Lula participa do Fórum Social Mundial, no Senegal
Ex-presidente se reúne com secretária-geral do Partido Socialista da França e afirma vontade de ver mulher na presidência do país europeu
Antes de participar de uma mesa sobre o papel geopolítico da África no Fórum Social Mundial 2011, nesta segunda-feira (07/02), o ex-presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva recebeu Martine Auby, secretária-geral do Partido Socialista da França, para um café da manhã no hotel. Lula é um dos participantes mais aguardados do evento deste ano, que acontece na cidade de Dacar, no Senegal.
Na saída do café da manhã, Auby, apontada como possível candidata na corrida presidencial francesa de 2012, disse ter ouvido de Lula que ele “gostaria de ver uma mulher na Presidência da França”. Lula não falou com a imprensa até o momento.
Além de Auby, que é prefeita de Lille e ex-ministra do trabalho, também disputam a indicação pelo partido Ségolène Roayal (que perdeu para Nicolas Sarkozy) e o diretor-geral do FMI, Dominique Strauss-Kahn. O atual presidente pode concorrer à reeleição, pela União Pelo Movimento Popular.
Auby disse que também falaram sobre as relações África-Brasil, África-América Latina e Sul-Sul. “A África está se desenvolvendo, começa a dar certo, o que a Europa tem dificuldades de entender. China e Brasil já compreenderam isso”, afirmou.
Sobre o desenvolvimento econômico, disse que ambos esperam ver um “novo modelo de desenvolvimento, com mais regulação financeira”. Ela elogiou o caminho trilhado pelo Brasil para sair da crise internacional. “[O país] compreendeu que era necessário estimular o consumo para sair da crise. Hoje o Brasil tem 5% de desemprego, antes era bem maior. É essa reflexão que deve haver entre os dirigentes do mundo, ao mesmo tempo escutando o desejo do povo nas ruas, que me parece uma boa forma de avançar e construir um bom caminho.”
Segundo Auby, “não há líder hoje no mundo, especialmente na Europa, em condições de levar a uma mudança”. Ela disse que “ninguém se impõe hoje em dia”.
Lula também foi recebido pelo presidente senegalês Abdoulaye Wade, para um encontro no palácio presidencial.
Ao ser recepcionado, elogiou a aparência de Wade, de 84 anos, que disse que Lula também parecia estar bem. “A vida de ex-presidente é melhor que a de presidente”, brincou Lula. Wade está na Presidência do Senegal desde 2000. Ele vai se candidatar a um novo mandato nas eleições do ano que vem.
Lula também disse a Wade que a presidenta Dilma Rousseff “está bem, vai fazer um governo exitoso”, e que também deve visitar o Senegal.
Durante FSM, Carvalho diz que Brasil tem posição cautelosa e não pedirá saída de Mubarak
O ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, afirmou que o Brasil “tem uma posição de cautela, observação e apoio à democracia” em relação aos recentes conflitos no Egito e não fará pedidos pela saída imediata do presidente Hosni Mubarak.
“Não podemos fazer uma intervenção desse modo – não é nosso feitio”, afirmou Carvalho, logo após participar da cerimônia de abertura da 11ª edição do Fórum Social Mundial, em Dacar, no Senegal. “Temos apenas a expectativa de que o presidente Mubarak tenha bom senso, evite o derramamento de sangue e a violência.”
Para Carvalho, “os movimentos de massa [do Egito] lembram muito os que tivemos no Brasil contra a ditadura. Esperamos que ocorra o mesmo que conosco: que esses movimentos saiam dessas lutas para regimes e sistemas de governo democráticos.”
O ministro chefia a delegação brasileira que participa do Fórum Social Mundial, que começou neste domingo (06/02) na capital do Senegal. Além dele, também estão no Senegal a ministra da Secretaria de Direitos Humanos Maria do Rosário, e a da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial Luiza Helena de Barros.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva já chegou a Dacar onde participa amanhã (7) de uma mesa sobre o futuro da África.
