Lula: Crise tornou países mais iguais e abriu espaço para nova ordem global

"Antes da crise, tínhamos países que sabiam mais do que os outros. Antes da crise, o Estado não tinha nenhum papel relevante. Depois da crise, todos nós ficamos mais iguais"

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta quarta-feira (17) no Cazaquistão que a crise tornou os países mais iguais, abalou certezas e abriu espaço para a construção de uma nova ordem global.

“Antes da crise, tínhamos países que sabiam mais do que os outros. Antes da crise, o Estado não tinha nenhum papel relevante. Depois da crise, todos nós ficamos mais iguais”.

“Já não existe mais ninguém no mundo com certeza absoluta do que faz”, disse o presidente durante a visita ao palácio presidencial de Akora, sede do governo cazaque.

“Por isso, existe uma possibilidade enorme de trabalho para a nova ordem financeira mundial. Para isso, temos que reformar as Nações Unidas e fortalecer e reformar as instituições financeiras internacionais, sobretudo o FMI e o Banco Mundial”, acrescentou Lula ao lado do presidente cazaque Nursultan Nazarbayev.

Ex-líder do país durante o regime soviético, Nazarbayev foi eleito presidente em 1991, ano em que a União Soviética se desintegrou, e reeleito em 1999 e 2005, estando no poder há mais de 20 anos.

Convergência

Lula é o primeiro presidente da América Latina a visitar o país, que tem umas das maiores reservas inexploradas de petróleo do mundo.

Segundo Lula, Brasil e Cazaquistao convergem na iniciativa de democratização da ordem mundial. “O mundo mudou, e é preciso agir conforme as novas regras”, disse.

Ao descrever o encontro com o presidente cazaque, Lula disse: “Mencionamos as iniciativas para reformas das instituições econômicas e políticas”, disse, referindo-se à ordem global e não à situação interna do Cazaquistão, cujo presidente vem sendo reeleito em pleitos criticados por diversas organizações.

Brasil e Cazaquistão têm um volume de comércio ínfimo, de US$ 50 milhões, segundo a embaixada brasileira em Astana. Os números do governo do Cazaquistão são maiores, de US$ 270 milhões. A diferença se deve à triangulação no comércio que faz com que o país seja passagem para outros destinos de exportações brasileiras na região. Os dois países dizem ver um grande potencial de expansão.

Lula anunciou que, em setembro, o vice-ministro brasileiro da Indústria, Desenvolvimento e Comércio virá ao Cazaquistão, acompanhado de uma missão empresarial, e que o Ministério das Minas e Energia vai discutir parcerias com o país na área de biocombustíveis e petróleo.

O ministro das Relações Exteriores brasileiro, Celso Amorim, acrescentou que o BNDES e o banco de fomento cazaque estão próximos de uma parceria que pode prever o financiamento de investimentos recíprocos.

Nova Ordem

As declarações de Lula sobre a nova ordem global, ao lado do presidente do Cazaquistão, reforçam o resultado da cúpula dos países emergentes do BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China), realizada nesta terça-feira na cidade russa de Ecaterimburgo.

No documento final, eles defenderam uma serie de interesses comuns principalmente na área econômica e financeira.

O presidente cazaque mencionou que existe grande potencial de ampliar a relação entre os dois países, citando possibilidades na área de economia e também de intercâmbio político, sem dar detalhes.

Durante o discurso, Lula mencionou também um projeto que levou 26 adolescentes do Cazaquistão para jogar futebol no Brasil. O projeto, Olé Brasil F.C., tem mais 11 na lista de espera.

“Espero que os jovens no Cazaquistão não fiquem melhores do que os brasileiros, no máximo, iguais”, brincou Lula.

Da BBC Brasil