Localização, infraestrutura e mão de obra. Surge o ABC de hoje

Problemas comuns a um território exigem soluções comuns e o caminho mais curto para a busca de saídas é a integração regional. Essa é a essência da idéia da regionalidade que embala sonhos de alguns e expressa uma necessidade do ABC.
Por sua importância na vida dos trabalhadores e moradores do ABC, regionalidade é um dos doze temas do 6º Congresso dos Metalúrgicos.
Para entender porque a integração regional deve estar na agenda dos atores políticos, econômicos e sociais, é necessário conhecer a história do ABC.


Vagões da ferrovia Railway Company levavam ao porto de Santos o café para exportação

Café financia industrialização do ABC

Devido a proximidade com a capital do Estado e com o Porto de Santos, em quase todo o período colonial e do Império o território do ABC ficou conhecido como Caminho do Mar.
Isso porque era área de passagem para os tropeiros que deslocavam-se entre as duas regiões, com entregas vindas do porto ou do interior do Estado.
Apesar de sua fundação ter ocorrido junto com a própria colonização do País, o ABC só começou a pegar no breu no final do século 19, com o sucesso do café brasileiro pelo mundo.
O grão passava nas rotas da região com destino ao porto.
O clima úmido e agradável do ABC na maior parte do ano favoreceu a adaptação dos colonos europeus.

Reprodução Planeta Fusca

Fábrica da Volks em 1957, ano de sua inauguração

Logo em seguida, a região acompanhou a implantação da primeira ferrovia paulista, a São Paulo Railway Company (antiga Santos Jundiaí) e todas as suas conseqüências como o incremento comercial e a estruturação e urbanização do território.
Além da criação de pequenos núcleos urbanos próximos às estações, a ferrovia também impulsionou a expansão de fábricas de diversas especialidades, especialmente a moveleira e a têxtil.
No início do século 20, São Paulo já era a maior área industrial do País e o ABC contava com uma população de cerca de 25 mil habitantes, número significativo para a época.


Trabalhadores na metalúrgica Barilli, em São Bernardo, no início do século 20

O ABC metalúrgico

Nos anos 50, Juscelino Kubitschek lança o Plano de Metas, no qual o setor automobilístico é colocado como chave do processo de industrialização. Nesse momento, as multinacionais projetavam a abertura de filiais em países nos quais não enfrentariam queda dos lucros, como acontecia na Europa.
O Plano de Metas tornou o Brasil atraente para as montadoras. Mais uma vez, o ABC foi eleito para receber os investimentos das multinacionais do ramo automobilístico por sua localização privilegiada, aliada à experiência de empresas e de trabalhadores com atividade industrial, mais a infra-estrutura ferroviária e rodoviária (a Via Anchieta foi construída nos anos 40).
O ABC tornava-se então a Detroit brasileira e estruturou-se em torno da produção de veículos, chegando a responder por 80% da produção nacional de veículos. Assim, ganhou de vez a projeção nacional que vigora até hoje.
(No próximo capítulo, leia “Como surgiram os problemas do ABC”).