Lula: Emprego é coisa sagrada e deverá ser nossa obsessão
Sindicalistas entregam Pauta da Classe Trabalhadora ao ex-presidente, que elogiou o documento: “Quase um programa de governo, de reconstrução desse país", disse Lula
Cerca de duas mil pessoas participaram, na manhã desta quinta-feira (14), em São Paulo, da cerimônia em que sindicalistas da CUT e demais centrais entregaram a Pauta da Classe Trabalhadora para o ex-presidente Lula. Ao receber o documento elaborado por todas as centrais, com propostas focadas na geração de empregos, direitos, democracia e a defesa da vida, o petista elogiou a construção da pauta e disse ter ficado orgulhoso do conteúdo e da preocupação dos sindicalistas com os rumos do país.
“O que vocês estão apresentando é quase um programa de governo, de reconstrução desse país”, afirmou Lula após receber a pauta dos sindicalistas.
“Se os empresários de todos os setores tiverem a preocupação com o Brasil [que vocês tiveram ao elaborar este documento], não haverá dificuldade de o povo brasileiro voltar a ser feliz; […] queremos terminar o mandato sem ninguém morando debaixo das pontes e sem nenhuma criança passando fome”, disse o ex-presidente Lula, que prometeu levar as propostas adiante.
“Nós vamos instituir uma mesa de negociação permanente e vamos chamar os trabalhadores e os outros setores da sociedade como as universidades, vamos chamar as empresas para negociar e colocar a pauta a eles”, disse o ex-presidente Lula.
O pré-candidato a vice-presidente na chapa de Lula, o ex-governador de São Paulo, Geraldo Alkmin, também elogiou a Pauta da Classe Trabalhadora, e como Lula disse que é quase um plano de governo e afirmou que, para reconstruir o país, será necessário sentar e conversar com todos os setores da sociedade. “A luta sindical deu ao Brasil o maior líder popular deste país”, disse Alckmin que definiu o como ‘histórico’ o encontro com as maiores centrais sindicais de todo o país.
“O Brasil está aqui, unido nesse momento grave, onde nós temos um governo que odeia a democracia, que tem admiração pela tortura, que faz o povo sofrer. É nesse momento de desemprego, de estômago vazio, de inflação, de fome, de morte, 660 mil mortos, que o Brasil se agiganta nessa reunião histórica com as mais importantes centrais sindicais. Venho somar o meu esforço, pequeno, humilde, mas de coração e entusiasmo em benefício do Brasil. A luta sindical deu ao Brasil o maior líder popular deste país, Lula! Viva Lula! Viva os trabalhadores do Brasil!”, completou.
O ex-presidente Lula concordou que para reconstruir o país essa união é fundamental e acrescentou que é preciso desmistificar o conceito que se tem de que trabalhadores e empresas são inimigos. “Não é verdade que trabalhadores e sindicalista não querem o crescimento da empresa. Pelo contrário, quanto mais a empresa cresce, mas gera emprego e mais tem condição de aumentar o salário do trabalhador. O sonho do trabalhador é o emprego”, disse.
Lula relembrou os frutos positivos que a participação e a atuação do movimento sindical em seu governo geraram para o povo e para o país. “Foi um acerto e eu devo muito a vocês. Não foram poucas as reuniões que fizemos, que vocês foram a Brasília cobrar e, mesmo discordando muitas vezes, fizemos um governo que gerou 22 milhões de empregos com carteira assinada”, disse Lula.
“O Estado não pode ficar de apenas um lado”, disse o ex-presidente para reforçar que seu governo será – mais uma vez – de diálogo e com prioridade para a geração de emprego e renda. Fórmula usada em suas gestões, a inclusão dos mais pobres no orçamento, com programas sociais e políticas econômicas voltadas a essa população, é um be-a-bá fundamental para fazer a economia do país girar e ter estabilidade, como dizem economistas progressistas que lembrar de 2008, quando o mundo todo sofreu os impactos de uma crise econômica mundial e o Brasil sobreviveu sem penalizar nenhuma das classes sociais.
Lula afirmou que é plenamente possível ter esse país mais justo, mais solidário de volta, assim como é possível acabar com a miséria, gerar os empregos que a classe trabalhadora tanto precisa para viver com dignidade; “que é possível colocar o povo mais humilde nas universidades e fazer as pessoas tomarem café, almoçar e jantar todo dia”.
