Lei de Cotas, sim. Genocídio, não

Movimentos sociais participaram da IX Marcha da Consciência Negra, nesta terça (20), em São Paulo


Daniel Calazans (esquerda) e Léo Oliveira carregam bandeiras do Sindicato no ato em SP.
Foto: Paulo de Souza / SMABC

Entidades representativas dos movimentos sociais de São Paulo realizaram nesta terça-feira (20) a IX Marcha da Consciência Negra, para lembrar o Dia Nacional da Consciência Negra. O movimento acontece desde 2003, na data dedicada ao líder negro Zumbi dos Palmares, dia 20 de novembro. 

“Nossas principais bandeiras neste ano são a efetiva implantação da Lei de Cotas no Estado de São Paulo e o fim do genocídio praticado contra a juventude negra”, afirmou durante a Marcha o coordenador da Comissão de Igualdade Racial dos Metalúrgicos do ABC, Daniel Calazans, diretor executivo do Sindicato e trabalhador na Scania.

Para definir genocídio, ele apontou números impressionantes quando comparam os homicídios cometidos contra jovens negros e jovens brancos, ambos entre 15 e 29 anos.

“Enquanto as mortes violentas de jovens brancos diminuíram de 9.248 em 2000 para 7.065 em 2010, cresceu a violência contra os jovens negros, que passou de 14.055 mortos em 2000 para 19.255 em 2010”, ressaltou Calazans.

“Infelizmente, a situação se agravou diante da ampliação da violência este ano, que tem como principais vítimas a juventude negra e pobre do Estado de São Paulo, uma realidade que o governador Geraldo Alckmin insiste em considerar normal e sob controle”, denunciou.           

Lei de Cotas
Calazans considera a Lei de Cotas uma das mais importantes conquistas do movimento negro em busca da igualdade entre todos os brasileiros e pela superação do quadro de violência física, material e simbólica a que a população negra, mais da metade da população de nosso País, está submetida, vítima do racismo.

“Mas em São Paulo, embora no Brasil cerca de cem universidades públicas estaduais e federais tenham aderido à Lei de Cotas, a USP, a conhecida Universidade de São Paulo, insiste em não participar desta política”, protestou. “Este mesmo procedimento é acompanhado por universidades como a Unicamp e a Unesp”, disse o dirigente.

Para mudar essa realidade, um conjunto de entidades dos movimentos negro e estudantil organizou a Frente Estadual de Lutas pela Aprovação das Cotas e elaborou um projeto de lei que institui o sistema de cotas para ingresso nas universidades públicas e nas faculdades de tecnologias do Estado de São Paulo.

Este projeto está em tramitação na Assembleia Legislativa com o apoio significativo de parlamentares que concordam com essas medidas. “Isso torna necessário que continuemos nos mobilizando”, finalizou Calazans. 


Movimentos sociais levaram colorido à marcha em SP. Foto: Paulo de Souza / SMABC

Saiba mais sobre Zumbi
Zumbi foi o principal líder do Quilombo dos Palmares, um símbolo da resistência e de luta contra a escravidão.

O Quilombo começou a ser construído em 1597, nas terras da Serra da Barriga, no atual Estado de Alagoas. Em pouco tempo tornou-se uma referência de homens e mulheres que fugiam da escravidão e em busca da liberdade.

Quase cem anos depois do início de sua construção, em 1695, uma expedição comandada por bandeirantes destruiu o Quilombo e, no dia 20 de novembro, assassinou Zumbi.

Em 1995, depois de 300 anos de seu assassinato, Zumbi dos Palmares foi oficialmente reconhecido pelo governo brasileiro como herói nacional e o Quilombo de Palmares consagrado como um importante exemplo de luta e organização da História do Brasil.

Da Redação