Livro de Pochmann aborda abandono de projetos de país e ‘cancelamento do futuro’
Professor e economista reflete sobre transformações truncada do país e sua reprodução de um “passado trágico”
Foto: Divulgação
Com O Neocolonialismo à espreita – Mudanças estruturais na sociedade brasileira, lançado pelo selo Sesc, o professor e economista Marcio Pochmann pretende oferecer, como diz, um “diagnóstico de época, afastando-se das urgências do nosso tempo presente”. Concentra-se, em especial, na virada das décadas 1970 e 1980, que ele chama de “nossa grande catástrofe”. “Esse é o ponto de não retorno, que marcaria a nova época que vivemos mais de 40 anos depois”, afirma Pochmann em live organizada pelo Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (IE-Unicamp), com a presença de outros pesquisadores.
O livro trata da transformação do país de colonial para urbano e industrial e, agora, para o mundo dos serviços, um “ingresso precário” na era digital. O autor observa uma participação passiva e subordinada do país na divisão internacional do trabalho. Desse modo, “como mero importador de serviços digitais, o país parece cancelar o seu futuro”. Em consequência, reproduz seu passado trágico de mandonismo e clientelismo. Ou seja, um colonialismo moderno, “que se difunde crescentemente pela hegemonia do modelo primário exportador”. Uma transição ocorrida ainda que o modelo anterior não tenha sido concluído, desmontando a organização coletiva.
Concentração e dependência
Dividida em seis capítulos – transição social, ciclos econômicos, capitalismo periférico, neoliberalismo, pobreza, desconstrução do trabalho –,Neocolonialismo à espreita destaca também momentos de avanços nas políticas públicas e redução da desigualdade da renda. Mas esbarrando em obstáculos permanentes, como a concentração da riqueza e da propriedade. Agora, no entanto, o país volta a um cenário de dependência de produção e exportação de bens primários, aliado ao rentismo financeiro. “Dessa forma, o sentido da construção de padrão civilizatório superior encontra-se desfeito. O avanço possível concentra-se em poucos, enquanto o retrocesso observado serve a muitos”, afirma Pochmann no livro.
“De um lado, a degradação da estrutura social herdada da industrialização fordista tem desconstituído a antiga classe trabalhadora da manufatura e significativa parcela da classe média, o que fortalece a expansão do novo precariado. De outro, a concentração de ganhos significativos de riqueza e renda em segmento minoritário da população gera um contexto social inimaginável, em que somente uma parcela contida dos brasileiros detém parcelas crescentes da riqueza”, acrescenta.https://googleads.g.doubleclick.net/pagead/ads?client=ca-pub-2156703359938643&output=html&h=280&slotname=4119717339&adk=2461771606&adf=2193725252&pi=t.ma~as.4119717339&w=658&fwrn=4&fwrnh=100&lmt=1652703042&rafmt=1&psa=1&format=658×280&url=https%3A%2F%2Fwww.redebrasilatual.com.br%2Feconomia%2F2022%2F05%2Fpochmann-neocolonialismo-cancelamento-futuro%2F&fwr=0&fwrattr=true&rpe=1&resp_fmts=3&wgl=1&adsid=ChEI8OyHlAYQlNLHiqb84bDpARI5AGzDQFapVHTH9IHRZM3RcF7hir2lM3fUwN_pIMXLi_v1fET_GsOZdBlrcmz6fwDGM2RLIkqmHJ5i&uach=WyJXaW5kb3dzIiwiMTAuMC4wIiwieDg2IiwiIiwiMTAxLjAuMTIxMC4zOSIsW10sbnVsbCxudWxsLCI2NCIsW1siIE5vdCBBO0JyYW5kIiwiOTkuMC4wLjAiXSxbIkNocm9taXVtIiwiMTAxLjAuMTIxMC4zOSJdLFsiTWljcm9zb2Z0IEVkZ2UiLCIxMDEuMC4xMjEwLjM5Il1dLGZhbHNlXQ..