Mercado interno puxa recuperação da indústria no ano
Entre os nove segmentos que apresentam crescimento na produção em relação a setembro de 2008, oito são dependentes das vendas para o mercado interno
Os setores industriais que produzem para o mercado interno foram os que registraram maior capacidade de recuperação desde o baque causado pela crise internacional. Entre os nove segmentos que apresentam crescimento na produção em relação a setembro de 2008, oito são dependentes das vendas para o mercado interno. O maior crescimento no período, segundo dados da Pesquisa Industrial Mensal, divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), foi o da produção de bebidas, que avançou 11,3%.
“O mercado interno foi determinante na recuperação em 2009, sustentado principalmente por uma massa salarial que se manteve, por um mercado de trabalho que sofreu, mas se recuperou rapidamente, e por uma oferta de crédito maior”, explicou Isabella Nunes, gerente de análises e estatísticas derivadas do IBGE, lembrando que desde dezembro a produção industrial subiu 19,5%.
Além de bebidas, houve produção maior em relação a setembro do ano passado nos setores de perfumaria (9%), outros produtos químicos (3,2%), farmacêutico (2,2%), celulose e papel (1,6%), diversos (1%), alimentos (0,9%), mobiliário (0,8%) e outros equipamentos de transporte (0,1%). “O único setor que foge um pouco dessa lógica (ligação com o mercado interno) é o de outros equipamentos de transporte, basicamente a produção de aviões”, disse Isabella.
No geral, a maior parte dos setores registra queda da produção a partir de setembro do ano passado. Na média, a indústria recuou 5,7% no período. O segmento de bens duráveis, por exemplo, recuou 0,6%, apesar do crescimento de 93,2% desde janeiro. Dentro deste grupo, os veículos avançaram 107,1% no ano, mas a produção permanece 7% abaixo de setembro do ano passado.
Na comparação entre os meses de outubro e setembro deste ano, com ajuste sazonal, o desempenho da produção industrial indica que a recuperação prossegue. O crescimento, de 2,2%, foi puxado pelo setor de bens de capital, que avançou 5,9%, apontando para a retomada dos investimentos no setor, uma vez que em setembro já havia ocorrido aumento de 5% em relação a agosto. “Outubro confirma uma recuperação espalhada por todos os setores e categorias, com destaque especial para bens de capital, o que mostra um crescimento de qualidade, na medida em que aumenta a capacidade produtiva, o que é sempre favorável à produção”, diz Isabella.
A pesquisa do IBGE aponta ainda forte influência dos incentivos dados pelo governo para combater os efeitos da crise internacional. Isabella ressalta que, entre os bens de capital, os segmentos com melhor resultado foram os de materiais para transporte, energia elétrica e construção civil, que se beneficiaram de desonerações fiscais ou condições especiais de crédito. “A alta de duráveis ratifica a política anticíclica que tivemos até agora”, avalia Isabella. “Sem dúvida, as políticas tiveram impacto positivo sobre a indústria.”
Apesar do bom resultado de outubro, a produção industrial ainda amarga queda de 10,7% no acumulado do ano. Isabella pondera que este recuo já mostra uma desaceleração frente ao acumulado negativo de 11,6% até setembro. A economista chama a atenção também para o desempenho dos bens de consumo duráveis, segmento que registrou alta de 5,9% frente a setembro, impulsionado pela produção de automóveis. Já bens de consumo semiduráveis e não duráveis cresceram 1,3%, e os bens intermediários, estimulados pelo açúcar, avançaram 1,2%.
Do Valor Econômico