Sociedade tem força para acabar com retrocesso
Ao relacionar todos os retrocessos vividos pelo país nos últimos anos, como a destruição de políticas econômicas e sociais, o ex-presidente reafirmou que a sociedade sabe o valor e a força que tem e pontuou: “o Brasil não merece o que está passando”.
Diálogo é caminho para reconstrução do país
O diálogo será uma das prioridades de seu governo, disse Lula, afirmando que o
movimento sindical, assim como o empresariado terá papel central nesses debates cujo objetivo é mudar os rumos do país.
“O que queremos é construir com o movimento sindical uma parceria para reconstruir esse país. Queremos chamar as centrais sindicais e queremos chamar os representantes da indústria, a Fenaban [Federação Nacional dos Bancos]. Todo mundo vai sentar à mesa e eu vou querer saber qual é o compromisso de cada um para acabar com o empobrecimento no país”, disse o ex-presidente.
Eleger um congresso comprometido com a pauta da classe trabalhadora
Lula reforçou o que tanto ele como outras lideranças progressistas têm dito ao longo dos tempos. Não basta eleger um governo popular. O Congresso terá de ter outra configuração. Lula chamou atenção para que trabalhadores votem em trabalhadores – em candidatos que defendam seus interesses, caso contrário, a sabotagem, tal qual aconteceu em 2016, que culminou com o golpe contra Dilma Rousseff, será um perigo iminente.
E, com um congresso alinhado e pensando um país voltado aos trabalhadores e a geração de emprego, o trabalho de reverter o caos que vivemos hoje será um caminho mais fácil. “Vamos tentar reconstruir em quatro anos o que eles destruíram em pouco tempo. O emprego é coisa sagrada e deverá ser nossa obsessão”, disse Lula.
E justificou falando sobre o drama de não ter um trabalho. “Quando a gente tá desempregado, a vida vira uma desgraça, não tem o que comer, não tem como por dinheiro em casa”. E ainda criticou as ações dos governos de Michel Temer (MDB-SP) e de Jair Bolsonaro (PL).
“Tentaram arrumar soluções como trabalho intermitente, o empreendedorismo, mas você não pode ser empreendedor se não tem direito a descanso, não tem renda. Tem que ter respeito”.
Sobre o tema, ele citou aplicativo criado na cidade de Araraquara, que protege trabalhadores e que possibilita que 90% da renda fica com os trabalhadores e não com as plataformas.
Movimento sindical
Antes da tão esperada mensagem do ex-presidente Lula aos presentes, representantes de categorias ligadas às Centrais Sindicais falaram sobre a pauta e
demandas especiais.
Para o presidente nacional da CUT, Sérgio Nobre, esse encontro dos sindicalistas com Lula foi um momento histórico em que todas as centrais se uniram em torno do apoio a uma candidatura e, assim, prova seu poder de mover o país.
“A unidade do movimento popular veio pra ficar. O simbolismo é muito importante. São as principais lideranças do movimento sindical falando a mesma coisa e querendo Lula presidente. Entregamos hoje a pauta e dissemos a ele que não está sozinho nessa luta”, disse Sérgio.
Representando os ramos da CUT participaram do ato Devyd Bacelar, coordenador-geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Moysés Selerges, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Juvandia Moreira, presidenta da Confederação Nacional dos Trabalhadores no Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Heleno Araújo da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) e Aristides Veras, presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura Familiar (Contag), reforçaram o panorama da situação de degradação social vivida pelos brasileiros.
A eleição começa agora
Para o secretário de Comunicação da CUT Roni Barbosa, o que se viu na Casa de Portugal, onde a cerimônia foi realizada, é parte de uma luta para reconstruir o Brasil que envolve diversas frentes. Uma delas e de grande importância se dá pelas redes sociais, campo de batalha explorado criminosamente pelos bolsonaristas em 2018, com a disseminação de fake news que resultaram na eleição do atual presidente.
As Brigadas Digitais da CUT são o instrumento de combate a essas fake news e de diálogo com os trabalhadores. “Estamos falando com a classe trabalhadora sobre os seus direitos, sobre a situação que cada brasileiro está passando e sobre o que é preciso para mudar”, disse o dirigente.
O projeto envolve toda a base da CUT – no Brasil inteiro e a meta é criar seis mil brigadas – grupos de WhatsApp com amigos, companheiros de trabalho, conhecidos da igreja, familiares, para que cada um desses grupos organizados por brigadistas tenha acesso a informações que podem mudar suas vidas.