Metalúrgicas querem fim do preconceito

Apesar da tecnologia ter tornado mais leve o processo de trabalho, há 30 anos mulheres representam apenas 14% da categoria


Metalúrgicas aprovam resoluções do encontro. Fotos: Raquel Camargo / SMABC

Mais de 400 companheiras lotaram o auditório do Sindicato para debater a participação da mulher na conquista de melhores condições de trabalho, durante o 2º Encontro das Metalúrgicas do ABC, realizado na última sexta-feira, dia 13.

Na abertura, o presidente Sérgio Nobre disse que, apesar da tecnologia ter tornado mais leve o processo de trabalho nas empresas, as mulheres continuam representando apenas 14% da categoria, desde o 1º Congresso das Metalúrgicas do ABC, realizado há mais de 30 anos.

“Naquele tempo o trabalho era bruto, o que poderia explicar a ausência das mulheres. Hoje, nada mais justifica isso. É preconceito mesmo”, afirmou.

Sérgio Nobre protestou contra a pouca participação de mulheres em cargos de chefia e de negras nestas funções e também cobrou a adequação das fábricas para a contratação de mulheres, com vestiários e banheiros femininos, por exemplo.

“Eu raramente encontro uma mulher nas direções das empresas e nunca vi uma negra ocupar esse espaço”, falou, indignado, e continuou.

“Temos que trabalhar para que todos tenham oportunidades iguais de trabalho, homens, mulheres, negros e negras, só assim conquistaremos o desenvolvimento do Brasil, com uma sociedade justa e igualitária”, concluiu o presidente do Sindicato.

Durante o encontro, as companheiras formularam e aprovaram propostas para a área de saúde e estratégias para ampliar a presença feminina nas fábricas. 


Sérgio Nobre discursa no encontro

Conheça alguns pontos da resolução do 2º Encontro das Metalúrgicas do ABC

Condições de trabalho e saúde
– Estimular a participação das trabalhadoras em espaços de representação vinculados ao sindicato e na CIPA, com integração dos membros da CIPA e dos representantes sindicais.
– Definir um plano para ampliação das mulheres em CIPAs.
– Realizar seminários, palestras e encontros sobre a saúde da mulher e da família, como forma de disseminar o conhecimento.
– Elaborar campanha de prevenção de doenças do trabalho.
– Ampliar a atenção dos representantes aos postos de trabalho com maior incidência de acidentes e lesões e para as demandas das trabalhadoras no local de trabalho.

Ascensão da mulher
– Desconstruir o preconceito da cultura machista.
– Contratação de mulheres como pauta permanente das negociações coletivas, principalmente em empresas com Comitê Sindical de Empresa (CSE).
– Realizar seminários com RHs de empresas para efetivar a qualificação/formação das mulheres.
– Mapear as funções/ocupações que estão em ascensão nas empresas para direcionar a qualificação/formação das mulheres.
– Lutar contra a discriminação racial para garantir as(os) trabalhadoras(os) negras(os) o acesso a cargos de chefia/supervisão.


Ministra Eleonora fala durante o encontro

Ministra se emociona no 2º Encontro
A ministra de Políticas para Mulheres da Presidência da República, Eleonora Menicucci de Oliveira, se emocionou durante sua palestra no 2º Encontro das Metalúrgicas do ABC, por voltar à Sede depois de seis anos.

Na época, ela esteve no Sindicato para realizar sua pesquisa sobre reestruturação produtiva e saúde no setor metalúrgico e lembrou que o papel das companheiras foi fundamental para o sucesso do estudo.

Em sua palestra, a ministra Eleonora disse que os maiores problemas das mulheres ainda são a dupla jornada de trabalho e a desigualdade de salários, cerca de 30% a menos que os dos homens.

Os dois temas também fizeram parte das oficinas ministradas pela diretora de Gestão e da Regulação do Trabalho em Saúde do Ministério da Saúde, Denise Motta, e da chefa de Gabinete da ex-prefeita Marta Suplicy, Mônica Valente.


Participantes do encontro

Legas volta a contratar mulheres após mais de 15 anos
Seis metalúrgicas começaram a trabalhar na Legas Metal, em Diadema, na última sexta-feira, depois de um trabalho de convencimento feito por Valderez Dias Amorim, o Serginho Groisman, membro do Comitê Sindical de Empresa (CSE) junto ao RH da empresa.

“Fazia mais de 15 anos que não tinha mulher no chão de fábrica. A direção me perguntava onde eu ia colocar mulher pra trabalhar e eu respondia – ‘pode ser até no seu lugar se você vacilar’”, brincou o representante, ao contar sobre as contratações durante o 2º Encontro das Metalúrgicas do ABC.

Na avaliação da coordenadora da Comissão das Metalúrgicas do ABC do Sindicato, Ana Nice Martins de Carvalho, o Encontro superou as expectativas.

“A participação das mulheres em um encontro que durou um dia  inteiro foi surpreendente e a conscientização dos companheiros de que é preciso modificar a realidade e acabar com o preconceito também”, disse.

As metalúrgicas que estiveram no 2º Encontro foram eleitas delegadas natas para o 3º Congresso das Metalúrgicas do ABC, que acontece no ano que vem.  

Da Redação