Litro do diesel pode chegar a R$ 10 no segundo semestre deste ano, alerta FUP
FUP diz que “crise está contratada” e critica inoperância do governo Bolsonaro diante da ameaça à segurança nacional, com impactos ainda mais severos sobre a inflação e às vésperas da colheita da safra agrícola
O preço do litro do óleo diesel, que vem atingindo sucessivos recordes este ano, deve alcançar R$ 10 no segundo semestre, com impactos ainda mais severos sobre os índices de inflação e às vésperas da colheita da safra agrícola, quando aumenta a demanda pelo derivado, alerta a direção da Federação Única dos Petroleiros (FUP).
“A crise está contratada”, afirma o coordenador-geral da FUP, Deyvid Bacelar, vque critica duramente a inoperância do governo do presidente Jair Bolsonaro (PL) diante da iminente ameaça à segurança nacional, provocada pela demora na tomada de decisões de importações e formação de estoques de diesel em tempo hábil.
Análises feitas pela área econômica da FUP indicam que estão dadas as condições para nova escalada de preços dos combustíveis: com estoques globais em níveis historicamente baixos, resultando na valorização das cotações de referência e dos prêmios de exportação, a gasolina e o diesel estão cerca de US$ 60 por barril acima do preço do petróleo.
Segundo projeções, o barril de petróleo poderá chegar à faixa de US$ 120 nos próximos dias, e não está descartada a possibilidade de atingir o pico de US$ 130/ US$ 140 no final de junho ou início de julho e de o crack spread (diferença entre o preço do barril de petróleo e o preço do barril do derivado) se valorizar ainda mais. Soma-se a isso o custo do frete, em torno de US$ 9,20 por barril de diesel importado do Golfo Arábico ou da Índia (únicos pontos disponíveis atualmente), para o Brasil, o que elevará o preço do derivado para US$ 196, até US$ 200. Se houver escassez de diesel no mundo, como já se anuncia, o crack spread poderá ser ainda maior.
Bacelar lembra ainda que são necessários entre 45 dias e 60 dias para o produto chegar ao Brasil. Tempo demais. Segundo informações obtidas por ele, os estoques da Petrobrás equivalem a 14 dias de produção.
Diante do quadro de restrições de oferta internacional, distribuidoras no Brasil já se ressentem de dificuldades de importações de derivados. De acordo com relatos, em fevereiro (ainda antes da invasão da Ucrânia), quando pedia uma cotação de carga, o distribuidor recebia cerca de 20 propostas comerciais; agora, dificilmente se consegue mais do que uma cotação por dia.
“Nada mais caro do que não ter”, diz Bacelar, prevendo risco de desabastecimento de diesel no Brasil, probabilidade de adoção de racionamento entre julho e agosto, e importações do produto de origens mais distantes e com qualidades distintas.
Consultorias prevêem o segundo semestre mais difícil, não somente pela temporada de furacões nos Estados Unidos (junho a novembro) – que traz incertezas no refino do Golfo Americano e maior volatilidade de preços – como também pelo aumento de demanda do derivado no Hemisfério Norte.
O dirigente da FUP entende que, mesmo sendo o Brasil muito exposto a importações de diesel, equivalentes a cerca de 25% do consumo doméstico, o governo Bolsonaro preferiu “empurrar com a barriga” o problema do abastecimento interno do produto.
“Bolsonaro continua com a política de desmonte da Petrobrás, com a venda de refinarias, redução de investimentos no setor e obras que não concluiu (segundo trem da refinaria Abreu e Lima, refinarias Premium 1 e 2 e Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro), além da manutenção do equivocado preço de paridade de importação (PPI)”, observa Bacelar, lembrando que, com base no PPI, o preço do litro do óleo diesel bateu novo recorde em maio último, o maior valor em 18 anos (média de R$ 7 por litro).
Da CUT.