Kirchner denuncia donos de jornais por crimes durante a ditadura
O governo argentino da presidente Cristina Kirchner apresentou nesta terça (21) uma denúncia formal à Justiça contra os dirigentes dos jornais “Clarín” e “La Nación”, maiores veículos impressos do país, por crimes contra a humanidade ocorridos supostamente em 1976.
Conforme a denúncia, os delitos de “homicídio, extorsão, privação ilegítima de liberdade, tortura e associação ilícita” foram cometidos pelos dirigentes dos jornais em cumplicidade com o último regime militar argentino (1976-1983) durante a negociação da empresa Papel Prensa.
Atualmente a fábrica produz 75% do papel-jornal consumido no país.
As ações da empresa que hoje pertencem aos jornais denunciados foram compradas na época da família Graiver, vítima da repressão estatal durante a ditadura.
O governo afirma que os integrantes da família sofreram “intimidações e ameaças” que os obrigaram a assinar os contratos de venda.
Apesar de terem sido presos pelos militares somente após a negociação, a transferência das ações ocorreu quando os Graiver já estavam fragilizados e não podiam decidir, alega o governo.
O momento da prisão e as intimidações fizeram parte de um esquema “articulado pelos dirigentes dos jornais junto à cúpula do governo de fato”, diz a denúncia, apresentada em nome do governo pela Secretaria de Direitos Humanos e pela Procuradoria do Tesouro – equivalente à Advocacia-Geral da União.
O documento entregue pelo governo à Justiça também apresenta relatos e testemunhos que consideram os jornais “Clarín” e “La Nación” meios de comunicação “associados com a ditadura” que foram “beneficiados” pelo “aparato clandestino de terrorismo do Estado” em outros negócios posteriores.
Com a denúncia, o governo argentino passa a integrar, ao lado de membros da família Graiver, a função de denunciante em um processo que já tramita em um tribunal de La Plata (Província de Buenos Aires). Nele investiga-se a negociação da Papel Prensa.
O governo pediu à Justiça que interrogue os principais acionistas do jornal “Clarín”, Ernestina Herrera de Noble e Héctor Magnetto, e o diretor de redação do “La Nación”, Bartolomé Luis Mitre. O pedido de interrogatório também se estende aos ex-dirigentes militares, em maioria já presos.
Do Vermelho