Leonardo Boff diz que temos que desarmar os espíritos contra o ódio
Foto: Adonis Guerra
O teólogo Leonardo Boff, líder da Teologia da Libertação, esteve ontem na Sede em encontro com a Diretoria do Sindicato para falar sobre reforma política, economia, religião e da importância dos movimentos sindicais e sociais na defesa da democracia e na participação cada vez mais das decisões sobre o futuro do Brasil.
Tribuna Metalúrgica – Como o senhor avalia a democracia no Brasil?
Leonardo Boff – Os líderes das duas Casas (Câmara e Senado), sem qualquer respeito, ofendem a presidenta e a provocam. Têm um espírito vingativo e não têm a percepção do bem comum o que mostra que a nossa democracia ainda é muito deficitária. A democracia tem que vir de uma consciência nova, de pessoas que não aceitam ser massa de manobra. Grande parte do analfabetismo brasileiro é um analfabetismo político, que as classes dominantes querem para poder manipular. Essa elite tem pavor de um povo consciente, que faz crítica e sabe de seus direitos.
TM – Qual é o papel do Sindicato e dos movimentos sociais neste cenário político?
LB – O Brasil é o País que mais tem movimentos sociais. Estes movimentos criaram uma consciência de pertencimento, da necessidade de lutar, que nada é dado, os direitos são conquistados com pressão. Isso é a base para exigir uma democracia participativa, que já existe, em parte, porque nada que se proponha no País passa sem ser discutido com a CUT, com o MST, os movimentos sociais e a igreja, que tem poder social e se afunila em poder político.
TM – A reforma política é necessária no Brasil?
LB – A reforma política é fundamental, porque a que temos reproduz as forças dominantes, que ocupam as forças do Estado, com uma representação popular muito pequena. A maior representação política é a do agronegócio, depois das empresas. Os grandes empresários representam 4% da sociedade e, no entanto, têm 200 deputados que defendem os empresários e o agronegócio. O fundamental é que o povo possa expressar a sua vontade. Fazer uma democracia viva.
TM – Como o senhor analisa propostas de parlamentares para a revogação da Lei do Desarmamento e a redução da maioridade penal?
LB – Essas propostas são do grupo mais conservador e reacionário da sociedade brasileira. Reduzir a maioridade penal é condenar a criança a virar bandido. Se houvesse centros não de punição, mas de reeducação e resgate de jovens como os países civilizados têm, eu entenderia. Na Inglaterra até criança de 10 anos pode ser penalizada, mas aqui (no Brasil) lançar nas prisões é uma escola de bandidagem. Sou contra até por uma razão humanitária, por amor e respeito a estes jovens. O grupo da bala é uma ideia em si mesma violenta, porque o revólver não é um brinquedo é para matar. Não temos só que tirar os meios, que são as armas, mas precisamos também desarmar os espíritos.
TM – Qual o papel do Papa Francisco na conciliação entre os Estados Unidos e Cuba?
LB – O Papa foi decisivo, porque escreveu uma carta ao presidente norte americano, Barack Obama e ao presidente cubano, Raúl Castro, dizendo que a guerra fria acabou e que é um escândalo que uma pequena ilha seja submetida por um boicote tão duro, que atinge inclusive a Cruz Vermelha.
TM – A Teologia da Libertação ainda está viva?
LB – Enquanto houver um pobre sem grito, a teologia da libertação existirá. Ela surgiu ouvindo o grito do oprimido, primeiro nas fábricas, com os operários, depois os camponeses, os negros, os índios, as mulheres e todos que sofrem algum tipo de discriminação. Os que gritam porque se sentem oprimidos. Contra a opressão temos a libertação. Na Teologia da Libertação Deus não quer a pobreza, fazemos da fé uma força de resistência.Temos que ressuscitar a esperança.
Da Redação.