Menos trabalhadores optaram pela troca de emprego no ano passado
Mesmo com o nível aquecido do mercado de trabalho, menos pessoas trocaram de emprego no ano passado. Segundo dados da Pesquisa Mensal de Emprego (PME), do IBGE, a população ocupada com um ano ou mais de permanência na mesma função nas seis principais regiões metropolitanas do país aumentou 1,9% em 2013, enquanto o total de ocupados com menos de um ano no mesmo posto caiu 4%. Na média anual, a ocupação cresceu 0,7% no período, alta muito menor do que a observada em 2012, de 2,2%, e idêntica à de 2009, quando a geração de empregos foi afetada pela crise.
Cálculos com ajuste sazonal dos pesquisadores Rodrigo Leandro de Moura e Fernando de Holanda Barbosa Filho, do Instituto Brasileiro de Economia Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV), mostram que os trabalhadores com mais tempo no mesmo emprego continuam ganhando participação: representavam 82% do total da população ocupada em janeiro, contra 80,1% em igual mês de 2013. Na outra ponta, o percentual daqueles com menos de um ano na mesma colocação diminuiu de 19,8% para 18% na mesma comparação.
Para economistas consultados pelo Valor, o enfraquecimento na dinâmica de criação de vagas e a desaceleração dos ganhos reais de renda motivaram uma postura mais cautelosa dos trabalhadores, que preferiram permanecer em seus empregos. Há ainda, um esforço por parte das empresas em manter seus funcionários, já que, a despeito da perda de fôlego das contratações, a desocupação continua baixa, porque menos pessoas estão procurando trabalho.
Para Moura, os empregadores têm evitado fazer demissões devido à falta de mão de obra disponível, mas, por outro lado, a criação mais fraca de vagas diminui o poder de barganha do trabalhador, que prefere ficar em sua função atual do que se arriscar em novo emprego. Essa tendência, diz, é referendada pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho.
Segundo os dados do Caged também dessazonalizados pelo Ibre, a taxa de rotatividade da mão de obra formal no país ficou em 4,25% em janeiro. Isso significa que, naquele mês, 4,25% do total de postos de trabalho com carteira assinada trocaram de mão: um trabalhador foi demitido, ou pediu demissão, e outro foi contratado em seu lugar. No mesmo mês do ano passado, esse percentual era um pouco maior (4,38%).
A rotatividade menor pode ter resultados positivos para a produtividade, na avaliação de Moura: com a maior estabilidade dos empregados, aumentam as chances de a empresa investir mais nos seus funcionário. No entanto, pondera o pesquisador, as trocas menos frequentes de ocupação também podem ser vistas como um sinal de alerta. “Isso é consequência do fato de que o mercado de trabalho permanece apertado, mas, também, de uma menor geração de empregos e os rendimentos também terem passado a crescer menos”, disse.
Valdir, de 50 anos, que preferiu não ter seu sobrenome divulgado, tem já há algum tempo vontade de abrir seu próprio negócio, mas afirma que não vai sair, pelo menos este ano, da indústria de calçados onde trabalha como montador, em São Paulo. “Estou velho. A gente não pode ficar se aventurando”, afirma ele, que está há cerca de um ano e meio no mesma ocupação e só estudou até a terceira série do ensino fundamental.
Antes do emprego atual, Valdir ficou 14 anos em outra pequena fábrica do mesmo ramo, que acabou fechando. “Também tenho medo por causa disso. Quando comecei a trabalhar com calçados, havia mais de 300 fábricas em São Paulo. Hoje, se tiver dez, é muito.” O montador levou apenas dois dias para conseguir uma nova ocupação após a demissão, mas seu salário atual é metade do anterior. Mesmo assim, prefere ficar onde está.
Para João Saboia, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a elevada rotatividade da mão de obra é um aspecto negativo do mercado de trabalho brasileiro, porque impede que os funcionários criem um vínculo maior com os empregadores. Saboia não vê, porém, o aumento da estabilidade dos ocupados em 2013 como mudança estrutural de comportamento dos agentes econômicos. “O mercado ainda está aquecido, mas nitidamente passa por uma fase de esfriamento. Com isso, é natural que a rotatividade diminua, porque há menos novas oportunidades de emprego.”
Essa tendência deve continuar este ano, na avaliação de Fabio Romão, da LCA Consultores, já que, com a desaceleração prevista para a atividade, a criação de novas vagas terá crescimento ainda mais modesto. Romão lembra que, no ano passado, a taxa de desemprego foi de 5,4%, 0,1 ponto percentual menor do que a de 2012, apenas porque a força de trabalho avançou a um ritmo muito abaixo do padrão histórico e não pressionou o contingente de desempregados. O aumento de 0,7% da população ocupada, por outro lado, denota enfraquecimento dos fundamentos do emprego, diz o economista.
Moura, do Ibre-FGV, tem um cenário um pouco diferente para este ano, que será atípico. Segundo o pesquisador, a Copa deve trazer maior dinamismo à geração de empregos temporários, efeito que, mesmo passageiro, pode fazer com que o percentual de funcionários com menor tempo de permanência volte a crescer e, na média, a população ocupada avance um pouco mais do que em 2013. Mesmo assim, o economista avalia que a tendência de longo prazo do mercado de trabalho é de diminuição da rotatividade.
Do Valor Econômico