Mão de obra estrangeira desembarca no País
Em abril, a engenheira civil Almudena Olivares Piñera, de 25 anos, trocou a Espanha por Salvador. O motivo foi uma vaga de emprego na empresa responsável pela construção da Arena Fonte Nova, estádio que vai abrigar os jogos da Copa de 2014 na Bahia.
As perspectivas para a economia brasileira – principalmente se comparadas ao cenário de crise em países da União Europeia e nos Estados Unidos – tornaram trajetórias como a da jovem engenheira cada vez mais frequentes no País.
No primeiro semestre deste ano, o número de profissionais estrangeiros aumentou quase 20% em relação ao mesmo período de 2010. Segundo dados do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), entre janeiro e junho foram concedidas 26.545 autorizações para que profissionais de outras nacionalidades possam trabalhar no País, contra 22.188 nos mesmos meses do ano passado. “O Brasil se tornou um mercado com muitas oportunidades para um profissional qualificado”, diz a engenheira Almudena, que chegou ao País por meio da Aiesec, uma organização que promove o intercâmbio entre profissionais.
De acordo com Celso Grisi, professor da Fundação Instituto de Administração (FIA), a “invasão” dos estrangeiros está apenas no início. “Como nos países de origem a situação econômica está muito difícil, a chegada de novos trabalhadores internacionais tende a aumentar nos próximos anos”, afirma Grisi. Ao contrário dos países desenvolvidos, a economia brasileira deve avançar neste ano pelo menos 3,5%, nas estimativas da maior parte dos analistas.
Os estrangeiros são atraídos, principalmente, pelas oportunidades nas áreas de engenharia e de segmentos relacionados ao pré-sal. “Não tem muito o que fazer por enquanto, porque as empresas são as primeiras a buscarem profissionais estrangeiros”, afirma Grisi, referindo-se à baixa qualificação do brasileiro.
Regiões
A presença de estrangeiros tem crescido em especial fora do tradicional eixo Rio-São Paulo. O Nordeste e o Centro-Oeste, por exemplo, inverteram a tendência dos dois últimos anos e voltaram a atrair mão de obra internacional. Nessas regiões, a presença de trabalhadores “importados” cresceu 134% e 48%, respectivamente.
No Nordeste, nos primeiros seis meses do ano, a quantidade de mão de obra importada já supera a de 2010. Há dados curiosos quando se analisa a presença de estrangeiros por Estados. O Rio Grande do Norte, por exemplo, apresentou alta de 791% no número de profissionais do exterior no primeiro semestre. A capital do Estado, Natal, é uma das sedes da Copa do Mundo de 2014, o que motiva o aumento de estrangeiros na economia.
Na avaliação de Ricardo Lacerda de Melo, professor da Universidade Federal de Sergipe (UFS), o aumento de estrangeiros na economia do Nordeste ocorre por conta dos “investimentos estruturantes”. Ele destaca que o emprego regional cresce acima da média brasileira nos últimos anos: “A região recebe investimentos com a implantação de grandes empreendimentos em petroquímica, estaleiros, siderurgia e minérios”.
No Centro-Oeste, somente o Distrito Federal teve redução na contratação de estrangeiros – queda de 8% -, enquanto os demais Estados apresentaram alta no período. Ao contrário de anos anteriores, a migração para a região tem sido de profissionais qualificados, diminuindo o espaço de trabalhadores menos qualificados de países fronteiriços, como Bolívia e Paraguai. “Esses trabalhadores que estão chegando são mais capacitados”, diz Luiza Ribeiro, presidente da Fundação Social do Trabalho de Campo Grande, Mato Grosso do Sul.
Ritmo forte
Entre as cinco regiões brasileiras, o crescimento de trabalhadores estrangeiros é maior no Norte. Nos primeiros seis meses de 2011, a alta foi de 248% ante o mesmo período do ano passado. Em 2010, o número de trabalhadores estrangeiros por lá já havia dobrado. A região tem recebido muitos trabalhadores com baixa qualificação e que vêm de países mais pobres. Somente no Acre, foram concedidos 162 vistos para haitianos.
Em números absolutos, o Sudeste ainda é a região que mais atrai trabalhadores internacionais. Puxada pelos Estados do Rio e São Paulo, a região teve crescimento de 11% neste primeiro semestre. No ano passado, a alta foi de 68%. “Escolhi São Paulo porque queria morar numa cidade cosmopolita, aprender outro idioma e conhecer a cultura brasileira”, diz a colombiana Ana Maria Dominguez, de 24 anos, que desde março trabalha em uma empresa especializada em promover negócios sociais.
Do Estadão