Lula destaca igualdade entre desenvolvidos e emergentes na cúpula do G20
Brasil propõe a China que trocas comerciais entre os dois países sejam feitas nas moedas locais, o real e o yuan
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva ressaltou nesta quinta-feira que, pela primeira vez, os países desenvolvidos e as nações emergentes, reunidos na cúpula do G20, se sentaram em torno de uma mesma mesa em “igualdade de condições”.
Lula afirmou que, em todos os seus anos de mandato, esta foi a primeira vez em que participou de uma reunião na qual os países ricos e em desenvolvimento estiveram representados “em igualdade de condições”, circunstância que atribuiu a uma crise global que requer uma resposta coordenada.
“É a primeira reunião na qual não fomos tratados como se não soubéssemos nada”, disse o presidente, segundo quem isso aconteceu porque, na atual situação, “ninguém tem certeza do que tem que ser feito”. Nem “mesmo o Fundo Monetário Internacional (FMI)”, acrescentou
Em entrevista coletiva após a cúpula na capital britânica, Lula ressaltou que o consenso alcançado “é importante para o futuro da humanidade”.
Segundo o chefe de Estado, na reunião desta quinta, os líderes das principais economias industrializadas e emergentes concordaram em restaurar os fluxos de capital e em impulsionar uma regulação no sistema financeiro que fortaleça o setor produtivo e enfraqueça os especuladores.
Lula elogiou a decisão tomada sobre os paraísos fiscais, “que, no fundo, têm o dinheiro do narcotráfico e do crime organizado (…)”, e a publicação de uma lista dos países que não cumprem as normas de transparência da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE).
O presidente disse que todo mundo compreendeu a importância do fim das negociações para a liberalização comercial (Rodada de Doha), que ajudará a acabar com o protecionismo dos países europeus, sobretudo no setor agrícola.
Na reunião desta quinta, o G20 decidiu que a Organização Mundial do Comércio (OMC) e outros organismos multilaterais terão que denunciar os países que quebrarem as normas do livre-comércio, numa tentativa de acabar com o protecionismo.
Lula considerou este um primeiro passo positivo e se mostrou otimista quanto a novos avanços no futuro.
“O protecionismo é como uma droga”, disse. “Há momentos de êxtase e, depois, uma depressão profunda”.
Segundo o chefe de Estado, medidas desse tipo podem ser “boas para o comércio”, mas “são um desastre para a economia mundial”.
O governante também avaliou positivamente o aumento, para US$ 1 trilhão, dos fundos do FMI e do Banco Mundial (BM) “para socorrer os países mais necessitados”.
Lula confirmou ainda que o Brasil “está em condições” de fazer uma contribuição econômica ao FMI, confiante em que, até 2011, a cota de representação do país será aumentada. Porém, se recusou a falar de um valor específico.
Depois, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que, “nos próximos dias”, depois que o Governo brasileiro conversar com o diretor do FMI, será possível especificar a quantia da contribuição.
“Eu gostaria de entrar para a História como o presidente que emprestou alguns reais ao FMI”, brincou Lula.
Sobre a decisão do México de pedir US$ 47 bilhões ao organismo, o presidente afirmou que “o dinheiro está aí para os que precisem”, e que o México está numa posição vulnerável porque sua economia está muito ligada à dos EUA.
Além disso, Lula deu “graças a Deus” por, neste momento, o Brasil não precisar pedir a ajuda de órgãos multilaterais de crédito.
Emergentes precisam reduzir a dependência do dólar, diz Lula
O presidente Lula defendeu nesta sexta-feira (3) a busca de alternativas ao dólar. “Precisamos criar novos mecanismos para que não fiquemos tão dependentes do dólar”, disse. Ele contou que propôs ontem ao presidente da China, Hu Jintao, que as trocas comerciais entre os dois países sejam feitas nas moedas locais, mecanismo já adotado com a Argentina.
Lula reconheceu dificuldade de implementação da proposta, pois os bancos centrais de cada país têm suas regras específicas. Mas o presidente afirmou que é preciso buscar uma solução, tanto que é por este motivo que a China e a Rússia propõem a criação de uma nova moeda de reserva internacional, medida apoiada pelo Brasil.
Para o presidente, a crise criou uma situação extraordinária, porque o dinheiro está saindo dos países emergentes para a compra de títulos do Tesouro norte-americano, porque o dólar é a moeda universal, o que é um contrassenso. “Pela lógica, o dinheiro deveria estar fugindo dos EUA para os títulos do Tesouro brasileiro, porque temos uma economia muito mais sólida”, disse ele.
Lula afirmou que a proposta feita à China tem o objetivo de facilitar o comércio externo, já que os empresários brasileiros não precisariam ficar atrás do dólar para fazer as transações.
Segundo o Ministério do Comércio, Indústria e Comércio Exterior, a China já é um dos principais parceiros comerciais do Brasil. Em 2008, os chineses tiveram participação de 8,3% nas exportações brasileiras e ficaram na terceira posição entre os fornecedores. Entre os importadores, o país já ocupa o segundo lugar, com 11,6%, atrás apenas dos EUA.
DA Redação com BBC Brasil e Agência Estado