Luta contra o feminicidio tem que ser responsabilidade e compromisso de todos
Trabalhadores encerram ano com alerta sobre violência contra mulheres. Debate proposto pelo Sindicato amplia responsabilidade coletiva e fortalece a luta por respeito e igualdade

A assembleia na porta da Mercedes, em São Bernardo, reuniu nesta quarta-feira, 3, trabalhadores e trabalhadoras dos turnos para um balanço coletivo e, sobretudo, para um chamado urgente à responsabilidade de toda a categoria diante do avanço brutal do feminicídio no país. Logo no início, o presidente do Sindicato, Moisés Selerges, lembrou que nada do que existe hoje dentro da fábrica — PLR (Participação nos Lucros e Resultados), restaurantes, direitos, representação — caiu do céu.
“Antes não podíamos nem fazer assembleia. Tinha repressão, perseguição, qualquer reunião era enviada direto para a ditadura”, recordou, reforçando os 40 anos do Comitê Sindical e a luta que garantiu cada conquista. Citou rapidamente temas da montadora, como os investimentos futuros e o cumprimento dos acordos, mas foi direto: havia algo mais grave a tratar.
Com a diretora executiva do Sindicato ao lado, Andrea Sousa, a Nega, o dirigente chamou a atenção para o que classificou como um dos piores retratos do Brasil atual: a escalada da violência contra mulheres. “Vimos homens atirando, mutilando, assassinando mulheres porque não aceitam o fim de um relacionamento. São Paulo bateu recorde de feminicídios. Aonde nós vamos parar?”, questionou.

De janeiro a outubro, a capital paulista teve 53 casos, o número mais alto desde o início da série histórica em 2015. Em todo o Estado, foram 207 feminicídios neste ano e, no mesmo período de 2024, 191. Moisés ressaltou que nenhuma violência é aceitável — nem física, nem psicológica, nem moral — e reafirmou que o combate ao machismo não é um problema das mulheres, mas uma responsabilidade dos homens. “Todos nós nascemos e fomos cuidados por mulheres. Nada justifica o ódio. Precisamos desconstruir essa cultura”.
Campanha
O presidente anunciou que, a partir do ano que vem, o Sindicato iniciará uma campanha permanente sobre o tema, incluindo a elaboração de uma cartilha para ser distribuída em toda a categoria. “Se não formos nós, homens, quem vai enfrentar isso? Temos filhas, mães, companheiras. Não podemos naturalizar o feminicídio”, alertou, pedindo que o debate entre na rotina: “em casa, na igreja, no terreiro, no boteco, no trabalho”. Finalizou desejando um final de ano com família, amor e paz — e um 2026 com menos violência e mais vida.
Conexão

O coordenador da representação na Mercedes, Amarildo Marques de Souza, apresentou um breve panorama do ano. Lembrou que o primeiro semestre foi positivo e que, no segundo, a queda forte na produção de ônibus gerou negociações, folgas coletivas e lay-off. Na área de caminhões, praticamente não houve paradas. Destacou também o esforço conjunto do CSE (Comitê Sindical de Empresa) e da CIPA (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes) para ampliar o diálogo com a base. “Reconstruir a conexão com todos e todas é nosso maior desafio”, afirmou. E ressaltou que, apesar das dificuldades, o país avança em direitos, como a recente redução do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil.
Com as falas de Moisés e Amarildo, a assembleia terminou reafirmando o que sempre guiou os Metalúrgicos do ABC: luta coletiva, defesa da vida e compromisso com um futuro melhor dentro e fora da fábrica.