Metalúrgicas debatem sobrecarga das mulheres na pandemia
Na semana que antecede o Dia Internacional da Mulher, a Tribuna traz diariamente matérias sobre a situação das trabalhadoras no país
A pandemia aumentou as desigualdades no Brasil e escancarou as persistentes diferenças entre homens e mulheres tanto no mercado de trabalho como nos afazeres domésticos. Nesta primeira semana do mês das mulheres, a Tribuna levanta esses temas ainda tão presentes e necessários de serem debatidos para direcionar a lutas.
Reunidas em plenária virtual no último dia 27, as dirigentes da CNM/CUT (Confederação Nacional dos Metalúrgicos da CUT) debateram esses assuntos e definiram prioridades contra as desigualdades.
O debate destacou que sempre são elas as mais impactadas com o desemprego, desigualdades, retirada de direitos e são as mais demitidas e ganham menos, apesar de serem mais estudadas. A concentração da responsabilidade das tarefas domésticas e do cuidado também foi apontado, o que tem piorado em tempos de pandemia.
O mote da conversa foi “o tempo das mulheres não cabe no relógio do capital”, título do artigo publicado no Brasil de Fato, escrito pela engenheira agrônoma, mestre pelo Programa de Estudos da Integração Latino-Americana (PROLAM-USP), integrante da equipe Sempreviva Organização Feminista (SOF) e militante da Marcha Mundial das Mulheres (MMM), Miriam Nobre.
No artigo, baseado no texto “O tempo de nossas vidas: reflexões sobre trabalho e temporalidade”, do historiador canadense Bryan Palmer, ela destaca que os avanços tecnológicos da digitalização significaram um maior controle sobre as horas e a demanda pela disponibilidade total do tempo das trabalhadoras e trabalhadores. Entre os temas abordados, está a redução de jornada de trabalho sem prejuízos financeiros e sociais e o direito ao tempo, como prioridades para uma vida ou um trabalho mais saudável
“O capital diminuiu o tempo livre a gente chega assim nesta crise sanitária. Não é possível que a gente precise trabalhar 44 horas semanais com tanta tecnologia, temos que usá-la a nosso favor. Tem que se diminuir esta extração de tempo do capital e construir mais tempos livres e de alegria”, aponta o texto.
Desafios e conquistas
A integrante do Coletivo das Metalúrgicas do ABC e membro do Conselho Fiscal da CNM/ CUT, a CSE na Mercedes Cristina Aparecida Neves, a Cris, que participou do debate, destacou que atividades como essa são importantes para definir os rumos e discutir situações que precisam sem mudadas.
“Vamos sempre discutir a importância de aumentar as contratações de mulheres na categoria metalúrgica e também a quantidade de dirigentes. Precisamos lutar pela divisão maior de tarefas, por direito a tempo livre, mas também precisamos ocupar espaços e justamente por isso, precisamos de tempo para nos dedicar às lutas”.
A dirigente lembrou ainda que apesar das muitas desigualdades ainda existentes, as mulheres precisam se lembrar que foi por meio dessas discussões que muitas conquistas foram alcançadas.
“Fizemos grandes lutas e por conta delas conseguimos aprovar o auxílio creche, licença maternidade de 180 dias, ampliar a participação na direção. Estaremos sempre atentas às questões no mundo do trabalho e também fora dele para melhorar a vida das companheiras”.