&dt=1652706925602&bpp=2&bdt=238&idt=258&shv=r20220511&mjsv=m202205100101&ptt=9&saldr=aa&abxe=1&cookie=ID%3Dfaca0fd9d45ed35f-2242861b14bb000e%3AT%3D1632242473%3ART%3D1632242473%3AS%3DALNI_MackieicMgnkDQAZ62iw2dT-jqBNg&prev_fmts=1100×280%2C658x280%2C658x280%2C0x0%2C1005x124&nras=2&correlator=4418476832909&frm=20&pv=1&ga_vid=2110435693.1632242473&ga_sid=1652706926&ga_hid=870896575&ga_fc=1&u_tz=-180&u_his=1&u_h=768&u_w=1366&u_ah=728&u_aw=1366&u_cd=24&u_sd=1&dmc=8&adx=186&ady=3149&biw=1349&bih=657&scr_x=0&scr_y=533&eid=44759876%2C44759927%2C44759837%2C42531550%2C31067419%2C31067526&oid=2&psts=AGkb-H87yntvfs2TeLb5TRH9GW4ysjIoQ75woBgfU00aZJBkhLxqJrbkIvZPwXyf2bLjiYNYJ7GnNZb9Di0sl5Fo%2CAGkb-H9GK6d4fdjQzAqo0KoEv9Vur3Usycy32CmrtMPRwX7ityU17bVxIoKNx3dtl7vwNzzVW2zrl9aPNRQekyKPFUxTFuxQvnUGDyh_Qka91Fk%2CAGkb-H-5vFmQ-PtXcWodMgOrqyYuVTN7S-5GHO4hycFhw7ExCedbc8HUyh18kQP1zWV9O6NdwMC3ygyn9E_QcYQ%2CAGkb-H-yjMWt38UOenzrTIxtMoVzI-Xka4yzQJE8DQRpBBvfElnZwkYr9r7IDQbkqEmgabMpsDtJm0NRJtA_QWs&pvsid=4076728649515619&pem=896&tmod=305824869&wsm=1&uas=0&nvt=1&ref=https%3A%2F%2Fwww.redebrasilatual.com.br%2F&eae=0&fc=896&brdim=0%2C0%2C0%2C0%2C1366%2C0%2C1366%2C728%2C1366%2C657&vis=1&rsz=%7C%7CpeEbr%7C&abl=CS&pfx=0&fu=128&bc=31&jar=2022-05-12-18&ifi=4&uci=a!4&btvi=4&fsb=1&xpc=b6yxtvVPlF&p=https%3A//www.redebrasilatual.com.br&dtd=5528
Tragédia da desigualdade
Mercado, Estado, economia e política estão “entrelaçados”, diz a professora Maria Aparecida Bridi, da Universidade Federal do Paraná (UFPR). “Na medida em que, ao descortinar as várias transições que o país teve, (constatar que) os governos não foram capazes de alterar o papel do país na divisão internacional do trabalho. Não foi capaz de superar a dependência e a subordinação e sobretudo, o que é mais trágico, a desigualdade”, afirma.
Ela lamenta a existência de “classes dirigentes descomprometidas com um projeto de nação soberana”. Aponta as reformas que não ocorreram e poderiam levar o Brasil a outro patamar e a “opção pela desindustrialização” por governos neoliberais. Ainda que o “Estado pós neoliberal” (2003-2015, governos Lula e Dilma), em período mais recente, tenha buscado um olhar mais social.
Elias Jabbour, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), vê nova “heterodoxia”, vinda dos ano 1990, avessa ao nacionalismo e ao desenvolvimentismo. “Somos educados atualmente a odiar o Brasil”, comenta o professor, para quem é preciso enfrentar as mazelas do país “sem cair no discurso da negação da nossa história, do nosso autochicoteamento”.
Centralidade do trabalho
Economista-chefe do Instituto para Reforma das Relações entre Estado e Empresa (Iree), Juliane Furno aponta uma segunda mudança estrutural. “Dentro de um país que passou por uma transição truncada e precoce para uma economia de serviços.” Mas o livro de Pochmann, acrescenta, reafirma a centralidade do trabalho. “Houve modificações e permanências”, diz, propondo uma “nova lógica de direitos sociais”, que considere essas transformações.
Muitas mudanças trazem riscos aos trabalhadores, à sociedade, à vida no planeta, à vida em família e à democracia. “E ainda à própria economia que os adeptos das reformas liberalizantes hoje dizem defender”, acrescenta a professora Magda Barros Biavaschi. Pesquisadora do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp, ela reflete sobre as resilientes heranças “escravocratas, patriarcais e monocultoras”. Lembra que governantes que tentaram romper esses processos foram “suicidados, maltratados pela história, destituído por golpe civil-militar, ‘impeachmados’ ou colocados na cadeia” por quase dois anos. “Será que é nosso passado autoritário que cria amarras?”, questiona.
Na apresentação deNeocolonialismo à espreita, o diretor do Sesc São Paulo, Danilo Santos de Miranda, trata de perspectivas e impedimentos. “Nessa transformação advinda da velocidade do tempo histórico, é o futuro da nação que se encontra em jogo. Então, o horizonte de possibilidades é disputado por projetos discrepantes ou, o que é mais alarmante, pela falta de um projeto.”