Média de mortes pela covid cresce e Brasil ultrapassa 487 mil vidas perdidas
“Patamar vexatório”, segundo ex-ministro da Saúde, é alimentado por Bolsonaro com campanha de boicote ao uso de máscaras e distanciamento. Volta à normalidade é incerta, analisa Arthur Chioro
O Brasil registrou 1.129 mortes em decorrência da covid-19 neste domingo (13). De acordo com o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), ao todo, 487.401 pessoas perderam a vida desde o início da pandemia, em março de 2020. E a tendência é que até o começo da próxima semana o país ultrapasse o trágico marco de 500 mil óbitos, conforme analisa o médico sanitarista, professor universitário e ex-ministro da Saúde, Arthur Chioro. Nos últimos sete dias, a média móvel de mortes pela covid chegou a 2 mil óbitos. Um aumento de mais de 8% na comparação com a média de duas semanas atrás.
A variação, contudo, indica tendência de estabilidade no total de vidas perdidas, mas em um patamar muito alto. O que preocupa o especialista. Em entrevista a Marilu Cabañas, do Jornal Brasil Atual, Chioro aponta a possibilidade de o Brasil reproduzir o comportamento da pandemia verificado de junho a agosto do ano passado. Foram 14 semanas seguidas com os indicadores de mortalidade estabilizados no patamar mais alto. “Essa pode ser uma tendência do que infelizmente vamos viver”, adverte.
O ex-ministro da Saúde ainda alerta que o país não está próximo de observar uma queda na média de mortes pela covid, como outras nações que estão avançando na vacinação. Atualmente, segundo dados do consórcio de veículos da imprensa comercial, a primeira dose do imunizante foi aplicada em 25,79% da população. E a segunda em apenas 11,17%. Nesse ritmo, a cobertura fica para depois de outubro. “Portanto teremos semanas desafiadoras pela frente”, explica Chioro.
Governo apostou na morte
Ainda segundo o especialista, a situação epidemiológica se agrava por conta da “naturalização” do total diário de vidas perdidas e da falta de adoção da chamada tríade de proteção, com o uso de máscaras, álcool em gel e distanciamento físico. O médico sanitarista analisa à Rádio Brasil Atual que a pandemia poderia ter tido outro curso se o comportamento da população fosse diferente. Mas a avaliação é que o governo de Jair Bolsonaro sabotou as medidas de enfrentamento e colocou o Brasil “nesse patamar vexatório de 500 mil mortos que vamos chegar ao longo dessa ou do começo da próxima semana”.
“Absurdos foram sendo construídos em torno de uma tese esdrúxula, que a CPI da Covid (no Senado) cerca agora. Temos um presidente da República que apostou na morte e na exposição irresponsável da população ao vírus como forma de alcançar a chamada imunidade de rebanho. Literalmente fomos tratados como gado, expostos ao risco”, contesta.
“É uma calamidade o país, que tem 2,7% da população mundial, responder por praticamente 12% do total de óbitos registrados no mundo. Não faz sentido. Enquanto o mundo começa a voltar à normalidade, nós ainda não temos noção de quando atingiremos uma cobertura vacinal segura. Isso porque retardamos a aquisição de vacinas e a adoção de medidas de proteção econômica e sanitária da população. Até hoje não testamos como devíamos. Sequer esses casos informados são expressão da realidade. Temos muitos milhões de casos a mais de pessoas que não foram testadas”.