Mercado de trabalho aquecido faz brasileiro comer mais fora de casa
O aquecimento no mercado de trabalho no Brasil vem gerando um impacto não apenas nas contas bancárias da população, mas também na mesa de refeições.
Os brasileiros gastam hoje mais que o dobro do que gastavam há nove anos ao com alimentação fora de casa, de acordo com uma pesquisa inédita feita pela consultoria Data Popular.
Se essa despesa somava R$ 59,1 bilhões em 2002, dados deste ano mostram que ela subiu para R$ 121,4 bilhões.
O levantamento indicou ainda que esse salto foi impulsionado pela chamada nova classe média, que engloba a classe C. Dos 65,3% do total de brasileiros que costumam comer fora de seus domicílios, 54,6% são da classe C, seguidos de 26% das classes D/E e 19,4% do setor A/B.
Vale-refeição x refeitórios
“Um dos motivos para esse crescimento é a nova configuração da sociedade urbana”, afirma o sociólogo Fábio Mariano Borges, que é especialista em comportamento do consumidor e professor de Ciências do Consumo Aplicado da ESPM.
“O aumento no índice de emprego traz também uma mudança de estilo de vida que incluiu atividades fora de casa, seja o almoço na hora do trabalho ou o jantar fora por lazer. Você está melhorando de vida, por isso quer incluir hábitos que mostrem isso “
Fábio Mariano Borges, especialista em comportamento do consumidor
O crescimento desse costume aqueceu o setor de alimentação, gerando concorrência e melhorias em bares e restaurantes. E isso acaba fechando o ciclo, já que com preços menores e maior quantidade e qualidade na oferta, o número de clientes tende a aumentar.
Estima-se que hoje haja cerca de 680 mil estabelecimentos como restaurantes e lanchonetes no país – que recebem 85,2 milhões de clientes por ano, enquanto que há nove anos esse número não passava de 240 mil empresas desse tipo.
Esse cenário também foi se desenvolvendo porque o recente boom econômico se dá principalmente em empreendimentos de serviço, como explica Renato Meirelles, sócio-diretor da Data Popular.
“E nesse setor de serviços, onde geralmente há empresas menores, predomina a prática de dar vale-refeição aos funcionários e não de se fazer refeitórios como ocorria antigamente e ainda acontece, geralmente em indústrias”, afirma Meirelles.
Praça de alimentação
O cartão de vale-refeição faz parte do dia a dia do gerente operacional Landerson Leandro da Silva, de 33 anos, que almoça todos os dias no Shopping Paulista, ao lado do escritório de cobrança onde trabalha.
“Venho aqui quase todos os dias e gosto porque a gente sai um pouco do ambiente da empresa, dá uma volta do shopping, uma espairecida.”
Silva conta que o ticket alimentação que recebe é suficiente para pagar seu almoço. “Se não dá, é porque peguei mais comida do que deveria”, conta ele, acrescentando que costuma almoçar em restaurantes por quilo do shopping.
Para Borges, da ESPM, a praça de alimentação representa justamente um outro motivo para o crescimento das refeições fora de casa: a sociabilidade.
“É ali que a gente vê a alimentação entrando como lazer”, diz Borges.
Pela pesquisa do Data Popular, que foi realizada no segundo trimestre deste ano nos 26 estados, “lazer” foi a resposta mais dada pelos entrevistados de todas as classes sociais quando questionados por que vão jantar fora de casa.
Nas classes A e B esse percentual chega a 56,4% dos ouvidos, seguidos por 46% da classe C e 42,9% das classes D e E.
“Na esteira do maior nível de emprego, agora há a possibilidade de se passear no shopping, não comprar nada nas lojas, mas comer algo na praça de alimentação antes de voltar pra casa”, afirma Borges.
Da BBC Brasil