Marcha anticorrupção repete diversidade mas mira STF e Congresso
Supremo Tribunal Federal (STF) e Congresso foram os dois alvos principais de mais uma marcha popular e apartidária, convocada pela internet, para protestar durante um feriado na capital brasileira. Sem a festa pelo Dia da Independência a estimular a ida à Esplanada dos Ministérios, cerca de 20 mil pessoas, nas contas da Polícia Militar (PM), saíram de casa e, ao contrário do ato de 7 de setembro, defenderam pautas concretas.
Dos parlamentares, exigiram o fim do voto secreto na Câmara e no Senado. Do STF, cobraram que declare a constitucionalidade da Lei da Ficha Limpa e que não casse poderes investigatórios do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Pouco se viu ou se escutou sobre o governo, que ao ter ministros acusados de corrupção, havia sido um dos combustíveis da passeata anterior.
Com a maioria vestida de preto e rosto pintado de verde e amarelo, muitos a carregar artificiais pizzas gigantes, vassouras e faixas, os manifestantes atravessaram a Esplanada recolhendo assinaturas para um abaixo-assinado cobrando a instalação, no Congresso, de uma CPI da Corrupção.
“Não queremos apenas fazer barulho. Queremos realmente mudar o país”, afirma a corretora de imóveis Daniella Kalil, uma das fundadoras do movimento que, embora ainda não esteja institucionalizado, já foi batizado de Movimento Contra a Corrupção (MCC).
Os personagens
Patrícia Kohlreusch e o marido Bernardo Falcão receberam o convite para ir ao evento por meio do Facebook, pelo qual 18 mil pessoas haviam confirmado presença até a véspera. Decidiram não só comparecer, mas também levar os filhos Bernardo, 6 anos, e Izabele, 9 anos. “Estamos lutando justamente para que eles possam viver em um país melhor. Por isso, é importante que eles também participem”, explicou a mãe.
A estudante Juliana Silva, 18 anos, estava um pouco decepcionada com a queda no número de participantes em relação à marcha de cinco semanas atrás. “Eu sei que muita gente está viajando, mas esperava que a mobilização aumentasse ou, pelo menos, se mantivesse”, observou. Para ela, a geração atual é muito acomodada. “Precisamos resgatar os cara-pintada e mudar esse estado de coisas”.
No ato anterior, que coincidira com o Dia da Independência, tinha sido mais difícil dimensionar quem fora à Esplanada só para protestar. Muita gente que havia assistido à parada militar na mesma avenida, mas no sentido oposto, pulara de um evento ao outro.
Naquela ocasião, a marcha tivera 26 mil confirmações pelo Facebook e iniciara com duas mil. O público oficial informado pela polícia sobre a passeata foi entre 30 mil e 40 mil pessoas, mesma platéia estimada para o desfile militar, que fora recorde.
A marcha desta quarta-feira começou com 10 mil pessoas, também de acordo com a polícia. Entre elas, o militar Vinicius Vieira, de 20 anos, que participou de patins. “Vim acompanhar uma amiga e decidi aproveitar para me exercitar”, disse.
Não foi o único. Muitos ciclistas, skatistas e patinadores cruzavam a Esplanada em apoio ao protesto. Os próprios organizadores se utilizavam de patins, skates e bicicletas para controlar o andamento da marcha, parecido com uma desfile de escola de samba. Segundo a PM, não foi registrado nenhum incidente durante os cerca de 3,5 Km de percurso.
Apartidarismo e diversidade
A exemplo do que ocorrera da outra vez, os organizadores não permitiram a participação de partidos. Não autorizaram sequer a presença de bandeiras. O movimento só aceita apoios individuais de políticos com algum histórico na luta pela democracia e contra a corrupção. “Decidimos, democraticamente, por voto direto, construir um movimento apartidário, e vamos cumprir com esse compromisso”, esclareceu Daniella.
A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), que mobilizou representantes de todos os estados para prestigiar a marcha, concorda com a decisão do movimento de se manter distante dos partidos.
“Os advogados estão aqui abraçando essa causa porque não têm rabo preso com partidos políticos. Desafio as entidades representativas dos magistrados e do Ministério Público a virem aqui, defender abertamente o combate à corrupção”, provocou o presidente da OAB, Ophir Cavalcanti.
Além da OAB, outras entidades mais tradicionais têm se aproximado do movimento. É o caso da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e do Movimento Contra a Corrupção Eleitoral (MCCE), que tiveram membros no ato.
“Nós iniciamos a luta pela aprovação da Lei da ficha Limpa, que depois mobilizou toda a sociedade. Agora, contamos com vocês para garantir que ela seja julgada constitucional pelo STF”, disse a coordenadora nacional do MCCE, Jovita José Rosa.
O Sindicato dos Servidores da Câmara, Senado e Tribunal de Contas da União (TCU) também mandou representantes à marcha para deixar claro que os trabalhadores também não aprovam a conduta antiética dos chefes.
Militantes da Associação Nacional dos Estudantes Livre (Anel) também participaram do protesto para cobrar a aplicação de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) na educação, assunto que está em discussão no Congresso – a proposta do governo eleva de 5% para 7% o investimento em educação até 2020.
Filiada à central sindical Conlutas, a Anel é uma dissidência da União Nacional dos Estudantes (UNE), criticada pelos organizadores por não comparecer à marcha.
Militantes do movimento gay também empunharam suas bandeiras durante a passeata. “A corrupção e o desvio dos recursos públicos também impede a implantação de políticas públicas LGBT que possam valorizar essa parcela da população”, justificou Cristiano Lucas Ferreira, do Movimento Revolucionário Triângulo Rosa.
Da Carta Maior