Menos direitos e menos emprego
A cada medida de ataque aos direitos dos trabalhadores, mais falsas promessas do governo de geração de emprego.
O título escolhido para começar este segundo texto da série “Até quando vamos aguentar?” é uma constatação justamente contrária ao que bradava Jair Bolsonaro no início de seu governo, dizia ele que os trabalhadores deveriam escolher entre ter emprego ou direitos e que menos direitos geraria mais emprego.
Nós, trabalhadores e trabalhadoras, nunca nos deixamos enganar e sempre soubemos que isso era falácia para agradar o empresariado brasileiro à custa do suor da classe trabalhadora.
Esta série tem a intenção de resgatar alguns acontecimentos recentes que marcaram a trajetória do país pós-golpe e que atingiram duramente a população.
Voltando a questão inicial, antes da eleição de Bolsonaro, a reforma Trabalhista foi aprovada no ilegítimo governo Temer. A medida entrou em vigor em novembro de 2017. Naquela época, a promessa do governo e sua equipe econômica era de que com a mudança seriam gerados 2 milhões de empregos. Dois anos após a aprovação dela, de acordo com o Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), o saldo de vagas com carteira assinada era de 961 mil. Geração de emprego muito longe da registrada em 2010 e 2011, por exemplo, quando o país criava por ano mais de 2 milhões de vagas com carteira assinada sem precisar tirar direitos.
A reforma Trabalhista criou um cardápio de contratos de trabalho e empregos precários, liberando inclusive que o trabalhador receba abaixo de um salário mínimo por mês, oficializando o “bico” com o trabalho intermitente e a “pejotização”.
Ainda no governo Temer foi aprovada a lei de Terceirização irrestrita que, junto com a reforma Trabalhista, significam queimar a CLT.
Como estamos tratando de memória, é importante destacar que toda essa armação para cima do trabalhador só foi possível porque o governo, mesmo com baixa aprovação da sociedade, teve apoio dos empresários e da maioria do Congresso. Entre os parlamentares que votaram contra os direitos dos trabalhadores na aprovação da reforma Trabalhista estava o deputado federal Alex Manente, aqui do ABC, uma região industrializada, que historicamente gera empregos mais bem remunerados e de qualidade.
E claro, para que conseguissem aprovar essas leis, arquitetaram antes o golpe contra a presidenta Dilma, conforme comentado na edição de ontem. Os apoiadores do golpe receberam de presente a reforma Trabalhista.
O maior símbolo desse grande acordo foi o pato inflável gigante, colocado em frente à sede da Fiesp, uma das entidades financiadora do golpe e que representa os interesses do empresariado paulista. Pato esse que foi ridiculamente adorado por manifestantes que foram à Av. Paulista pedir a saída da presidenta.
Dado o golpe, aprovada a reforma, fake news circulando nos grupos de WhatsApp, Bolsonaro assumiu e também fez questão de marcar sua posição definitivamente contra o povo trabalhador anunciando o fim do Ministério do Trabalho nas primeiras horas do governo, no dia primeiro de janeiro de 2019. A pasta existia desde novembro de 1930, criada no governo de Getúlio Vargas.
O que para nós parece muito, para um governo de extrema direita ainda era pouco. O que faltava para reafirmar sua posição? Bater o martelo na aprovação da reforma da Previdência. Foi o que fizeram prejudicando a dificultando a aposentadoria de milhares de brasileiros (assunto que trataremos na edição de amanhã). Agora seguem querendo aprovar a Carteira Verde Amarela, que aprofunda a retirada de direitos que veio com a reforma Trabalhista. A cada medida, mais conto da carochinha de geração de emprego.
Nós, Metalúrgicos do ABC, lembramos que todos esses episódios foram combatidos com luta nas ruas, nas fábricas, tentativas várias de conscientização da população com panfletagem e conversas. Mas nada do que possamos argumentar é mais evidente que o próprio resultado de tudo isso.
O Brasil está caminhando para ser um país da precarização do trabalho, da informalidade e da uberização. O governo não tem proposta para o desenvolvimento da indústria e o país vê suas grandes companhias indo para o exterior. Estamos voltando a falar de trabalho escravo, de salários de fome e como consequência disso perdemos o respeito internacional e os investimentos estrangeiros, não há desenvolvimento, não há interesse em indústria nacional forte, só o aumento da pobreza e a falta de perspectivas da população.
Em meio a tudo isso cabe refazer a pergunta que sustenta essa série: Até quando vamos aguentar?