Mercedes retoma diálogo com Sindicato após ato e paralisações contra demissões
“E pro Brasil avançar,
Emprego tem que criar.
E se o povo se unir,
As demissões vão cair, vão cair, vão cair”.
Levante Popular. Fotos: Adonis Guerra
Foi ao som deste grito de guerra do Levante Popular que os 244 trabalhadores demitidos pela Mercedes, em São Bernardo, e suas famílias se reuniram em ato de protesto na portaria da empresa na manhã desta sexta-feira, dia 9.
Os companheiros receberam a solidariedade dos metalúrgicos na área de caminhões, nos setores de cabine, montagem final, pintura, estamparia, revisão, funilaria e logística, que interromperam suas atividades para participar da manifestação.
Após o ato, representantes da Mercedes chamaram o Sindicato para retomar as negociações, que estavam interrompidas desde que a montadora decidiu unilateralmente não estender a suspensão temporária de contrato – o layoff – até 30 de abril para os 244 trabalhadores.
A retomada do diálogo acontece na tarde desta sexta-feira, às 14h30 e todos os demitidos estão convocados para estar amanhã, dia 10, às 14 horas, na Sede para terem informações sobre as negociações com a empresa.
“Precisamos neste momento resgatar os valores sociais que estão ameaçados pela Mercedes”, disse o coordenador geral do CSE na Mercedes, Angelo Maximo de Oliveira Pinho, o Max, durante a manifestação.
Coordenador geral do CSE na Mercedes, Max Pinho
“Todos os companheiros que perderam o emprego têm famílias e o impacto das demissões sobre elas é muito grande”, completou Max.
A demissão tem impacto tão forte que Antonio Roberto Milani, de 38 anos e 17 anos na Mercedes, comunicou apenas ontem à sua família que estava entre os demitidos.
“Meu pai é cardíaco e não queria dar essa notícia na véspera do Natal”, disse.
Antonio Roberto Milani e os filhos Ana Clara e Rafael
Milani afirmou estar confiante na luta dos trabalhadores e do Sindicato para que o rompimento do acordo seja revertido.
“Já passei por situações como essa, mas sempre fomos vitoriosos”, relembrou o companheiro, que tem dois filhos, Ana Clara, de 4 anos e Rafael, de 2 anos.
A mesma esperança é compartilhada por Darlene Burgo, de 44 anos e há 10 na empresa. Ela conta que quando ficou sabendo que não renovaria o layoff e que seria demitida ficou indignada. “Fiquei sem chão”, relatou.
Darlene Burgo e o filho Ravi, de 5 anos
A montadora de motores estava com o filho de 5 anos, Ravi, no ato desta manhã. “É ele que me dá forças para continuar. Quero dar um futuro para Ravi”, afirmou.
Para o diretor Administrativo do Sindicato, Moisés Selerges, os Metalúrgicos do ABC não são contra a reestruturação da fábrica para que ela se torne mais competitiva.
Diretor Administrativo do Sindicato, Moisés Selerges
“O que não podemos aceitar é que o trabalhador pague o preço por essa competitividade que a Mercedes está buscando”, criticou o diretor.
Segundo o vice-presidente do Sindicato, Aroaldo Oliveira da Silva, além da luta dos trabalhadores na Mercedes – que aprovaram a solidariedade aos demitidos na segunda-feira, dia 5; paralisação de 24 horas na quarta-feira, dia 7; e realizaram o ato de hoje –, o Sindicato também cobra o governo federal por medidas de proteção ao emprego e estímulo ao setor de caminhões.
“Temos na pauta a criação do Sistema de Proteção ao Emprego, para evitar que acontece o que estamos vivendo hoje e a implantação do Programa de Renovação da Frota de Caminhões”, explicou Aroaldo.
Vice-presidente do Sindicato, Aroaldo Oliveira da Silva e o pequeno Ravi
“A proteção ao emprego garante que nas oscilações de mercado, que são frequentes no setor, o trabalhador não seja atingido no seu bem mais precioso, que é o emprego”, defendeu Aroaldo.
“O Programa de Renovação da Frota estimula o mercado de caminhões e retira das ruas veículos mais poluentes e que se envolvem mais em acidentes pelas estatísticas”, concluiu.