Mais uma parada estratégica

A greve caixinha de surpresa preparada pelos trabalhadores na Volks exigindo contratações parou ontem a montagem final (ala 14) a partir do meio-dia e envolveu também o pessoal do segundo turno.

Os companheiros do primeiro turno pararam a partir do meio-dia, depois de assembléia, e permaneceram de braços cruzados até o final do expediente.

Já o pessoal do segundo turno nem trocou de roupa. Eles participaram de assembléia e voltaram para casa.

Durante as assembléias foi denunciada a atitude arbitrária da Volks, que tenta acabar com o movimento suspendendo membros da Comissão de Fábrica e diretores do Sindicato.

“É um retrocesso nas relações de trabalho, uma vez que essa postura ditatorial não resolve o problema e só serve para aumentar a insatisfação da companheirada”, disse Wagner Firmino, o Wagnão, do Comitê Sindical.

Ele voltou a denunciar a contratação de cerca de 250 bate-paus por parte da Volks, afirmando que a fábrica deveria contratar esse número de trabalhadores para as linhas de montagem.

Disse também que a greve caixinha de surpresa vai continuar até que a Volks abra negociações em torno das contratações necessárias.

Na sexta-feira passada, ocorreram ações na logística das alas 11 e 14. Também os trabalhadores do segundo e terceiro turnos na estamparia mostraram seu descontentamento e pararam o setor no final do dia.

Wagnão avisou que hoje serão realizadas novas ações. “Todos devem estar preparados”, concluiu.

Fábrica tenta reprimir movimento

A Volkswagen retomou as práticas utilizadas na época da ditadura militar que governou o Brasil entre 1964 e 1985. Ao invés de contratar mão-de-obra para desafogar o pessoal que está ralando na produção, a fábrica preferiu recorrer aos métodos que costumava usar durante a repressão: contratou cerca de 250 bate-paus, os conhecidos homens de preto, para intimidar os trabalhadores.

A prática terrorista da montadora, que espionava e denunciava trabalhadores à polícia política, foi comprovada por estudiosos do regime militar.

Segundo uma série de matérias que o jornal O Globo fez em maio, a Volks é uma das multinacionais envolvidas com os órgãos de repressão da ditadura, tanto aqui no Brasil como na Argentina.

Segundo o jornal, dia 11 de novembro de 1969, representantes de Volkswagen e de outras multinacionais que atuam no ABC Paulista se reuniram com o chefe do Departamento de Ordem e Política Social (Dops) na região, Israel Alves dos Santos Sobrinho, e o major Vicente de Albuquerque, do IV Regimento de Infantaria do Exército, para acelerar o funcionamento do Grupo de Trabalho (depois chamado Centro Comunitário) que serviria de cobertura à colaboração entre empresas privadas do ABC, o Dops e o Exército.

Ainda segundo o jornal O Globo, “Grandes empresas recrutaram pessoal nas Forças Armadas e na polícia, mantiveram aparatos de espionagem dos empregados dentro das fábricas e nos sindicatos. A Volks e a Chrysler, por exemplo, repassaram listas de funcionários aos órgãos de segurança, às vezes com as respectivas fichas funcionais”.

Faz 20 anos que o povo brasileiro enterrou a ditadura. Vale a pena perguntar se gestos como este que a Volks vem tomando desde a semana passada – como a contratação de bate-paus, advertências, suspensões e perseguições a companheiros – seria a retomada desta prática condenável.

Em tempo

Quando encerrávamos esta edição, recebemos a notícia de que diversos trabalhadores viram circulando dentro da fábrica uma viatura da tropa de choque da PM.

Terá sido mera coincidência? O que o choque estava fazendo na Volks?