Livro aborda participação de jovens no Sindicato
Obra será lançada na quarta-feira, dia 1º de dezembro, no Centro Celso Daniel
Desenvolvido a partir das pesquisas de mestrado em sociologia na USP, o livro Juventude Metalúrgica e Sindicato no ABC Paulista (1999-2001), de Agnaldo dos Santos, faz uma reflexão sobre a relação entre jovens e sua representação sindical.
A obra será lançada na quarta-feira, 1º de dezembro, seguido de debate com o autor no Centro Celso Daniel, a partir das 18h.
Agnaldo discute também as várias concepções de juventude na história e o papel destinado a ela na política. Outro aspecto é o impacto das transformações no mundo do trabalho.
“O sindicalismo vive transformações em sua base por causa das mudanças no mundo do trabalho. A marca dessas transformações é a heterogeneidade, ou seja, o antigo mundo fabril composto por homens adultos, provedores do lar, dá espaço às mulheres e aos jovens, com aspirações e visões de mundo distintas daquelas tradicionalmente trabalhadas pelo sindicalismo”, comenta o autor.
Segundo ele, os jovens metalúrgicos são hoje mais educados, usufruem as conquistas trabalhistas do passado, não se sentem mais como os seus pais ou avós, vencedores por terem aprendido uma profissão, orgulhosos por serem trabalhadores qualificados.
“A atual geração deseja abandonar a condição de metalúrgico, percebe seu trabalho como passageiro, transitório, o que acaba gerando um conflito entre as estratégias do movimento sindical e os anseios desses metalúrgicos”, afirma Agnaldo.
Para ele, isso fica claro na própria composição do sindicato hoje, composto em sua maioria por a maioria de trabalhadores acima dos 30 anos de idade e com mais de cinco anos de empresa.
O autor
Agnaldo dos Santos é doutor em sociologia pela USP, professor da Universidade Mackenzie e membro do Núcleo de Estudos d´ O Capital (PT-SP).
O livro pode ser adquirido diretor na editora pelo endereço:
http://www.agbook.com.br/book/26361–Juventude_Metalurgica_e_Sindicato
“Jovens estão, não são metalúrgicos”
Agnaldo dos Santos (foto) conversou com a Tribuna sobre seu livro
Foi o jovem que se distanciou do Sindicato ou o Sindicato distanciou-se do jovem?
Agnaldo: Eu diria que os dois movimentos ocorrem simultaneamente, mesmo que as lideranças sindicais não tenham isso como uma meta, pelo contrário. E os jovens estão na base da categoria, mas não sem envolvem como os veteranos.
Por que ocorreu esse movimento?
Agnaldo: É um fenômeno mais complexo. De um lado, os canais tradicionais de representação (como partidos e sindicatos) sofrem a algumas décadas, e no mundo inteiro, uma crise de representatividade, agravada pela redução dos postos de trabalho no setor industrial, principal espaço do sindicalismo tradicional. E os jovens que estão na categoria metalúrgica indicam que não pretendem ficar até o fim da vida profissional nessa situação de “gola vermelha”, de trabalhador de chão de fábrica. Isso dificulta a arregimentação sindical.
Isto se aplica tanto para jovens homens e mulheres?
Agnaldo: Há evidentemente particularidades entre as moças e os rapazes. A começar pelo fato de existir uma figura desconhecida até pouco tempo dos sindicatos: jovens com formação técnica, trabalhadoras qualificadas. Para algumas delas, atuar em um setor tradicionalmente masculino é um grande desafio. Já para os rapazes há a questão do horizonte: muitos deles planejam abandonar a categoria assim que concluírem o ensino superior.
Se o Sindicato não tem ou não ocupa lugar de importância na vida do jovem, qual a instituição que atende seu anseio ou lhe dá atenção política?
Agnaldo: Existe ampla literatura acadêmica demonstrando que os jovens são muito sensíveis à organizações que giram em torno da vida cultural e religiosa. Grupos de identidade musical ou artística, bem como aqueles associados à confissões religiosas. E evidente que o acesso de amplas parcelas ao mundo virtual, nos últimos anos, leva a uma sociabilidade diferente da do tempo das velhas fábricas: no lugar do boteco, lan houses.
