Lula e Obama se reúnem neste sábado para discutir estratégia contra crise
Expectativa é de que presidentes conversem sobre G20, protecionismo, diplomacia e etanol
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva se reúne neste sábado (14) com o presidente americano, Barack Obama, em um encontro cercado pela expectativa de que os dois líderes busquem uma estratégia de consenso para enfrentar a atual crise na economia mundial.
Antes de embarcar nesta sexta-feira para Washington, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que sua maior preocupação na conversa que terá com o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, é a volta do crédito internacional, que secou com o recrudescimento da crise financeira global há seis meses.
“O que eu quero conversar com o presidente Obama, de forma muito franca, é como fazer para restabelecer o crédito internacional”, disse Lula após participar de cerimônia no Palácio do Planalto.
O presidente afirmou que o debate sobre a crise será o foco do encontro marcado para este sábado na Casa Branca e que terá duração de uma hora.
“Não é o crédito de Estado para Estado, é o crédito para quem quer tomar dinheiro emprestado. É restabelecer a credibilidade da sociedade”, acrescentou Lula, que deixou Brasília às 13h30.
Segundo o presidente, a crise teve origem nos Estados Unidos, onde o sistema financeiro promoveu “o maior desastre das finanças que já vimos”, o que afetou a economia de todo o mundo, principalmente da Europa e do Japão. “Vamos torcer para que os EUA voltem à normalidade”, afirmou.
Ele evitou dar detalhes da conversa que terá com Obama. “Se eu disser antes, ele me telefona dizendo que eu não preciso ir, porque ele já leu pelos jornais. Porque tem coisa que tem que conversar e lamentavelmente não pode nem falar.”
Lula afirmou também que está otimista com a reunião do G20 (grupo dos países ricos e emergentes), marcada para Londres em 2 de abril, quando poderá conversar sobre as soluções para a crise com líderes da China, Japão e Índia, citou.
“Ou nós assumimos a responsabilidade pela crise e damos uma saída para ela ou ficamos esperando, como o Japão esperou na década de 1990 e demorou dez anos para sair da crise. Esta crise tem que terminar este ano, nós não podemos esperar dez anos”, afirmou Lula.
Expectativa
De acordo com analistas, a visita de Lula a Obama pode resultar na definição de uma série de princípios e condutas defendidos por Brasil e Estados Unidos para a reunião do G20, que será realizada no próximo dia 2 de abril em Londres.
Na opinião do presidente do centro de estudos Inter-American Dialogue, Peter Hakim, os Estados Unidos estão interessados em estabelecer esses princípios. “Se o Brasil estiver de acordo com os Estados Unidos, outros países entrarão também”, afirma Hakim.
A expectativa é de que o encontro do G20 – grupo que reúne países emergentes e as maiores potências econômicas do mundo – possa render acordos-chaves para combater a atual crise financeira.
Segundo o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, além da reunião do G20 e da crise financeira, a agenda do encontro entre Lula e Obama também deve incluir temas como energia e etanol, protecionismo, a Rodada Doha e a Cúpula das Américas, que será realizada em Trinidad e Tobago no dia 17 de abril.
De acordo com Peter Hakim, a preocupação com o sistema financeiro internacional deve levantar o tema do protecionismo americano. O Brasil deve “convocar os Estados Unidos a evitar o protecionismo e a garantir que seus mercados ficarão abertos e que não haverá restrição de capital”, diz o analista.
Há duas semanas, Amorim se reuniu com a secretária de Estado americana, Hilary Clinton, e disse que a melhor maneira de evitar o protecionismo é seguir adiante com a Rodada Doha de liberalização do comércio.
O diretor do programa de Estudos Latino-Americanos da Universidade Johns Hopkins, Riordan Roett, afirma que “esta é uma boa oportunidade de Obama abrir a discussão com Lula sobre o que poderia acontecer se as negociações (da Rodada Doha) fossem reabertas logo.”
Depois de uma reunião com o primeiro-ministro britânico Gordon Brown, Obama declarou que preferiria comprar petróleo do Brasil do que da Venezuela. Roett diz que há um claro interesse em reduzir a dependência de petróleo da Venezuela e da Arábia Saudita, “que corre o risco de ter um novo governo radical no poder”.
Segundo o brasilianista, as novas descobertas de petróleo no Brasil e os investimentos da China “fornecem um triângulo muito interessante para os americanos entre Estados Unidos, China e Brasil, e eles poderão se aproveitar dessa nova produção em cinco ou seis anos”.
Do outro lado está a questão do etanol. “Agora não há muito o que Obama possa fazer sobre a tarifa do etanol brasileiro nos Estados Unidos por causa da extensão da lei agrícola assinada no ano passado. Mas Obama pode sinalizar diplomaticamente que tem interesse no assunto”, afirma Roett.
Para Peter Hakim, Lula deve levantar o tema e dizer que, enquanto os Estados Unidos mantiverem o etanol brasileiro fora do território americano, não haverá uma parceria real.
Na opinião de Riordan Roett, uma conversa entre Lula e Obama sobre a Cúpula das Américas também seria importante porque o encontro de Trinidad e Tobago “será a primeira vez que Obama vai interagir com presidentes como Rafael Correa (Equador), Evo Morales (Bolívia) e Hugo Chávez (Venezuela), e ele deve levar uma mensagem de cooperação para a região”.
Para Roett, “uma decisão sobre Cuba está diretamente relacionada à cúpula e como a Casa Branca pretende comunicar uma relação mais flexível do que a do governo Bush”.
Segundo Hakim, Lula “provavelmente vai dizer a Obama para não confrontar a Venezuela e tentar encontrar caminhos para aliviar as tensões entre os dois países”.
Na opinião do historiador Thomas Skidmore, Lula tem sido muito esperto em lidar com Chávez, Morales e outros líderes nacionalistas da região.
“Ele beija o Castro na bochecha e depois conversa com o Chávez”, diz Skidmore. “Lula tem sido muito hábil em relações públicas, evitando ser classificado como anti-Chávez, o que os americanos adorariam fazer.”
“Lula é uma ótima pessoa para aconselhar os americanos a serem mais sutis, menos defensivos, deixar as coisas tomarem seus cursos”, acrescenta o brasilianista.
Lula será o terceiro chefe de Estado a visitar a Casa Branca desde a posse de Obama. O presidente chega logo atrás do primeiro-ministro do Japão, Taro Aso, e do primeiro-ministro da Grã Bretanha, Gordon Brown.
Depois de almoçar na casa do embaixador Antonio de Aguiar Patriota, Lula embarca para Nova York, onde participa de um painel para investidores na segunda-feira.
Da Redação, com G1 e Reuters