Libertação de Sakineh foi ´teatro´ organizado pelo regime iraniano, diz ONG

Emissora de televisão iraniana em língua inglesa “Press TV” afirma que Sakineh teria confessado participação no assassinato do marido. Para organizações de defesa dos Direitos Humanos, gravação foi feita sob tortura

A iraniana Sakineh Ashtiani saiu da prisão, esteve em liberdade em sua casa durante três dias, depois dos quais foi coagida a confessar o assassinato do marido em uma entrevista a uma televisão local e então levada novamente para a prisão, em um “teatro” organizado pelo regime iraniano, contou hoje em entrevista exclusiva ao UOL Notícias a ativista Mina Ahadi.

De acordo com Ahadi, que é uma das lideranças mundiais na campanha pela libertação de Sakineh, a iraniana foi alvo de uma armação “inescrupulosa” que só um governo autoritário como o iraniano poderia ser capaz.

“Ela foi para casa, sob supervisão do regime, durante três dias. Então fez uma entrevista para a Press TV para confessar que matou o marido”, afirmou Ahadi por telefone, desde a Alemanha, onde mora. “Claro que essa confissão foi feita sob pressão, foi obrigada”.

Ahadi acrescentou que o canal de TV que divulgou as imagens de Sakineh em casa e que fez a entrevista incriminadora agiu de maneira conjunta com o governo, em uma atitude que deveria ser criticada. “São jornalistas, isso é gravíssimo. Quero deixar meu alerta para que as pessoas protestem contra essa violação dos direitos humanos”, acrescentou.

Falsa libertação
A própria Ahadi, porta-voz do Comitê Internacional Contra o Apedrejamento, havia anunciado à imprensa nesta quinta-feira (9) que Sakineh estaria em liberdade. Em comunicado oficial publicado hoje, ela explica que os sinais levavam a acreditar que ela estava livre.

“Em 8 de dezembro, o Comitê Internacional Contra o Apedrejamento recebeu relatos sobre a iminente libertação de Sakineh Mohammadi Ashtiani e Sajjad Ghaderzadeh”, escreve. “Em 9 de dezembro, fotografias de Sakineh e seu filho foram divulgadas pela Press TV (um dos veículos de imprensa da República Islâmica do Irã) e foram reproduzidas por diversas agências internacionais. Isso tudo levou fez parecer que eles tinham sido libertados”.

A informação da libertação não chegou a ser confirmada pelo governo. Nesta sexta-feira (10), o Press TV divulgou a notícia “Ashtiani reconta o assassinato na TV”, antecipando que o programa completo vai ao ar hoje, às 20h35 GMT.

No site da emissora, é possível ler a notícia: “Uma equipe da Press TV conseguiu com autoridades do Judiciário do Irã acompanhar Ashtiani a sua casa para produzir uma reconstituição visual da cena do assassinato”.

Para a ativista Mina Ahadi, houve tortura e má fé nessa gravação. “Ao torturar e expor seus prisioneiros a emissões televisivas falsas, o regime tenta mascarar seus crimes e reduzir a pressão contra ele. Dessa forma, esse caso torna explícita a natureza criminosa desse regime e de seu sistema judiciário”, denuncia.

“O Comitê Internacional contra o Apedrejamento e o Comitê Internacional contra as Execuções continuarão de modo resoluto a campanha pela libertação de Sakineh, Sajjad, Houtan e os dois jornalistas alemães e pede que as pessoas do mundo todo que continuem seus esforços”, acrescenta.

 

Da Folha Online