Mais de 2,5 mil homossexuais foram assassinados em 25 anos
Estudo do Grupo Gay da Bahia mostra que a cada três dias uma pessoa é morta no Brasil por causa de sua orientação sexual
Com o tema “Homofobia é crime – direitos sexuais são direitos humanos”, a 10ª Parada do Orgulho Gay, realizada no último 17, protestou contra os crimes causados pela homofobia. De acordo com o presidente da associação da parada, Nelson Matias Pereira, a cada três dias uma pessoa é morta no Brasil por causa de sua orientação sexual. Pesquisa do Grupo Gay da Bahia (GGB) revela que, entre 1980 e 2005, foram assassinados 2.511 homossexuais no País, a maior parte vítimas de crimes homofóbicos. Homofobia é a aversão a homossexuais ou ao homossexualismo.
O ódio à homossexualidade se manifesta na crueldade como são praticados esses homicídios: dezenas de tiros ou facadas, uso de múltiplas armas, tortura prévia e declaração do assassino afirmando ter matado por odiar gays. Os estados de São Paulo e Pernambuco são os mais violentos. Entre as vítimas estão empresários, muitos cabeleireiros, padres e pais de santo e funcionários públicos. Os afro-descendentes são maioria.
Menos de 10% dos criminosos são levados a julgamento. Dentre as vítimas, 72% são gays, 25% travestis e 3% lésbicas. Para uma população estimada em 20 mil indivíduos, os transgêneros (travestis e transexuais) são proporcionalmente mais agredidos que as lésbicas e os gays, que somam mais de 18 milhões de brasileiros, 10% da população.
Aplausos e assassinatos
Segundo o Grupo Gay, no Brasil registram-se a média de oito crimes de ódio anti-homossexual a cada mês. Uma média de 100 homicídios anuais. A partir de 2000, essa média vem aumentando, e atingiu o recorde de 158 homicídios em 2004.
Para o antropólogo Luiz Mott, fundador do GGB e responsável pelo levantamento, “estes números são apenas a ponta de um pavoroso iceberg de ódio e sangue”. Já na avaliação de Marcelo Cerqueira, atual presidente do GGB, o poder público deveria ter uma postura mais rigorosa contra os crimes de ódio. “Que país é este que aplaude travestis no Carnaval e no dia seguinte mata um homossexual na esquina?”, questiona.
Sua afirmação vem ao encontro do crescimento de público da Parada Gay, que neste ano alcançou recorde de 2,2 milhões justamente no estado que mais registra casos de assassinatos de homossexuais: em São Paulo são 21 mortos por ano.
ABC e Zona Leste são regiões mais violentas
O ABC e a Zona Leste estão entre as regiões de São Paulo mais violentas para os homossexuais. A constatação é de Marcelo Gil, presidente da ONG Ação Brotar pela Cidadania e Diversidade Sexual (ABCDS), há dois anos com atuação em Santo André. “Podemos dizer que a cada três dias um homossexual é espancado ou morto no Grande ABC”, aponta Gil. Ele destaca, ainda, que muitos casos não são classificados como crimes de ódio nas delegacias e que, às vezes, o homossexual tem medo do próprio tratamento que receberá dos policiais.
“As ocorrências acabam sendo registradas como homicídios, latrocínio, sem destaque na mídia”, afirma, lembrando que apenas dois casos de assassinatos (em Paranapiacaba em 2004 e em Diadema, no ano passado) ganharam repercussão como crimes de ódio a homossexuais. Marcelo Gil ressalta ainda que a homofobia não se manifesta apenas na violência física, mas também na humilhação e ofensas verbais, que atingem a auto-estima.
“A pessoa é xingada com ódio por sua opção sexual. Isso atinge seu lado psicológico e pode até levar ao suicídio”, aponta. De acordo com ele, existem 350 mil homossexuais nas sete cidades do ABC. Os agressores em geral atacam em bandos, dando pouca chance de defesa ao homossexual.