-coronel Herman Tefzlaff, que cumpre pena pelo seqüestro de outra criança.

Testes de DNA provaram que o jovem é filho de Horácio Pietragalla e Liliana Corti, mortos pelos militares e cujos corpos desapareceram.

O jovem se tornou o primeiro dos 74 bebês identificados pelo grupo Avós da Praça de Maio a vir a público.

Em cartaz em São Paulo há pouco mais de uma semana, o filme Kamchatka nos leva a este passado sombrio que mudou tragicamente a vida da nação argentina.

O filme conta uma estória parecida com a de Pietragalla. Logo depois do golpe militar, um casal de militantes políticos se refugia com os filhos numa casa de campo.

A trama é narrada pelo garoto mais velho, que resgata o breve período em que teve que abandonar a escola, parentes e amigos, mudar de nome e de lugar.

A experiência de viver na clandestinidade é tratada com sensibilidade pelo diretor Marcelo Piñeyro.

A tensão e angústia vividas pelos pais, que sentem o cerco da repressão cada vez mais próximo, são equilibradas com momentos de alegria e ternura, envolvendo sua relação com os filhos, como o jogo de guerra no qual aparece o país imaginário que dá nome ao filme. Encurralados pela repressão, deixam os filhos com os avós paternos. Na cena final, carregada de emoção, o garoto corre atrás do carro dos pais, como se soubesse que nunca mais os veria.

Departamento de Formação