Lula e Brown vão defender no G20 maior regulação do sistema financeiro
Para Lula, é fundamental uma maior presença do Estado nesse processo. "Tenho uma visão do sistema financeiro, eu diria, um pouco mais rígida. Dou como exemplo o sistema financeiro brasileiro, em que é possível construir uma coisa mais sólida em que o Estado tenha o mínimo de ingerência"
No que depender da disposição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, a reunião de líderes das maiores economias desenvolvidas e em desenvolvimento, marcada para 2 de abril, em Londres, resultará em uma maior regulação do sistema financeiro internacional. O discurso foi afinado, durante encontro desta quinta-feira (26), no Palácio da Alvorada.
“Estamos determinados a fazer com que o sistema financeiro mundial passe por uma regulação. Não é possível que só o sistema financeiro não seja vigiado e não tenha uma fiscalização. É preciso que o sistema financeiro se reeduque para trabalhar junto com o sistema produtivo e não se transformar em um cassino, querendo ganhar dinheiro sem produzir um benefício, um emprego ou um produto”, disse Lula.
Gordon Brown também foi enfático na defesa da regulação e disse não acreditar em resistência dos Estados Unidos – até mesmo paraísos fiscais, como Andorra, Suíça e Singapura, Áustria e Hong Kong já anunciaram que se alinharão aos novos princípios internacionais, frisou. “Certamente haverá um avanço na regulação”, afirmou o primeiro-ministro britânico.
Para Lula, é fundamental uma maior presença do Estado nesse processo. “Tenho uma visão do sistema financeiro, eu diria, um pouco mais rígida. Dou como exemplo o sistema financeiro brasileiro, em que é possível construir uma coisa mais sólida em que o Estado tenha o mínimo de ingerência”, afirmou. E lembrou que todos aqueles que sempre criticaram a intervenção do Estado na economia pediram socorro aos governos nesse momento de crise.
“Aqui no Brasil costumava-se dizer que o Estado não valia nada, que só atrapalha, que, se não existisse governo, Estado, tudo seria melhor”. E completou: “Temos agora oportunidade de fazer com que o Estado volte a ser Estado. Não defendemos um Estado administrador, um Estado dono da economia, nós queremos apenas um Estado que seja o articulador, o indutor das coisas que acontecem dentro de cada país”, disse o presidente.
Os dois líderes defenderam o aumento do comércio como caminho para retomada do crescimento mundial. Nesse sentido, alertaram para o risco que representa a adoção de medidas protecionistas. Na cúpula do G20 financeiro, realizada em novembro passado, em Washington, os chefes de Estado concordaram com a necessidade de evitar barreiras ao comércio.
Apesar disso, estudo do Banco Mundial indicou que 17 dos 20 países do grupo adotaram medidas protecionistas desde a reunião. Ainda assim, o discurso antiprotecionismo será reiterado na cúpula de Londres.
“Comparo o protecionismo a uma droga. Alguém usa droga porque deve estar em crise e acha que os efeitos da droga poderão facilitar sua vida num curto prazo, mas os efeitos serão muito rápidos. Depois vem a depressão. No nosso caso, se não agirmos corretamente, além da depressão, virá a recessão, mais desemprego, mais instabilidade. E aí nós não temos previsibilidade do que pode acontecer no mundo, se não agirmos com responsabilidade”, ponderou Lula.
Lula e Gordon Brown ainda defenderão, no G20 (grupo dos países em desenvolvimento), a reforma do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial, para que se tornem mais democráticos. Segundo Brown, instituições idealizadas nos anos 40 não são adequadas para tratar da atual crise mundial.
Além de preparar o discurso para a reunião de líderes do G20 financeiro, Lula e Gordon Brown acertaram que trabalharão em conjunto para preparar a conferência do clima, em Copenhague, prevista para dezembro deste ano e da qual deve sair um acordo internacional pós-Protocolo de Kioto.
Eles também falaram sobre cooperação na área esportiva. Brasil e Inglaterra pretendem compartilhar experiências e conhecimento para as Olimpíadas de 2012, em Londres, e a Copa de 2014, no Brasil. Além disso, anunciaram parceria entre a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e a Confederação Inglesa de Futebol também para troca de experiências.
Da Agência Brasil