Apesar do distanciamento, o jovem respeita a atividade e a instituição sindical?
Agnaldo: Esse é um aspecto interessante detectado em minha pesquisa: existe um reconhecimento sobre as conquistas históricas do sindicato, ainda mais com a presidência da República bem avaliada de sua maior liderança, o Lula. Eles reconhecem que o patamar salarial na região e as demais conquistas são fruto de greves e mobilizações, mas sua cabeça está cada vez mais orientada para fora da categoria, daí a pouca propensão à participação militante.
Você afirma que o trabalho do jovem como metalúrgico é transitório. A profissão perdeu prestígio político como tinha há 30 anos?
Agnaldo: Perceba como as coisas estão conectadas – os jovens de hoje iniciam na carreira metalúrgica com um salário inicial acima daquele praticado em outras profissões (basta comparar com o telemarketing, que também emprega muitos jovens). Isso os leva a aumentar sua escolaridade, até o nível superior. E consequentemente se desenvolve uma aspiração de sair do chão de fábrica. Mas muitos deles sabem o quanto é arriscado essa mudança, então boa parte se mantêm na categoria. Isso é diferente da geração do Lula, que sentia que ser metalúrgico em uma grande empresa, após sair do meio rural como migrante, era por si só uma vitória.
Essa transitoriedade ocorre entre os jovens menos formados (sem o superior ou sem a pretensão ou possibilidade de cursá-lo), migrantes (sem a herança operária de pais e avós) e das fábricas menores?
Agnaldo: A escolaridade, a origem e a dimensão da empresa, assim como o gênero, fazem diferença. Minha pesquisa concentrou-se nas grandes montadoras de automóveis, e o que foi dito acima vale principalmente para esse caso. São garotos muito escolarizados e nascidos na Região Metropolitana ou no Estado. A baixa escolaridade e a atuação em fábricas menores tende a mudar as aspirações desses jovens, e o próprio trabalho sindical encontra mais dificuldades de arregimentação nessas realidades.
Recentemente entrevistamos jovens recém contratados para a linha de caminhões da Mercedes. De 10, nove estão em vias de formação na graduação ou cursando. Todos estão na escala mais baixa da profissão (trabalham na linha), porém têm perspectiva de trilhar uma carreira na montadora na área de suas formações. A fábrica não terá essas vagas para todos. Como lidar com uma eventual frustração?
Agnaldo: Esse é o nó górdio, difícil de desatar. Cito em meu livro um sociólogo norte-americano, Richard Sennett, que em várias obras vem mostrando como a antiga ética do trabalho está sendo corroída pela flexibilização das estruturas empresariais e a perspectiva do curto prazo que guia suas estratégias. As empresas querem comprometimento, mas não conseguem mais criar a perspectiva de carreira, de desenvolvimento dentro de sua estrutura organizacional. Então os jovens respondem com cinismo, não acreditam mais no discurso gerencial. Se os sindicatos encontram dificuldades de trabalhar com esse público, o mesmo passa a valer para os gestores das empresas.
Os jovens por você entrevistados sugerem alguma ação ou política do sindicato para permitir ou facilitar sua aproximação?
Agnaldo: Quando questionados sobre isso, muitos deles falaram que o sindicato deve olhar para os problemas que atingem esses “debutantes”, esses novatos na carreira. Muitos deles sentem que as preocupações do sindicato são as da velha guarda, as dos veteranos. A linguagem, carregada de clichés sindicais, são pouco atraentes a eles. Falam também da possibilidade da organização sindical oferecer espaços para o desenvolvimento cultural, como música, cinema etc. E é sempre bom lembrar que muitos dos entrevistados jamais colocaram os pés na sede. Isso implica em um trabalho de base, inclusive fora das grandes empresas, para mostrar o que o sindicato já faz e eventualmente seria de seu interesse, como jovem trabalhador.
*Atualizado em 25/11, às 19h15
Da Redação