Médicos bolsonaristas contra a ciência e as pessoas trans
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Em abril foi publicada a resolução nº 2.247 do CFM (Conselho Federal de Medicina) que proíbe a terapia hormonal antes dos 18 anos e veta o uso de bloqueadores hormonais na puberdade. Além disso, cirurgias de redesignação de gênero com efeito esterilizador (a grande maioria das cirurgias em mulheres trans) são proibidas para menores de 21 anos. Isso invalida a resolução anterior, que garantia acesso à hormonização a partir dos 16 anos e aos cuidados para pré-adolescentes com disforia de gênero (que é o sofrimento psicológico das pessoas que nasceram com o corpo não compatível com seu sexo).
Para especialistas, a norma causa um enorme retrocesso no bem-estar e na saúde da população transgênero — assim como na ciência brasileira, pois interrompe as pesquisas clínicas. A resolução exige dados de longo prazo sobre efeitos dos tratamentos para autorizá-los, mas simultaneamente impossibilita a produção de evidências (prove que tem, mas não te deixo fazer a prova). “É um tolhimento da pesquisa científica e de todo o acolhimento e trabalho que a gente vem fazendo”, diz Alexandre Saadeh, coordenador do Amtigos (Ambulatório Transdisciplinar de Identidade de Gênero e Orientação Sexual) da Faculdade de Medicina da USP.
Saadeh trabalha com a população trans há 35 anos e com crianças e adolescentes trans há 15 anos. “Até agora, nenhum integrante [do CFM] ouviu as pessoas que de fato vão sofrer com essa medida”, critica. Atualmente, um procedimento está em curso, no MPF (Ministério Público Federal), para apurar a legalidade da resolução.
E o embasamento do CFM segue um relatório de um estudo nacional do Reino Unido, que apenas apresenta os resultados lá, deixando claro a contínua pesquisa com os bloqueadores.
E ainda justificam que “a idade mínima de 21 anos para realização de procedimentos esterilizantes é justificada pois essa é a faixa etária exigida para cirurgias de infertilidade, como a vasectomia”. Isto não tem cabimento. Vasectomia é opção que até pode ser desfeita. Mudança de sexo, não.
Departamento de Saúde do Trabalhador e Meio Ambiente