Memória: Há 28 anos, Congresso derrotou política de arrocho da ditadura
Tropas militares se dirigem a São Bernardo para reprimir greve. Foto: Imagens da Luta
Com as galerias completamente lotadas por trabalhadores, o Congresso Nacional rejeitou no dia 21 de setembro de 1983 o decreto de arrocho salarial enviado pelo presidente João Figueiredo.
Desde que os militares haviam dado o golpe, em 1964, essa era a primeira vez que o Congresso não se submetia à ditadura.
A votação dos deputados e senadores refletia o descontentamento da sociedade com a política econômica de demissão e rebaixamento de salário, que o governo federal queria impor para cumprir acordo assinado em janeiro com o Fundo Monetário Internacional.
Para o FMI, o equilíbrio das contas do governo e o recebimento dos juros dos empréstimos estariam garantidos com pouco consumo, baixa produção e redução da inflação. E tome arrocho!
Já em fevereiro o governo havia baixado o decreto 2012, sumindo com parte da inflação no reajuste salarial.
A tensão aumenta e a população sai às ruas. Em São Paulo, desempregados promovem saques e depredações, no Rio lojas e supermercados são saqueados e no Nordeste os canavieiros entram em greve.
No Congresso, a oposição estava com maioria, pois em novembro havia conseguido a eleição de 244 deputados, enquanto o PDS, que dava apoio aos militares, tinha 235.
Para contar com a maioria, o governo negociou outro decreto, de número 2024, que garantia a inflação para salários até sete mínimos e impunha limites nos reajustes. Um outro decreto cortava direitos dos trabalhadores em estatais.
Em junho, os petroleiros de Paulínia e da Bahia entram em greve, e os metalúrgicos do ABC iniciam greve política em solidariedade. O governo intervém nos três sindicatos e destitui as diretorias.
No mês seguinte a comissão pró CUT chama greve geral e dois milhões de trabalhadores atendem ao chamado. A polícia reprime, prende 1.500 trabalhadores e afasta 100 sindicalistas.
É nesse clima que o Congresso rejeita o decreto 2024, impondo uma dura derrota à ditadura.
O governo ainda tenta garantir o arrocho com um novo decreto limitando a reposição integral da inflação para salários até três mínimos, mas os trabalhadores não estão dispostos a arcar com essa conta.
Em novembro, assim que os metalúrgicos recebem reposição de 50% para uma inflação de 62%, as máquinas são desligadas.
As greves pipocam em todas as empresas da base e se estendem por todo o País. O retorno ao trabalho fica condicionado ao reajuste integral pelo índice da inflação, derrubando o decreto na prática e desmoralizando a política econômica da ditadura.
Da Redação