Lula defende “nova ordem” e diz que estatização de bancos não deve ser descartada por ideologia

"Todos nós aqui, líderes, empresários, homens do sistema financeiro, devíamos confessar que o mundo cometeu um erro em confiar na economia virtual. Não é justo que alguém ganhe bilhões e bilhões em sem produzir nada, apenas trocando papéis"

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou, na abertura do Fórum Econômico Mundial da América Latina, no Rio de Janeiro, o sistema financeiro global. “Todos nós aqui, líderes, empresários, homens do sistema financeiro, devíamos confessar que o mundo cometeu um erro em confiar na economia virtual. Não é justo que alguém ganhe bilhões e bilhões em sem produzir nada, apenas trocando papéis.”

Lula defendeu a construção de “uma nova ordem econômica mundial” e disse que a estatização de bancos em dificuldades não deve ser evitada apenas por preconceito ideológico.

Ele mencionou a ironia de o Brasil, depois de ter passado tantos anos tomando dinheiro emprestado do FMI (Fundo Monetário Internacional), agora surge como credor da instituição. “Passei 20 anos da minha vida carregando cartazes que diziam ´Fora FMI´. Agora meu ministro da Fazenda [Guido Mantega] me disse que vamos emprestar dinheiro para o FMI. Mas nós vamos dar esse dinheiro com uma condição: que ajude os países pobres do mundo.”

O Fórum latino-americano, que se iniciou nesta quarta-feira e segue até amanhã, terá mais de 500 participantes de 37 países, segundo a organização. Trata-se de uma etapa regional do Fórum Econômico Mundial reúne anualmente, na cidade suíça de Davos, os maiores empresários e líderes do mundo para discutir questões globais.

A última reunião em Davos foi entre janeiro e fevereiro deste ano. Esse encontro do Rio de Janeiro é uma rodada regional da América Latina. Será realizado um outro evento local na África.

O presidente de Cuba, Raúl Castro, foi convidado, mas não vai participar. Entre chefes de Estado, além de Lula, estarão presentes apenas os presidentes da Colômbia, Alvaro Uribe, e Leonel Fernández, da República Dominicana.

Devem participar também outros políticos, como a presidenciável Dilma Roussef, chefe da Casa Civil, o governador do Rio, Sérgio Cabral, o prefeito carioca, Eduardo Paes, e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles.

O Fórum sempre recebe críticas de manifestantes e de governantes de esquerda. Até uma instância alternativa foi criada para se contrapor aos empresários: o Fórum Social Mundial, organizado por ONGs e ativistas como uma resposta ao Fórum Econômico. Sempre acontece na mesma época. Neste ano, foi realizado em Belém (PA).

“A reunião acontece num momento crucial para a América Latina. Depois da recente cúpula do G20 em Londres, o evento será uma oportunidade para os participantes debaterem como devem ser as respostas da região à crise econômica global, em termos concretos”, afirma Emilio Lozoya Austin, diretor do World Economic Forum para a América Latina, em entrevista no site oficial da entidade.

“Com sua imensa riqueza em recursos naturais e biodiversidade, força de trabalho jovem e sistemas financeiros relativamente estáveis, a América Latina tem capacidade de enfrentar a atual crise com sucesso. Entretanto, não deve perder de vista o desafio no longo prazo de harmonizar a expansão econômica com o progresso social”, diz.

De acordo com a assessoria do Fórum, o programa de discussões no Rio foi elaborado para analisar como a região está respondendo à crise econômica e se baseia em cinco pilares: respondendo de forma proativa à desaceleração econômica; construindo relações entre regiões; integração para construir um futuro melhor; políticas públicas para crescimento sustentável; e desafios e oportunidades para um ciclo de desenvolvimento verde.

Do UOL