Meirelles: economia está forte para voltar a crescer

O presidente do Banco Central sustentou a avaliação ao lembrar que as reservas internacionais voltaram a crescer no Brasil, enquanto outros países acompanharam a diminuição do nível. Além disso, afirmou que "a política fiscal continua forte"

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, avalia que a economia do Brasil está mais forte para voltar a crescer porque “não foram criadas vulnerabilidades” para o enfrentamento da crise financeira. Em palestra sobre as perspectivas da economia brasileira e do agronegócio, em Goiânia, Meirelles disse que, ao contrário de outros países, o Brasil “vai sair mais forte porque a economia e os fundamentos não estão enfraquecendo”.

Meirelles sustentou a avaliação ao lembrar que as reservas internacionais voltaram a crescer no Brasil, enquanto outros países acompanharam a diminuição do nível. Além disso, afirmou que “a política fiscal continua forte”. Ele, porém, não comentou a recente retirada da Petrobras do superávit primário, nem a perspectiva de o governo ter de descontar a parcela do Projeto Piloto de Investimento (PPI) para atingir a meta de economia para o pagamento de juros em 2009.

Segundo Meirelles, um sinal de que a situação fiscal continua adequada é o comportamento do indicador da dívida. Ao apresentar a projeção para a relação entre a dívida e o PIB de vários países, ele destacou que o Brasil vai continuar com a tendência de redução do índice em 2010, ao contrário das economias centrais, como o Japão, Estados Unidos e o Reino Unido.

Compulsório
Meirelles respondeu aos críticos que sempre questionaram as alíquotas do depósito compulsório e a estratégia de acumulação de reservas internacionais. “Recebemos muita crítica quando tomamos medidas para nos preparar a uma situação desfavorável”, disse, ao lembrar que essa estratégia permitiu à autoridade monetária reagir à crise ao liberar R$ 100 bilhões em recursos do compulsório e, ao mesmo tempo, oferecer dólares diante da queda da oferta de empréstimos externos. Meirelles defendeu que essa estratégia foi bem sucedida. Conforme dados apresentados por ele, entre o agravamento da crise, em setembro de 2008, e maio de 2009, o crédito ofertado pelos bancos de grande porte cresceu 12,1%. Nos bancos pequenos e médios, no entanto, houve retração de 0,6%.

Medidas recentes, porém, mudaram o quadro, segundo o presidente do BC. “Os bancos menores têm retomado a oferta de empréstimos, principalmente no crédito pessoal e para pequenas e médias empresas, diante das medidas do compulsório e a criação de um seguro do Fundo Garantidor de Crédito. Isso, especialmente, deu mais tranquilidade aos investidores”, disse. Ele, porém, não atualizou os dados relativos a esse segmento.

Além da volta à normalidade no crédito, Meirelles repetiu várias vezes que, a despeito da crise, o Brasil retomou as compras de dólares para as reservas internacionais. “Isso é uma demonstração de força do Brasil”, disse. Com a volta da autoridade monetária às compras, o patamar das reservas subiu nos últimos dias e se aproxima novamente do nível histórico de dezembro do ano passado. Na quinta-feira passada, o patamar estava em US$ 208,823 bilhões, próximo ao registrado em 17 de dezembro de 2008, o maior nível da história, quando as reservas somaram US$ 209,224 bilhões.

Diálogo
O presidente do BC disse para a plateia de 300 lideranças políticas, empresariais e rurais de Goiás que quer aumentar o diálogo com a sociedade para ajudar a resolver a situação da economia. Na palestra sobre as perspectivas da economia e do agronegócio na Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás, o presidente do BC disse que “o importante é que o nosso diálogo seja intenso” para que os problemas econômicos possam ser solucionados. “As portas estão abertas no Banco Central em Brasília”, disse.

Deu como exemplo o pedido dos produtores agrícolas que queriam alterar os critérios de avaliação de risco de operações de crédito. Após a sugestão do setor, o Conselho Monetário Nacional (CMN) – do qual Meirelles faz parte – aprovou a medida que deu a possibilidade de quase 100 mil agricultores voltarem a tomar recursos no sistema financeiro.

Normalmente ligado apenas ao temas macroeconômicos, a palestra de Meirelles na capital goiana também tratou de assuntos ligados ao campo. Ele apresentou dados da evolução da arroba do boi gordo, da soja e do milho, importantes atividades econômicas de Goiás e explicou que o comportamento dessas commodities está diretamente ligado à demanda mundial.

Também destacou a evolução de indicadores econômico-sociais pouco comuns no dia-a-dia do BC. Lembrou que desde 2003 foram criados 7,5 milhões de empregos formais e que 30 milhões de pessoas cruzaram a linha de pobreza nesse período. Também exaltou que 20 milhões de brasileiros passaram a integrar a classe média e que esse grupo social já corresponde a mais de metade da população brasileira.

Ao encerrar a palestra, discorreu brevemente sobre logística. “O custo do transporte no Centro-Oeste é importante. Nesse aspecto, a ferrovia Norte-Sul é fundamental porque vai dar outra competitividade ao agronegócio”, disse ao lembrar de uma das principais obras do governo Lula na região.

Da Agencia Estado