Memória viva: a greve na Atlas Copco
“Gostaríamos de destacar a importância que teve este sindicato no elevado nível de consciência de classe de diversos trabalhadores que militaram durante anos na organização nos locais de trabalho. Uma experiência que nos marcou muito foi a luta dos trabalhadores na empresa Atlas Copco, multinacional sueca – que deixou a base em janeiro de 1995, onde a organização dos trabalhadores teve início em 1984 com a eleição de uma das primeiras comissões de fábrica em Diadema.
Era o ano de 1993, todo o país via o primeiro presidente eleito pelo voto popular, após anos de ditadura, ser destituído do cargo e em um momento muito delicado na conjuntura econômica nacional , quando, num rompante de autoritarismo, a direção da empresa interrompeu um processo de negociação e demitiu 90 trabalhadores arbitrariamente.
Era o dia 17 de setembro. Imediatamente, com o apoio do sindicato dos metalúrgicos do ABC, que na época era presidido pelo companheiro Vicentinho, foi deflagrada uma greve que durou 37 dias e que foi a primeira experiência de reversão de demissões no chamado “Novo Sindicalismo” do ABC. Os trabalhadores ocuparam as dependências da empresa e assumiram o seu controle para que nada fosse produzido e retirado do seu interior.
Vários meios de comunicação no país estamparam manchetes quase que diariamente sobre o movimento. O comando de greve aproveitou esse momento para fazer uma reflexão sobre o nosso papel como cidadãos, trazendo diversos companheiros para abordar vários temas em palestras e debates.
Atividades culturais foram desenvolvidas, como a festa para os filhos dos trabalhadores no dia das crianças; a Radio Peão, conduzida pelo pessoal da TVT com apresentações de trabalhadores e trabalhadoras da fábrica, culto ecumênico, exibição de filmes e jantares comunitários.
Fizemos assembléias nas portas de outras fábricas da região e montamos um fundo de greve com doações de toda a categoria, até dos trabalhadores que faziam a limpeza na fábrica.
Negociamos à exaustão. Foram mais de 50 reuniões. Fomos julgados e condenados pela Justiça do Trabalho, mas não esmorecemos, até que, ao final de 37 longos dias e duras noites de incerteza, as demissões foram revertidas. Todos saímos da greve mais maduros e conscientes de que nossa parcela de contribuição foi dada para a consolidação de um sindicalismo que se transforma, mas não perde a coragem de lutar em defesa dos interesses daqueles que o constroem: os trabalhadores e as trabalhadoras da categoria.
Parabéns, Metalúrgicos do ABC, pelos 50 anos de Luta.”.
Esta carta foi escrita pelos ex-trabalhadores na Atlas Copco em homenagem aos 50 anos do Sindicato:
Jerônimo de Almeida Neto
Nelson Hipólito da Silva
Noé Humberto Cazetta
Almiro Nunes
João Vicentini Neto
Afonso Fernandes da Silva
Mário Eugênio Adamo
Ademir Peres
Paulo Mário da Silva
Antonio dos Santos