Luis Nassif Online: Os caças e a a pressão sobre Jobim

 Por Stanley Burburinho

Abaixo, duas matérias:

a primeira matéria foi publicada hoje pela Folha de São Paulo;

a segunda matéria, que fala sobre um vazamento do WikiLeaks, foi publicada há cinco dias pelo site Opera Mundi que fala sobre os caças americanos.

Quem está fazendo pressão sobre o Jobim para ele decidir rapidamente sobre os caças da FAB?

1 – A Folha de São Paulo publicou hoje:

“09/12/2010 – 09h37

Da Folha

Sob pressão, Jobim insiste em definição sobre caças da FAB

DE BRASÍLIA

Apesar da decisão da presidente eleita, Dilma Rousseff, de jogar o anúncio sobre os novos caças da Aeronáutica para depois da posse, o ministro Nelson Jobim (Defesa) pressiona para que o processo seja concluído ainda no atual governo.

O comandante da FAB, Juniti Saito, relatou anteontem, durante almoço com os três comandantes militares, temor de que haja um apagão na defesa aérea brasileira caso o processo emperre.

O ministro respondeu que o adiamento não estava decidido e que ele e Dilma voltarão a discutir a questão, possivelmente amanhã.

O apagão a que se referem é a aposentadoria, a partir de 2014, dos 12 Mirage-2000 que fazem a defesa primária do espaço aéreo da capital do país.

Dilma acertou com o presidente Lula, no domingo, que a compra dos 36 aviões a um custo que pode superar R$ 10 bilhões era algo muito complexo e ela precisaria de mais tempo para decidir –a despeito de o processo ter um parecer da FAB há um ano.”

http://www1.folha.uol.com.br/poder/843086-sob-pressao-jobim-insiste-em-d

2 – O Opera Mundi publicou domingo esse vazamento do WikiLeaks:

05/12/2010 – 15:04 | Redação | São Paulo

Wikileaks: “EUA fizeram lobby para Brasil comprar caças norte-americanos”

“Numa tentativa de tentar vender 36 caças para a FAB (Força Aérea Brasileira), a embaixada dos Estados Unidos no Brasil procurou o ministro da Defesa, Nelson Jobim e o comandante da FAB Brigadeiro Juniti Saito para influenciar na decisão,…”

“Em um telegrama do dia 19 de maio de 2009, a ministra Conselheira Lisa Kubiske pediu que Washington fizesse um lobby mais intenso, pois alguns contatos brasileiros “dizem não acreditar que o governo dos Estados Unidos esteja apoiando a venda fortemente”,…”

““Ela [a conversa] abriu as portas para que eu pudesse procurar o embaixador, como fiz”, explicou Saito durante um jantar por ocasião da visita do comandante do Comando Sul, o general Doug Fraser.”

“Em 5 de janeiro, pouco antes da mudança de embaixador, Lisa Kubiske envia outra mensagem informando que a embaixada tentaria influenciar Jobim para convencer o presidente.“

“Permanece, entretanto, o formidável obstáculo de convencer Lula. Nosso objetivo agora deve ser garantir que Jobim tenha argumentos reforçados ao máximo possível para ir a Lula em janeiro”.”

“Um dos telegramas obtidos pelo Wikileaks relata uma conversa telefônica entre Nelson Jobim e o atual embaixador dos EUA, Thomas Shannon, em 5 de fevereiro deste ano. O embaixador Shannon fez pressão, dizendo que “apesar da venda ser conduzida como uma transação comercial, a sua importância para a relação bilateral não deve ser ignorada”.

Do Opera Mundi

05/12/2010 – 15:04 | Redação | São Paulo

Wikileaks: EUA fizeram lobby para Brasil comprar caças norte-americanos

Numa tentativa de tentar vender 36 caças para a FAB (Força Aérea Brasileira), a embaixada dos Estados Unidos no Brasil procurou o ministro da Defesa, Nelson Jobim e o comandante da FAB Brigadeiro Juniti Saito para influenciar na decisão, segundo documentos obtidos pelo grupo Wikileaks.

