Maior presença do governo reduz efeitos da crise, revela estudo do BC
É o caso das regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste, em que gastos públicos representam fatia maior do PIB local
Estudo do Banco Central mostra que, onde a presença do governo é mais forte, a economia sofreu menor retração na atual crise financeira internacional. É o caso das regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste, em que gastos públicos representam fatia maior do Produto Interno Bruto (PIB) local. Outra característica que distingue essas áreas é a baixa dependência de crédito e de exportações para alavancar a demanda por seus produtos.
As conclusões fazem parte do relatório de economia regional do BC, cujo conteúdo vem sendo aprimorado para que, no futuro, possa formar, juntamente com o relatório de inflação, uma espécie de “livro bege” brasileiro, o documento mensal do Fed, o BC americano, que faz um amplo diagnóstico da economia dos EUA.
Uma das preocupações do BC é saber mais sobre como os choques sofridos pela economia, como a atual crise mundial, se propagam nas diversas regiões do País, afetando variáveis como atividade, emprego e inflação. Os dados da produção industrial divulgados pelo IBGE mostram que, nas turbulências atuais, a crise atingiu as diferentes regiões com intensidades bastante diferentes.
Num extremo, está a região Sudeste, que registrou o período mais agudo na crise entre setembro e dezembro, com retração acumulada da produção industrial de 22,2%. No Sul, foi muito próximo disso, com retração de 17,2%. O movimento mais suave foi no Centro-Oeste, em que o ápice foi no período setembro a fevereiro, com retração acumulada de 3,6%.
No Centro-Oeste, a presença do governo é mais forte. As despesas com administração, saúde e educação representaram, em média, 31% do PIB regional no período entre 2002 e 2006, o maior percentual do país. É mais do que duas vezes e meia a participação do governo, de 12%, na economia do Sudeste.
A produção industrial do Nordeste e do Norte sofreram, respectivamente, retrações de 12,9% e de 13,6%, nos períodos em que a crise teve sua repercussão mais aguda nessas regiões. A presença do governo nessas regiões é relativamente alta, de 22% no Norte e de 21% no Nordeste.
A face mais importante do governo nessas regiões, porém, é nas transferências governamentais. Os pagamentos do Bolsa Família e benefícios pagos pela Previdência foram de R$ 99 per capita no Norte e de R$ 170 no Nordeste. É bem mais do que no Sudeste, com R$ 76, e no Sul, com apenas R$ 54 per capita.
O Norte e o Nordeste têm peso relativamente alto em outro grupo de despesas do governos: os investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). As somas desembolsadas e previstas entre 2007 e 2010 representam 36% do PIB do Norte e 24% do Nordeste, bem acima dos 15% do Sudeste e do Centro-Oeste e dos 11% do Sul.
Além da menor presença do governo, diz o estudo do BC, a atividade industrial no Sul e no Sudeste foi mais atingida, porque são regiões mais dependentes do crédito e das exportações, dois dos canais mais importantes no contágio da crise financeira mundial sobre o Brasil. No Sul, as exportações equivalem a 18% do PIB, e no Sudeste, a 14%, numa métrica que considera os valores médios de PIB e exportações entre 2002 e 2006. No Nordeste, é de 9%, e, no Norte, 16%.
O estudo do BC reuniu um grupo de atividades consideradas vulneráveis à crise, porque são mais dependentes ao crédito e respondem menos à variação de renda. Entre eles, estão bens de consumo duráveis, bens de capital e construção civil. Esse conjunto de atividades responde por 14% do PIB do Sudeste e 10% do Sul. O percentual mais alto do País, porém, é o do Norte, com 20%. Ficam bem atrás Nordeste (4%) e Centro-Oeste (3%).
Da mesma forma que setores dependentes de exportações e crédito são mais afetados nas crises, observa o estudo do BC, eles respondem mais rapidamente quando há reativação da economia. Isso ajuda a entender porque, após forte queda até dezembro, a produção industrial do Sudeste e do Sul começou a reagir em janeiro.
Do Valor Econômico