No discurso de abertura, Gilberto Carvalho lembrou que o país abrigou as primeiras edições do fórum, em Porto Alegre (RS), em 2001, onde se discutiram alternativas que, depois, se mostraram úteis no combate, por exemplo, à crise mundial.
“A crise nos levou a fugir do caminho imposto pelo FMI [Fundo Monetário Internacional] e outros órgãos, que levou à recessão e miséria”, disse Carvalho. “Era a fórmula da derrota. Mas vimos que nós podíamos encontrar o caminho verdadeiro, deixando de lado a cartilha neoliberal. Preferimos apostar no financiamento à produção e no consumo interno, que nos tirou da crise antes dos outros”
Carvalho disse que o Brasil compareceu ao fórum para ouvir e partilhar experiências. De acordo com ele, “governo nenhum salva país algum” sem ouvir a sociedade. “A crise internacional só confirmou que era preciso estabelecer novas relações econômicas, sociais e políticas no mundo. E o fórum foi esse laboratório.”
Repetindo um gesto feito pelo ex-presidente Lula em algumas ocasiões (inclusive no Senegal, em 2005), Gilberto Carvalho pediu desculpas pela escravidão, o que provocou muitos aplausos. O ministro reconheceu que a pobreza ainda é um problema que “envergonha e vitima milhões de brasileiros” e indicou que o combate à miséria seguirá como prioridade no atual governo.
Fórum Social Mundial vai discutir realidade africana a partir de amanhã em Dacar
Participantes de 123 países estão reunidos desde o último domingo em Dacar, no Senegal, para a 11ª edição do Fórum Social Mundial (FSM). A África e os problemas sociais enfrentados pelos povos da região deverão dominar as discussões durante os seis dias do evento. São esperados cerca de 50 mil participantes, a maioria deles de países da região.
O primeiro FSM ocorreu em 2001, em Porto Alegre, como uma alternativa ao Fórum Econômico de Davos. Desde então, o Brasil sediou a maioria das edições do evento que tem como slogan Um Outro Mundo É Possível. Em 2011, a programação vai dedicar um dia para debater exclusivamente a situação do continente africano.
“O local sempre influiu muito no tipo de discussão, até pela presença maior de pessoas daquela região. Isso é uma tradição do fórum”, explica o sociólogo Cândido Grybowsky, um dos fundadores do FSM.
Durante o chamado Dia da África e da Diáspora, marcado para segunda-feira, as mesas de debate vão incluir temas como crise alimentar, subdesenvolvimento, agricultura familiar, saúde, seguridades social, acesso à água e a saneamento. Mas Oded Grajew, também membro do grupo que fundou o fórum, acredita que a discussão irá se desdobrar para outros temas.
“Teremos muitos debates sobre a realidade africana, mas isso também vai levar o encontro a discutir uma série de outros temas como a distribuição de renda, a injustiça social no mundo, as mudanças climáticas. A África tem sido grande vítima dessas questões”, aponta.
Os conflitos no Egito e a questão da democracia no mundo árabe também devem ocupar espaço na agenda do fórum.
Grajew acredita que as discussões do FSM foram importantes para as “mudanças de rumo” dos quadros políticos da América Latina e a ênfase desses governos nas questões sociais. “Nas primeiras edições do fórum, o neoliberalismo já era uma das grandes discussões até ele se desmoralizar e hoje nem em Davos se fala sobre isso. Hoje a discussão é sobre um novo modelo de desenvolvimento, a questão de democracia, da governança global”, pontua.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que participou de todas as edições do FSM no Brasil, estará presente em Dacar. Como representante do governo brasileiro, a presidenta Dilma Rousseff vai enviar o ministro da Secretaria Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho. Integram a equipe ainda a ministra da Secretaria de Direitos Humanos, Maria do Rosário, e a ministra da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Luiza Helena de Bairros.
Da Agência Brasil