Em um telegrama do dia 19 de maio de 2009, a ministra Conselheira Lisa Kubiske pediu que Washington fizesse um lobby mais intenso, pois alguns contatos brasileiros “dizem não acreditar que o governo dos Estados Unidos esteja apoiando a venda fortemente”, enquanto o presidente francês Nicholas Sarcozy estaria envolvido diretamente e os suecos estariam atuando “em nível ministerial”.

Lisa afirmou acreditar que a falta de atuação pessoal “é uma desvantagem crítica em uma sociedade brasileira na qual os relacionamentos pessoais servem de fundação para os negócios”. Nas mensagens, ressaltou que o governo deveria assumir posição favorável à aprovação de transferências de tecnologia.

“A embaixada recomenda o seguinte, como próximos passos a fim de reforçar nossos argumentos no que tange à transferência de tecnologia: uma carta do presidente Obama ao presidente Lula defendendo a causa; uma carta da secretária Clinton ao ministro da Defesa Jobim afirmando que o governo americano aprovou a transferência de toda a tecnologia apropriada”, escreveu a ministra.

Também recomendou tentar influenciar senadores que visitaram os EUA em junho de 2009. “Concentrando as atenções em senadores importantes, temos a oportunidade de conquistar o apoio de indivíduos que podem influenciar os responsáveis pela decisão e garantir que as pessoas que terão de aprovar os dispêndios do governo brasileiro compreendam que o F-18 lhes oferece mais valor”.

Em sua avaliação, a campanha francesa é mentirosa: “Nos últimos meses, o esforço francês de vendas vem se baseando em alegações enganosas, se não fraudulentas, de que seu caça envolve apenas conteúdo francês [o que o isentaria dos incômodos controles de exportação dos Estados Unidos]. Mas isso não procede. Uma análise da Administração de Segurança da Tecnologia de Defesa encontrou alta presença de conteúdo norte-americano, o que inclui sistemas de mira, componentes de radar e sistemas de segurança que requererão licenças norte-americanas”

Apoio

A decisão norte-americana de atuar mais fortemente foi vista com bons olhos pelo brigadeiro Juniti Saito. Por causa da atuação pessoal de Obama, que conversou com o presidente Luís Inácio Lula da Silva na cúpula do G8 em Áquila, na Itália, em 9 de julho de 2009, Lula teria instruído Jobim e Saito a conversarem com o Conselheiro de Segurança Nacional, general James Jones, segundo um telegrama de 31 de julho de 2009.

“Ela [a conversa] abriu as portas para que eu pudesse procurar o embaixador, como fiz”, explicou Saito durante um jantar por ocasião da visita do comandante do Comando Sul, o general Doug Fraser.

Em 5 de janeiro, pouco antes da mudança de embaixador, Lisa Kubiske envia outra mensagem informando que a embaixada tentaria influenciar Jobim para convencer o presidente.

“Permanece, entretanto, o formidável obstáculo de convencer Lula. Nosso objetivo agora deve ser garantir que Jobim tenha argumentos reforçados ao máximo possível para ir a Lula em janeiro”. Para ela, o “alto preço” do Rafale e “as dúvidas sobre o desenvolvimento do Gripen” levariam o Super Hornet a ser a “opção óbvia”. Mas “o fato é que Lula reluta em comprar um avião dos EUA”.

Um dos telegramas obtidos pelo Wikileaks relata uma conversa telefônica entre Nelson Jobim e o atual embaixador dos EUA, Thomas Shannon, em 5 de fevereiro deste ano. O embaixador Shannon fez pressão, dizendo que “apesar da venda ser conduzida como uma transação comercial, a sua importância para a relação bilateral não deve ser ignorada”. Segundo ele, “a decisão inédita de transferência de tecnologia americana em apoio ao Super Hornet mostra o alto grau de confiança que o governo norte-americano coloca na sua parceria com o Brasil”.

A menos de um mês do final do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, a compra dos caças continua sem definição e deve ser decidida pela presidente eleita Dilma Rousseff. Nesta semana, ela deve retomar a discussão em reunião com o ministro Jobim.