Medidas do governo reduziram efeitos da crise
Entre elas estão as ações do Banco Central para reduzir a escassez e o encarecimento do crédito doméstico; a redução do IPI para o setor automotivo e a criação de linhas de crédito para carros usados
O quadro recessivo observado nos países desenvolvidos não está posto para a economia brasileira. Esta é a análise do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) exposta no documento “Crise Internacional: reações na América Latina e canais de transmissão no Brasil”, apresentado nesta quarta-feira (18), em Brasília.
“Existem vários elementos que permitem inferir uma possível melhora nas condições econômicas do País nos próximos meses, ou pelo menos, no segundo semestre de 2009”, diz o documento.
O texto do Ipea afirma ainda que o governo federal tem tomado uma série de medidas que contribuíram e continuarão contribuindo para reduzir os efeitos da crise. Entre elas estão as ações do Banco Central para reduzir a escassez e o encarecimento do crédito doméstico; a redução do IPI para o setor automotivo e a criação de linhas de crédito para carros usados; a continuidade dos investimentos no PAC e o aprofundamento de políticas sociais, como o aumento do salário mínimo e do Bolsa Família, além da ampliação do seguro desemprego. Todas elas, segundo o Ipea, “tendem a sustentar a demanda e os investimentos domésticos mesmo em face da crise externa.”
Quanto ao desempenho da indústria, o texto do Ipea pondera que “nesses primeiros meses do ano, talvez seja possível dizer que o pior do ajuste da indústria já passou.”
Perspectivas – Segundo o Instituto, a estabilidade dos indicadores para a indústria apurados por várias instituições, como a Fundação Getúlio Vargas, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) e a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), e a recuperação do índice de confiança do consumidor “podem não significar uma piora drástica para o primeiro trimestre do ano.”
O documento ainda acrescenta que “existem alguns sinais de que janeiro de 2009 não foi um mês tão difícil para a produção industrial como foi o mês de dezembro.”
Alguns sinais são o crescimento do volume de vendas e produção de veículos leves e o aumento do consumo de energia elétrica em janeiro.
Crédito – Nos meses de outubro e novembro ocorreu uma redução nas concessões de crédito na economia, mas os dados do Banco Central mostram que o volume de concessões de crédito já alcançou em dezembro do ano passado níveis similares aos observados antes da crise.
Com base nessa retração do crédito, o Banco Central (BC) instituiu leilões de moeda para aumentar a liquidez, com o compromisso de recompra futura e criou novo mecanismo de oferta de empréstimos em moeda estrangeira garantidos por títulos soberanos ou por cambiais de exportação destinados a financiar exportações. Além disso, o Federal Reserve realizou acordo de swap de US$ 30 bilhões com o BC, pelo qual a autoridade monetária brasileira tem garantido essa oferta de recursos até abril de 2009.
Para ampliar o funding de recursos internos, o Ipea lembra que o BC alterou as taxas dos depósitos compulsórios dos bancos sobre depósitos à vista e a prazo, a partir de outubro, o que injetou R$ 93,9 bilhões no sistema financeiro, até dezembro de 2008.
Demanda mundial – Outro canal de transmissão da crise analisado pelo Ipea é a redução da demanda mundial e seus impactos sobre as exportações. Segundo o documento, a desvalorização cambial pode ter significado um alívio para vários setores da indústria, que antes estavam “pressionados pela apreciação do Real e/ou pela concorrência chinesa, como têxteis, vestuário, calçados entre outros”, mas existem possíveis impactos negativos na balança comercial brasileira. Entre eles, a oscilação do preço das commodities e a redução da renda e da demanda mundial. Em janeiro deste ano, o volume de exportações caiu 29% em relação a dezembro e 26% em relação a janeiro de 2008. Mas o texto aponta que a primeira semana de fevereiro já mostrou uma pequena recuperação do volume exportado (17%) em relação a janeiro.
Expectativas – O Ipea avalia que o impacto da crise sobre as expectativas dos agentes econômicos (empresários e consumidores) parece ter sido muito maior e anterior ao impacto sobre as outras variáveis. Tal deterioração pode ter contribuído, de acordo com o documento, para uma “mudança de postura da indústria brasileira, no sentido de reduzir a produção e cortar custos, o que ajuda a explicar a forte redução observada na produção industrial.”
Do Em Questão