MAN volta a parar produção no RJ

A MAN, montadora que disputa com a Mercedes-Benz a liderança do mercado de caminhões, vai dar férias coletivas e parar a produção por mais três semanas entre junho e julho. É mais uma medida de adequação à queda da demanda por veículos pesados no Brasil e na Argentina.

Os funcionários da fábrica da montadora em Resende (RJ), onde são montados caminhões e ônibus, saem em férias em 16 de junho e retornam ao trabalho no dia 7 do mês seguinte, conforme antecipou ontem o Valor PRO, serviço de informações em tempo real do Valor.

Desde o mês passado, as vendas de caminhões dão sinais de reação, mas para Roberto Cortes, presidente da montadora na América Latina, isso é mais reflexo da liberação de negócios que estavam represados no início do ano – quando havia maior burocracia nos financiamentos a bens de capital – do que propriamente uma melhora nos fundamentos do mercado.

As estimativas da empresa ainda apontam para uma queda superior a 10% do mercado de caminhões em 2014. Segundo os cálculos da montadora, a indústria de veículos pesados já está operando com ociosidade superior a 50% de sua capacidade instalada.

Antes de antecipar as férias coletivas, a MAN já vinha reduzindo o ritmo de produção com paradas de linhas, aproveitando, por exemplo, as emendas de feriados. Em abril, chegou a paralisar a fábrica por uma semana inteira. Para administrar o excesso de mão de obra, 200 operários foram afastados temporariamente da produção em regime de layoff, no qual contratos de trabalho são suspensos por até cinco meses.

Além da MAN, que produz veículos comerciais da marca Volkswagen, todas as demais marcas de caminhões, como Mercedes-Benz, Ford, Scania e Iveco, adotaram medidas para ajustar a produção. Só na semana passada, a Mercedes suspendeu um dos dois turnos de trabalho na fábrica de caminhões no ABC paulista e a Scania deu 14 dias de férias coletivas. Já na segunda-feira, será a vez de a Volvo antecipar férias, que vão durar três semanas para 400 operários de uma das linhas do parque industrial de Curitiba, no Paraná.

O setor teve um início de ano difícil, em virtude da demora na definição das novas regras do Finame, a linha de financiamento para bens de capital do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), principal motor do mercado de veículos comerciais. Depois disso, houve lentidão na liberação desse crédito, o que gerou grande volume de pedidos represados.

De janeiro a abril, a produção de caminhões caiu quase 10% e as vendas, 14,4% – ou 22% a menos do que o volume registrado em igual período de 2011, quando a demanda por esse tipo de veículo bateu recorde no país. Isso, na época, forçou montadoras a usar quase todo o potencial de produção.

“Não vejo muito motivo para essa queda não continuar”, diz Roberto Cortes, da MAN. Ele lembra que as vendas de caminhões, que vinham num ritmo de 13 mil unidades por mês no último trimestre de 2013, caíram para uma média próxima de 10 mil veículos neste ano. De acordo com fabricantes, o número de caminhões parados em pátios de montadoras e concessionárias chegou a alcançar, neste ano, volume suficiente para quatro meses de venda.

Na tentativa de reanimar essa indústria, o BNDES voltou a simplificar os processos de aprovação de crédito no Finame, que ainda teve um reforço no caixa disponível para os financiamentos de caminhões e ônibus. Já no início deste mês, a linha passou a cobrir até 100% do valor desses veículos, ou 90% nas operações envolvendo grandes empresas.

Cortes diz que tais medidas deram agilidade à liberação do crédito, mas fatores que vinham inibindo o mercado de caminhões persistem. Segundo o executivo, as empresas, diante de incertezas sobre os rumos da economia, seguem cautelosas em fechar novos pedidos, enquanto as compras públicas – que ajudaram a puxar a retomada das vendas de caminhões no ano passado – estão em baixa, dada a preocupação do governo em equilibrar suas contas.

Cortes acrescenta que, apesar das novas condições do Finame, os bancos comerciais repassadores do crédito estão cobrando entradas superiores às pedidas pelo BNDES – de 30%, por exemplo – para reduzir o risco das operações. “As amarras ao crédito continuam firmes”, afirma o executivo.

Os cortes de produção também persistem na indústria de carros de passeio. O último anúncio foi feito pela General Motors (GM), que vai parar nos três dias de jogos da seleção brasileira na primeira fase da Copa do Mundo, além de dar férias coletivas – de 12 dias a um mês – em algumas das linhas de suas três fábricas no país entre junho e julho. O objetivo, diz a GM, é ajustar o volume de produção à menor demanda do mercado brasileiro.

Da Valor Econômico