Lula critica Nissan por obstruir direito à sindicalização nos Estado Unidos
´Chega a ser difícil de acreditar – e causa indignação – que a Nissan mantenha atitude de intolerância em uma planta norte-americana´, diz ex-presidente, em carta à direção da montadora
Nissan, que desfruta de incentivos fiscais, obstrui aproximação dos empregados de representação sindical
São Paulo – O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse à direção da Nissan estar preocupado com os relatos de dificuldades impostas à filiação sindical na fábrica da montadora em Canton, no estado do Mississippi (EUA).
Em carta enviada ao presidente mundial do grupo Renault/Nissan, o executivo brasileiro Carlos Ghosn, e ao dirigente da Nissan Toshiyuki Shiga, Lula afirma que a companhia tem papel destacado no cenário global, mas critica a postura da empresa em relação aos trabalhadores norte-americanos.
“Entendo que o grupo Nissan-Renault mantém relações respeitosas com os sindicatos no Brasil e em outros países. Porém, estou muito preocupado com a campanha antissindical que a Nissan tem feito nos Estados Unidos, considerando que o direito de sindicalização é um direito humano universalmente reconhecido e uma exigência taxativa da Organização Internacional do Trabalho”, afirma.
No documento, eleva o tom ao expressar que tal postura “chega a ser difícil de acreditar – e me causa um sentimento de indignação”. Desde a instalação da fábrica na cidade, em 2003, o United Auto Workers (UAW, sindicato que representa os trabalhadores do setor automotivo nos Estados Unidos, Canadá e Porto Rico), tenta, sem sucesso, levar uma campanha de sindicalização aos empregados da unidade. A Nissan recebe incentivos fiscais dos governos estadual e municipal.
O desrespeito nas relações de trabalho é uma das mazelas da democracia norte-americana. Nos últimos 30 anos, a partir da era Ronald Reagan, o nível de sindicalização despencou. No setor privado, apenas 7% dos trabalhadores são sindicalizados.
Leia íntegra da carta
Prezados Senhores Ghosn e Shiga-san,
Considero a Nissan uma empresa global de destaque, que fabrica produtos da maior qualidade, e fico muito satisfeito que ela esteja operando unidades de montagem nos Estados Unidos, assim como em meu país. Contudo, sinto-me obrigado a comunicar-lhes uma séria preocupação que me foi trazida com relação à resposta da Nissan aos esforços de sindicalização nos Estados Unidos.
Já recebi duas delegações de trabalhadores norte americanos da unidade da Nissan em Canton, Mississippi, que me relataram graves dificuldades impostas naquela fábrica às atividades sindicais.
Entendo que o grupo Nissan-Renault mantém relações respeitosas com os sindicatos no Brasil e em outros países. Porém, estou muito preocupado com a campanha antissindical que a Nissan tem feito nos Estados Unidos, considerando que o direito de sindicalização é um direito humano universalmente reconhecido e uma exigência taxativa da Organização Internacional do Trabalho, organismo das Nações Unidas, em várias de suas convenções oficiais.
Sendo assim, chega a ser difícil de acreditar – e me causa um sentimento de indignação – que a Nissan mantenha essa atitude de intransigência e intolerância em uma planta norte-americana, cabendo indagar se isso decorre de alguma decisão da própria empresa ou, mais grave ainda, se é fruto de intervenções inaceitáveis do governo dos Estados Unidos.
Apelo, portanto, ao mais alto nível de direção empresarial da Nissan, no sentido de alterar imediatamente esse tipo de prática antissindical, colocando-se em sintonia com os valores democráticos nas relações de trabalho que devem nortear todas as empresas nesse início de século 21, abolindo restrições e barreiras que eram próprias dos séculos anteriores ao século 20.
Agradeço sua atenção e espero iniciativas saneadoras. Muito obrigado.
Luiz Inácio Lula da Silva